Ausência

Aquilo doía mais do que eu me sentia capaz de aguentar. Eu preferia que ele fosse extraordinariamente feliz ao lado de outra pessoa. Eu preferia que ele se mudasse para um país com leis restritivas que proibissem qualquer tipo de comunicação para o exterior. Eu nunca mais o veria novamente, é verdade. Mas meu coração ainda saberia que ele existia.

Ele ainda acordaria de manhã ao som daquela música indie que me irritava. Ele ainda passaria tardes inteiras em mostras de arte pós-moderna, tomando café amargo e discutindo com homens de diferentes convicções . Ele ainda faria o 'dia do macarrão' todas as quintas feiras e obrigaria as pessoas a dizerem que o seu melhor prato não estava muito pastoso ou muito apimentado. Ele ainda entraria em um mundo paralelo e incomunicável a cada vez que abrisse um livro.

Ou talvez não. Talvez todas os seus ideias, gostos, ideais, mudassem bruscamente. Mas os seus olhos ainda ficariam meio verdes nos dias em que ele se sentisse triste e suas pálpebras se fechariam quase que totalmente a cada vez que ele sorrisse. Ele ainda teria cheiro de madeira norueguesa quando saísse do banho. Ele ainda procuraria, inconsciente, algo para abraçar no meio da noite. Ainda ficaria irritado quando estivesse com fome. Ainda ficaria exageradamente feliz a cada vez que fizesse amor com uma garota que amasse.

Seus olhos ainda teriam a mesma ternura. Suas mãos ainda tocariam outras mulheres como se toca uma porcelana. A ponta do seu nariz ainda ficaria vermelha quando ele se irritasse. Ele ainda morreria de medo de demonstrar publicamente as suas fraquezas.

Ele ainda seria o mesmo. E não importaria onde ou com quem. Meu coração poderia ficar despedaçado. Mas estaria tranquilo.

Então por quê não poderia ser daquela forma? Por que o fato de ele me deixar tinha de ser tão assustadoramente doloroso? Talvez porque ele não tivesse tido escolha. Ele escolheria ficar comigo, sempre comigo, eu sabia. Por isso ele tinha que ir embora daquela forma. Deixando um buraco negro no coração de todas as pessoas que um dia o conheceram.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 06/01/2014
Reeditado em 03/12/2014
Código do texto: T4638923
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