UM AMOR DE DOIS VERÕES

Ele foi à esquina costumeira para fugir do Fantástico e ver se pintava algum amigo para bater papo, e nem imaginava o que iria lhe acontecer e que influenciaria toda a sua vida.

Ficou ali sentado no muro até umas dez horas, mas ninguém chegando ele se esgueirou do muro para ir embora e quando atravessava a rua uma mina da casa em frente perguntou se ele não queria fazer companhia para ela e uma amiga que estavam festejando o aniversário de outra que estava acompanhada.

A aniversariante e o companheiro ficaram separados e ele com as duas ficaram conversando e tomando umas Cubas e beliscando uns salgadinhos na sala contígua, o papo rolou bem.

Elas estavam morando a pouco ali e era novidade que chamava atenção, pois naquela época mulheres morarem sozinhas era uma raridade.

Ele tinha sorte com as mulheres, mas sempre se engraçava pelas erradas e o sexo naqueles anos setenta ainda era tabu e ainda não predominava na cabeça dele, como seria nos dias de hoje, mas os tempos eram outros e muito, mas muito melhores do que os dias de hoje, onde há muito sexo, mas pouca afetividade, surgindo dai muita solidão.

Mas voltando no final ficou o convite para ir visitá-las durante a semana, quando quisesse.

Ele foi uma, duas, três vezes e viu que a coisa não era tão simples por ali e que a mina que o tinha convidado tinha um caso complicado e após uma briga com este ela voltou para a sua cidade e ficaram só duas.

Mas ele continuou a ir lá, pois tinha a outra com quem ficavam conversando, escutando música e tomando umas biritas.

O que ele não esperava é que a aniversariante, que era a mais bonitona e bem mais reservada, chegou um dia mais cedo e ficou do seu canto escutando a conversa daquele piá de quinze anos e resolveu se chegar no outro dia.

E na saída a companheira de Cuba pediu para ele convidar um amigo dele, que ela sempre via passar, para vir junto no dia seguinte se quisesse. 

E ai nesse dia ele ficou com a bonitona e rolou um clima, uma dança, e a coisa se acalorou, tipico daqueles anos.

Ele se deu bem com a aniversariante e terminaram ficando juntos. O amigo já tinha ido embora, mas para ele a noite durou mais, mas o final, ou o inicio,  ficou para um dos dias seguinte e a paixão rolou.

Ela deixou tudo preparado e depois das danças e novos amassos ela o convidou para ira para o quarto e foi tudo muito bom com direito a luz de vela que ela já tinha preparado.

E o cara da noite de aniversário? "Era só um amigo muito solitário e por quem ela tinha muito estima e gostavam muito de ir a cinemas".

Bom, para ele tudo bem, mas por um tempo começou a achar que era verdade, pois o cara nunca entrava, só a trazia de vez em quando e nunca muito tarde, mas enquanto ela não chegava ele ficava conversando com a outra que já tinha dispensado o seu amigo.

E os dois amantes se afinaram muito bem com direito a almoço nos domingos e até passeios na região de mãos dadas para a inveja da rapaziada e os olhares das meninas, mas eles estavam na deles e não ligavam para nada em redor.

E o lance rolou por muito tempo, apesar de às vezes, ele ter que se esconder no sótão quando o cara entrava, mas isto era raro.

O coroa bigodudo e meio manco devia ter uns quarenta anos, ela tinha vinte e três, uma idade já avançada para o inicio daqueles anos setenta, então tinha ali um triangulo amoroso com três faixas etárias.

Quando o cara chegava sempre dava uma buzinada até que um dia, em um domingo à tarde, totalmente fora do padrão,  ele não buzinou, e se chegando á janela da sala, que estava entreaberta, o viu conversando afetuosamente com ela no quarto

Ele voltou ao carro e deu a buzinada e ela saiu e ele, que nesta altura já estava com mais de 16 anos, foi para a cozinha, mas ela voltou logo dizendo que o fulano os tinha visto e que era melhor ele ir embora, mas nem deu tempo, pois o cara já estava do lado dele dizendo “que só não o matava porque ele era um piá” e ele peitudo de pronto respondeu “que ela não achava”, mas sabia que tinha perdido o que tinha sido o seu primeiro relacionamento.

O clima pesou, mas ele não arredou, mas ela o convenceu que era melhor ele ir e ele foi pela porta dos fundos, mas ficou na cerca espreitando alguma alteração, que não houve, e o seu sangue esfriando, caiu a ficha do perigo e ele vazou.

Foi para o outro lado da rua onde encontrou o amigo e falou “o cara nos pegou” e este, que era mais velho que ele, disse para ele se mandar, pois a coisa poderia ficar feia e ele foi e ficou lá em cima do morro da rua transversal até ver o carro conhecido rondando em sua busca e deu no pé.

O romance melou e ele não conseguiu mais ter acesso a ela, mas ficava na esquina esperando e o via  traze-la, agora sempre tarde da noite, e ele não podia mais se chegar, pois ela se trancava, até que dias depois eles não voltaram mais, nem ela, nem a amiga, nem mais ninguém, e ele viu a noite se escurecer na vida dele.

“Amanhã talvez” era a música que ela gostava de dançar com ele e muito tempo depois ele assistiu a um filme "Houve uma vez um Verão" e ele viu que a música era a trilha sonora do filme, e o enredo era o de uma mulher madura que num verão teve um amor com um adolescente.  

Ela tinha trazido para a vida aquilo que tinha visto no cinema e deixou, depois, a vida dele feito um filme preto e branco

 
"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo." Roselis von Sass –
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