UM AMOR INTERROMPIDO

CONTO
UM AMOR INTERROMPIDO



Maria terminou o curso ginasial, interna no Colégio de Freiras e foi passar as férias na casa dos pais. Era uma jovem bela, como um botão de rosa se abrindo para o jardim da vida. A moça questionava sua vocação. Seguiria a vida religiosa ou constituiria família. Até então a primeira opção pesava mais forte.
O sol de verão naquele mês de fevereiro esquentava até mesmo os corações mais frios.
Maria acordava e ajudava sua família nos afazeres domésticos e depois ia para a janela apreciar o grande espelho da lagoa que se estendia a alguns metros da sua casa. Ela ficava a imaginar o que existiria do outro lado daquela imensidão de água. Sua imaginação flutuava por aquelas águas, e ia se encontrar com novos sonhos, novos caminhos e belos lugares.
Era mês de fevereiro. O único ônibus que fazia o transporte da capital do Estado até Torres e passava por aquela localidade, parou e dele desceram dois jovens bem vestidos e se dirigiram à casa de uma grande amiga de Maria. Eram os filhos de um morador daquela localidade que havia se mudado para a capital.
Maria sentiu algo estranho ao enxergar os jovens, principalmente o mais velho. Ela  se encontrou com sua amiga Tânia, para onde eles foram e lhe perguntou sobre os mesmos.
Tânia lhe disse se chamar Joel(o mais velho) e Juliano que estudava num Seminário. Disse que se tratava de grandes amigos seus e que moravam na capital. Deu boas referências dos rapazes. Maria então confessa para Tânia:
-Sabe amiga, senti algo inexplicável ao ver o jovem Joel. A sensação sentida era encantadora, nunca havia experimentado isso.
-Calma Maria, isso se chama paixão, disse Tânia.
No dia seguinte, Maria estava na janela , voando em seus sonhos, quando de repente, se aproxima da sua casa, o jovem Joel. Como ele avistou Maria, foi direto à ela, meio tímido, caminhando em passos lentos e falou:
- Boa tarde! Tu és a Maria?
- Sim, sou a Maria.
- Teu pai está em casa?
- Agora não, ele saiu, mas volta no fim da tarde.
- Eu só queria falar com ele para entregar o abraço que meu pai lhe mandou.
- Queres entrar?
- Não, obrigado. Preciso visitar outros amigos do meu pai.
- Até logo, Maria!
- Até logo, Joel!
Aqueles olhares se cruzaram no embalo da timidez e rodopiaram uma canção de amor. No domingo seguinte, após a cerimônia religiosa na Capela da localidade, os jovens se reuniram na praça em frente da mesma, como era costume na época. Maria desfilava pela praça com seu vestido de chita, enfeitado de renda, junto com sua amiga Tânia. Seus passos eram leves, pois seu coração estava levitando com os olhares daquele jovem desconhecido.
Joel buscou coragem no fundo da sua alma sonhadora e se aproximou das duas.
-Maria podemos conversar, um pouco?
- Claro que sim, respondeu ela, quase tremendo de emoção.
Tânia pediu licença e saiu discretamente, prometendo voltar mais tarde, pois tinha um compromisso.
Os dois jovens enamorados, ainda sem entender direito o que estava acontecendo com eles, foram para baixo de uma árvore, na busca da sua sombra e ouviram a voz de um pássaro, nela pousado:
BEM TE VI....... bem te vi.......
Era exatamente o que acontecia com os dois. Naquele momento, as palavras fugiam como pássaros espantados e apenas o silêncio e os olhares lhes faziam companhia. Nasceu ali o alicerce de um grande amor. Joel e Juliano permaneceram alguns dias na casa de Tânia e chegou o dia de partirem para a capital. O mesmo ônibus que havia os trazido, agora os levava de volta, distanciando Maria de Joel. Mas aquela paixão estava fortificada por um grande amor e não seria a distância que os separaria.
Naquele mesmo ano, Maria conquistou um contrato de professora estadual e foi trabalhar numa cidade mais próxima da capital, onde morava seu amado. O sentimento entre os dois, cada vez mais se solidificava. Não houve muito apoio por parte da família de Maria , em virtude de Joel não ter grandes estudos. Só que quando o amor acontece, não pede Certificados. Esse lindo romance se estendeu por mais de uma ano, até que nas férias de verão, Maria foi frequentar um Curso de Magistério, numa cidade muito distante. Essa distância balançou a cabeça de Maria. Ela foi transferida para trabalhar numa localidade muito distante da capital e para tal precisava  ficar hospedada em casas de família. Essa vida de cigana estava tornando-se cansativa para Maria. Joel não lhe falava em casamento e isso lhe deixava insatisfeita. Nos tempos desse namoro de Joel e Maria, os diálogos entre namorados ainda eram muito restritos. Não havia a intimidade dos dia de hoje.
Na localidade em que Maria foi trabalhar, havia um professor que logo se apaixonou por ela e lhe prometeu o paraíso. Casaram-se e foram constituir a sua família, numa localidade bem longe de todos. Foi lá que Maria conheceu que o paraíso, também poderia ser amargo. Experimentou uma vida tumultuada e cheia de dissabores. Ela sempre considerava como sua maior riqueza os filhos que Deus lhe havia dado e por eles, sempre lutou. Depois de aposentada, Maria iniciou uma experiência de empreendedora junto de sua filha mais nova. Mudaram-se para o Litoral do Estado e lá viveram dias difíceis, muito trabalho, mas felizmente melhoraram a situação econômica.
Maria nunca deixou de lembrar daquele primeiro namorado, mas nunca mais o viu, apenas ficou sabendo que ele havia casado, mas que não tiveram filhos.
Maria ficou viúva e seguiu sua vida de costume, trabalhando na sua empresa. Como estava só, resolveu viajar para fora do país, um sonho que alimentava. Isso lhe trazia grande satisfação. A viagem que marcou sua vida, foi a que fez para Terra Santa. Desde essa data, Maria sentiu aflorar nela o dom de poetisa, Iniciou aí, sua vida Literária. Contou com o apoio dos filhos e amigos.
Fins de novembro, Maria recebeu um convite para festejar o aniversário de sua velha e grande amiga Tânia. No dia, Maria e sua filha se dirigiram para a casa da aniversariante. Ao chegar, os cumprimentos de costume aconteceram. Um senhor, levantou-se da cadeira e ficou de pé, na frente de Maria. Essa lhe estendeu a mão e o homem perguntou:
_ Como é o teu nome?
Maria olhou para aquele senhor e estranhando a pergunta, lhe falou:
-Primeiro me diz o teu nome. Falou isso, esboçando um doce sorriso.
Ele, olhando para ela, falou:
- Sinto vontade de chorar! Uma lágrima rolou dos seus olhos sofridos.
- Pois eu sou o Joel. Estou viúvo há cinco meses.
Os braços de ambos se entrelaçaram e naquele momento, o mundo parou e nesse mundo só estavam os dois.
Nenhum casal de artistas, por melhor que interpretassem, não reproduziriam aquela cena, como esses dois amantes do passado. Viveram momentos de pura emoção. Ambos embarcaram numa carruagem de fantasia e só queriam sentir e viver aquele momento.
Futuro, pra que pensar?!... Só o tempo poderá aproximar esse amor interrompido!


Lourdes Borges