Alicerce

Desde antes de tentar alguma coisa com L, P já suspeitava esse término. Ela sabia que iria magoar L. Não que ela quisesse, ou que planejasse magoar o coração dele, mas ela já tinha ideia disso tudo.

P era elegante, dizia o que pensava, queria ter o mundo. Ela gostava do mar. Canceriana. Superintuitiva, dessas que captam de longe as intenções das pessoas, e talvez por isso ela era tão desconfiada. Intensa. Carinhosa e um tanto que ciumenta. L era tranquilo. No fundo, ele era amoroso para com ela, dedicado, super fiel e um pouco carente. Escorpiano e um tanto que indeciso, além de bastante inteligente.

Eles se conhecerem há uns anos, eram amigos. Acho que eram melhores amigos. L sabia de todas as emoções que P sentia, sabia da intensidade que ela tinha, a maneira dela lidar com tudo. P sabia o que dizer para acalmá-lo, e sempre queria ter L por perto. O maior medo de P era magoar de alguma forma L e talvez por isso tenha demorado tanto para se entregar ao sentimento que os unia.

Eles conversavam sobre tudo. Falavam aos sete mares os seus amores. Falavam sobre seus planos. Falavam sobre seus medos, suas paixões, suas emoções. Deixavam lágrimas aparecerem quando estavam juntos. Eles eram amigos. Melhores. Não sei o porquê, mas tive que repetir que eles eram amigos, aliás essas relações, que começam em amizade parecem que não podem dar errado...

Um era um tipo de alicerce do outro, um porto seguro, um ponto de paz, uma fuga da realidade.

Agora, cada um estava há quilômetros de distância do outro, porém se mantinham juntos, das maneiras que podiam. Seja pela internet, telefone ou pensamento. Eles não podiam se separar. E com essa distância perceberam que realmente queriam ficar juntos, ao menos L percebeu. P tinha a mania de achar que amores a distância não davam certo. Muitas vezes P se dizia realista, mas P era uma chata e, claro medrosa.

O medo de perder a amizade era maior que a vontade de tentar algo. Talvez perdesse o amor da sua vida. Mas, pelo menos não perderia um amigo. Não perderia um alguém que tanto preza e ama, só perderia se a vida o arrancasse dela.

Um dia qualquer, de um ano qualquer, num lugar inesperado, L pediu P em namoro. Sem qualquer medo. Sem vontade nenhuma de tentar qualquer outra coisa com qualquer outra pessoa. L queria estar somente com P. Eles era apenas amigos, não havia se quer um beijo ocorrido antes disso, mas o sentimento já era notório para ambos. P de ínicio pensou em recusar, mas como dizer não para aqueles pequenos olhos, que a olhavam fixamente. Aquela mão trêmula que ela segurava. Ela não disse sim, mas também não disse não. P apenas depositou um beijo na mão trêmula de L. Com adrenalina ainda há mil, L abraçou-a. Um beijo nasceu por conveniência.

Eu poderia dizer que foi um beijo cinematográfico, ou que um deles sentiu que tivesse beijando um irmão, mas de fato isso não aconteceu. O destino deles, eles construíam. E nesse momento, o destino deles era o de ficarem juntos. Eu poderia terminar esse texto agora, deixar ele vago, e dizer que P estava errada e eles haviam ficado juntos para sempre. Mas seria incorreto, e injusto com minhas personagem.

A distância mantinha aquecido o amor deles, quando começaram a se ver todos os dias P começou com uma onda de possessividade, necessidade, ciúmes. P se tornou controladora. E por mim, acho que seria melhor terminar.

Na tarde seguinte, depois de chegarem em casa, de um dia hiper cansativo. P convidou-o para irem a praia e tomarem uma água de coco. Foram. Lá estavam com aquela vista maravilhosa, com aqueles casais felizes, com aquelas crianças vivendo.

Não haviam alianças. Haviam ancoras tatuadas nos dedos, que em ambos seriam eternas, assim como eles seriam eternamente amigos. Um estaria eternamente com nos pensamentos do outro. Só não estariam mais juntos. P terminou tudo, com uma só palavra. Adeus.

Júlia Farolfi
Enviado por Júlia Farolfi em 22/09/2013
Código do texto: T4493597
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