Quartas-feiras

Sinto alguns ossos cometerem um crime próprio. Levanto. Vou ao banheiro. Deito para manter a preguiça. Ele está lá fora, longe do perigo. Não espero que volte. Sempre o deixo para baixo. Ele se sente triste comigo. Lá fora, ele mexe na grama, brinca com o sol, com as árvores, com o vento. Comigo senti-se aprisionado num quarto escuro, coberto por um coberto sujo com comida velha. O tempo espalhado pelo chão. Eu sei que devo deixá-lo de forma boa.

Ele não sabe que eu derreto com a noite, desapareço. Desço as escadas. Tem plantas na sala. Eu devo deixá-lo triste, para seu próprio bem. Não me visto. Permaneço boa, suja. Não há preocupações por ele não me procurar. Em alguns minutos ele irá abrir a porta e dizer que precisa ir. Tem medo de que eu não fique. Preciso cobrir os fatos. Não sinto fome. Não preparo nada. Circulo o dedo sobre o balcão. Só há a falta de tempo. Ele não existe. Nada a se fazer. Nós nunca mais dormiremos tarde. Nunca mais comentaremos sobre as séries de tevê. Eu devo rir um pouco. Nunca vou aprender a cozinha. Não posso ser boa para ele. Não sou adepta as questões sensíveis como ele. Nunca vou voltar para você. Nunca iremos tomar banho juntos. E eu vou te deixar trancado do lado de fora, para seus próprio bem.

Talvez você devesse comprar uma torta. Nós vamos comemorar esse desperdício de tempo. Você precisa construir uma nova história nesse final de semana. Não haverá alcoólatras assistindo o jogo de domingo no meu sofá. Não vou queimar outro almoço. Não vou levar o cachorro para passear. Eu nunca mais vou voltar para você. Preciso me manifestar sobre isso, mas você não entra. Sabe que eu estou escutando o som da separação. Encontro pequenos pontos necessários de boa fé. Vou ser gentil, eu prometo. Eu estou esperando pelo meu sono,mas não vou pagar para você continuar aqui. Parte de você deverá se revoltar, não vou escrever outra oração. Você decidiu por um prazo necessário. A sala está maior, porque me desfiz de parte da história. É difícil ser adolescente aos vinte e um anos. Eu prometo me dedicar aos planos frustrados. Mas você precisa ir.

Ouço a porta mexer. Você entra. Estou pronta para gargalhar. Outra vez você não entenderia. Desde nova eu sempre pensei que fosse por nervoso, hoje sei que é porque o mundo está completo por entendimentos que eu devo descobrir. Você me olha. Te preparo café. No primeiro gole peço que arrume suas coisas. Você se sente assustado e diz que nunca irá me deixar. Não me surpreender ver que as coisas são formadas por pedras perfeitamente encaixadas. Visto sua camisa. Como assistindo tevê, enquanto todo o momento está bêbado. Você pode fazer o que quiser no seu segundo andar, mas prefere entrar num desespero incontrolável.

Tantas vezes eu corri por essas ruas. Você nunca foi atrás do que você sempre diz amar, mas preferiu machucar por prevê que o tempo estava acabando. Eu nunca me sentei nessa varanda amarela. Você pintou por cima dos tijolos para eu me sentir a pequena Dorothy caminhando por tijolos amarelos. Eu nunca vou me sentir satisfeita com você, então por isso serei boa. Eu nunca vou comer outra vez. Vou queimar todos os seus posters de adolescente e direi que sempre fui consciente. Perdi todas as fotos. Perdi as medidas. Torno-me metade de você. Espero você desaparecer no fim da rua. Você não quer me ver entrar pela porta. Segura três mochilas rasgadas e caminha direto para a sua mãe. Você sempre deixou tudo chegar no extremo. Algumas pessoas gritarão comigo que eu devo assumir a situação. Tudo está fedendo, dirão. Mas eu só arrumarei o quarto quando você for embora.

Eu não posso construir outra oração. Eu vou deixar você ir para o bem.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 08/12/2013
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