A desculpa
Sábado era o nosso dia, o nosso dia.
Olhávamos uns aos outros e já sabíamos o que íamos fazer, ela ia à minha casa sempre levando um filme dos bons, alguns românticos, ficção científica, daqueles baseados na vida de alguém, sei lá quantos filmes assistimos sem ver o título ou atores que protagonizavam as histórias.
Ela gostava de drama, sofrimento era o tema predileto dela e se fosse o tema do sofrimento por amor, seria ainda pior, ela chorava baixinho, e rindo daquilo, dizia: Quer um lencinho? Era sempre engraçado vê-la, só que o que era engraçado tornou-se motivo de alegria estranha, é sempre ótimo ter alguém assim, alguém que seja intensa perto da gente, gente assim quando faz algo faz com verdade, faz com coração. Ela assistia um filme, sentia-se no filme, se alguém sofria ela sentia muito a dor do personagem e aquilo que era patético no inicio, só que com o tempo tornou-se estranhamente admirável, achava admirável quando a via apertar as almofadas com euforia ou alegria, rindo feito louca quando o fim do filme era o esperado, com o tempo percebi que o sábado era pouco tempo para estar junto dela e que os filmes viraram desculpa para vê-la.