E SE? (4ª e última parte)


Pedro passou os olhos pelos e-mails recebidos e reparou logo num, oriundo da Holanda. Era dela. Enviara-lhe o seu endereço eletrónico na sequência da carta que escrevera. Uma rápida leitura, seguida de uma segunda, desta vez mais calma e pausada, permitiu compreender que Katherine exprimia algum pesar pelo seu desencontro de alguns dias atrás. Ele reprimiu-se a si próprio pela precipitação. Que estúpido fora, gastara bastante dinheiro sem proveito algum, já que nem sequer lhe falara. Continuando a leitura, ela referia que gostaria de visitar Lisboa e adoraria se ele lhe servisse de cicerone. Ele entendeu esse pedido como um convite para se encontrarem e o coração acelerou, a adrenalina quase lhe tirando a respiração. Ela concluiu a missiva mencionando que se ele concordasse, lhe enviasse logo resposta para ela marcar voo. Ele escreveu quase de seguida, disponibilizando-se para lhe mostrar a cidade e dizendo não haver necessidade de gastar dinheiro em hotel pois ele tinha um quarto extra na sua casa. Pretendia ser discreto e respeitador.
Após ela ter confirmado a viagem, marcada para a semana seguinte, ele ficou a pensar em possíveis roteiros para lhe dar a conhecer os pontos mais interessantes da capital e arredores.
Contava ansioso os dias, depois as horas e finalmente, no dia da chegada, os minutos, olhando para o painel informativo na gigantesca aerogare da Portela. Tinha tirado uma semana de férias e embora fosse uma decisão arriscada, pois negara um projeto importante só para estar com ela, não acreditava que se fosse arrepender.
Por fim ela surgiu na rampa de saída e ele ficou a olhar a sua aproximação, embaraçado, não sabia como deveria cumprimentá-la. A primeira coisa em que reparou foi que tinha pintado o cabelo de castanho caju. Estava divinal, ainda mais encantadora, vestida de jeans e camisa branca, de manga comprida. Então, como num sonho, sentiu-se abraçado, aquele corpo jovem ficou muito perto do seu, os lábios dela afloraram o seu rosto, o cabelo macio cortado curto como sempre, um maravilhoso aroma, uma agradável frescura e o seu coração quase que explodiu. Ela também tinha as faces um pouco coradas e por momentos sentira os seus seios encostados ao peito, o coração também cavalgando.
Separaram-se e ela então cumprimentou-o num inglês correto, com ligeiro sotaque, já o conhecia.
- Como estás, Peter?
- Bem e tu, Katherine?
- Vim ansiosa por conhecer a tua terra. Devorei mapas e também o American Express. Penso que já tenho algumas ideias em teoria, mas tu vais-me mostrar tudo, não vais?
- Claro que sim, Katherine!
- Podes chamar-me de Kay, é mais íntimo.
Ele sorriu, feliz por esta familiaridade. Continuaram a conversar enquanto se dirigiram para o parque de estacionamento onde tinha o carro.
Então perguntou-lhe se não seria melhor que passassem por casa dele para deixar a mala de viagem, ela concordou. Aproveitou para lhe mostrar a casa, mobilada com simplicidade, casa de solteiro, disse, ao que Kay gargalhou como uma menina travessa...
Foram à varanda, ela deliciou-se com a vista, sempre adorara sítios altos mas na Holanda era tudo planinho.
Foram almoçar a Cascais, num sítio chique, ela percebeu que Pedro a queria impressionar.
Depois caminharam junto à praia, ela deu-lhe o braço e percorreram as ruas vizinhas, absortos nos seus próprios pensamentos. Ele olhava-a com intensidade, ela sorriu-lhe, agradada por estar assim junto dele e então, numa esquina mais discreta, tomou-he o rosto nas mãos e beijou-o suavemente, soltando-se logo. Pedro, por sua vez, num impulso irresistível, beijou-a demoradamente, até ficarem sem folego. Separaram-se, afogueados.
Disfarçando o embaraço, regressaram ao carro e dirigiram-se pela estrada marginal, que abraça o mar ao longo da costa, até virarem pelo IC 17, depois seguiram para o Campo Grande, a zona centro da cidade. Já era quase hora de jantar.
- Estás cansada, querida?
- Sim, um pouco, agora sabia-me bem um duche.
- Então vamos até "ma maison", tu tomas banho, descansas e depois poderemos ir jantar e  ir a uma discoteca, de acordo com a tua disposição. Queres?
- Está bem, querido - e sorriu do francesismo dele. Estava tão feliz que parecia um adolescente.
Ele retomou a marcha até casa.
Ali chegados, ela tomou um duche rápido e depois entrou no quarto ao encontro dele, o cabelo molhado, enrolada numa toalha felpuda. Pedro olhou-a, maravilhado. Era como que uma aparição fantástica. Gostava tanto daquela mulher quase sem a conhecer... A química fora imediata, situação inédita no seu passado.
Ela aproximou-se da cama onde ele estava meio recostado e sorriu-lhe. Peter sentiu de novo aquele odor inebriante, pegou-lhe na mão e olhando-a disse:
- És a mais linda visão que eu alguma vez tive em toda a minha vida.
- Querido... Eu também gosto muito, muito de ti, senão não estaria aqui... - E dizendo isto, deixou cair a toalha, ficando nua à frente dele.
Pedro como que perdeu o tino, puxou-a para a cama e os seus lábios percorreram-lhe o corpo, beijando-a. Como a desejava...
Uma hora mais tarde, ele nem se lembrava como se tinha livrado da roupa e jazia agora na cama, com aquela mulher maravilhosa ao seu lado, a perna dela sobre as suas coxas, o braço repousando sobre o seu peito, rostos encostados.
- Vamos tomar banho?
- Sim, é tempo disso.
Entraram na casa de banho e a proximidade dos dois corpos nus transformaram o duche numa nova e escaldante sessão de amor.
Enquanto se vestia, ela posicionada do outro lado da cama senão ficariam o resto do tempo no quarto, pensou no futuro... De uma coisa tinha a certeza: por nada deste mundo a queria perder! O que mais desejava era estar junto dela, sempre e para sempre, a filha dela seria também dele. Arranjariam um jeito de estar juntos. Ela estava a acabar o mestrado em História de Arte, aprenderia português e ele arranjaria colocação para ela num museu ou em qualquer organismo público em lugar compatível. E se não pudesse ser assim, iria ele para a Holanda, arranjaria emprego lá. Sentia-se quase da idade dela. Os catorze anos de diferença reduziram-se de repente a apenas dois ou três! Rejuvenescera! Amava-a, ela tornara-se o seu oxigénio. O futuro seria o que Deus quisesse, desde que pudessem ficar juntos.
Mas agora, no imediato, iriam jantar.
Voltou a beijá-la antes de saírem para o patamar, abraçados e muito apaixonados!
- Adoro-te!
Ela riu feliz e dirigiram-se ao elevador para descer.


 
FIM