UM CONTO DE AMOR

Sábado à noite,
toda feliz e animada,
ela embrulhou seu primeiro amor
numa caixinha de palavras
florescentes,

pôs o melhor vestido,
enfeitou o cabelo,
maquiou-se como uma barbie
que acaba de sair da loja
e vestiu aquela calcinha com qual
ele lhe vira uma vez, de soslaio,
pela fresta da porta,
quando ela se trocava
no quarto;

todos lhe diziam
que formavam um lindo casal
e que foram feitos um para o outro;

quando ele chegou,
ela estava radiante a esperá-lo
e, nesta noite,
deu-lhe dois belos presentes:
a caixinha com cândido amor
e a boceta virgem
que ele tanto queria.

...

Um tempo depois,
com o rosto molhado de lágrimas,
embrulhou a dor e a angústia
numa caixinha de silêncios
entenegrecidos,

não se vestiu como boneca,
não enfeitou o cabelo
nem colocou a calcinha
que ele adora
e, daquela boneca enfeitada
de outrora,

parecia uma lesma pisada,
sem falar da icterícia em febre,
e da gonorréia que havia descoberto
que pegou com o cara;

quando ele chegou
deu-lhe o presente silente,
correram-se-lhe ao rosto molhado
mais algumas lágrimas,
romperam-se-lhe algumas veias
do coração,

virou o corpo esquálido,
agora aleijado pela pingadeira
gonorréica,
e, após despedi-lo,
foi-se lamentar em seu
quarto.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 07/02/2014
Código do texto: T4681746
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.