Se você não leu ou quer reler, confira a primeira parte:
http://www.recantodasletras.com.br/contos/4694423
 
* Um novo ano caminhou e o viúvo Jonas decidiu se despedir de Rubi Verde, das velhas lembranças, do sonho amoroso da juventude, daquela busca a qual já havia durado demais.
Talvez fosse preciso aceitar a ausência de Sofia na sua vida.
 
Mais uma vez a festa seguia muito empolgada.
Jonas percebia que sentiria falta, porém, a decisão parecia implacável, ou seja, ele não mais voltaria a Rubi Verde.
O nobre homem pretendia deixar o primeiro amor no pretérito.
No porvir existiria o consolo de saber que muito tentou. 
 
* Terminando de comprar um sorvete, quando se virou, Jonas notou uma senhora que não escondia estar preocupada.
_ Olá, senhora! Posso ajudar?
_ Me ajuda a encontrar minha filha e neta? Eu saí para comprar sorvete, agora não sei exatamente onde elas...
Antes de acabar a frase, uma forte emoção invadiu os dois.
Como algo assim poderia estar acontecendo?
Eles repetiam o diálogo que começou o encanto há 52 anos.
O reencontro mágico finalmente ocorria e imitava o encontro de ontem.
 
_ Sofia? É você, Sofia?
_ Sou eu, Jonas! Após tanto tempo aqui estamos novamente! Será que não é um fantástico sonho?
Num cumprimento trêmulo, a mão direita de Jonas buscou apertar a mão esquerda de Sofia. Jonas não conseguia controlar o choro.

Apesar da emoção indescritível, Jonas percorreu a área, tentando tranqüilizar Sofia. Os passos misturavam o ritmo natural do ancião com o vigor apressado da mocidade quando Jonas realizou uma procura parecida.
Logo eles encontraram Bianca, a filha única de Sofia, e a neta Priscila numa mesa afastada da “algazarra”.
Jonas foi apresentado e convidado a sentar.
 
_ Então o senhor é o famoso Jonas que um dia, aqui mesmo, auxiliou mainha a encontrar os meus avós? Mainha me contou essa linda história algumas vezes, eu jamais esqueci. Sou uma romântica e adoro os amores profundos.
 
Jonas resumiu toda a saga da sua vida. Falou sobre o casamento com Diana, contou que visitara Rubi Verde anualmente, contando com o incentivo da saudosa esposa.
Esclareceu que nunca superou a angústia do desencontro, sem poder entender porque Sofia não apareceu.
Enfim, Jonas abriu o coração.
 
A madura Sofia pediu que a filha mais a netinha dessem uma volta.
Ela, então, narrou os detalhes da jornada que trilhou.
_ Querido Jonas, não sei se você pode me perdoar, mas saiba que nunca esqueci o nosso acerto e sempre lastimei não ter voltado a Rubi Verde nessa data.
Na véspera do nosso encontro tão adiado, os meus amados pais, num incêndio terrível e impiedoso o qual quase causou a destruição de toda a nossa fazenda, sucumbiram. Eu milagrosamente escapei.
O trágico fato me deixou completamente desorientada.
Um atencioso casal de tios tomou conta de mim e abrandou a minha sorte melancólica.
Seis anos depois conheci um fazendeiro experiente, uma pessoa que, na vida, só me deu amizade e afeto. Pedro, quinze anos mais velho, foi uma espécie de anjo no meu caminho.
Cinco anos depois nos casamos e, dois anos depois, eu engravidei, gerando o meu tesouro, a formosa Bianca. Agora, há seis anos, Bianca trouxe Priscila para alegrar ainda mais o nosso jardim. Foi uma gravidez sem programação, com um homem nada honrado, porém Priscila hoje é a nossa flor e motivação.
_ E Pedro, o seu marido?
_ Infelizmente ele morreu em novembro do ano passado. Eu nunca conversei com ele sobre a festa de Rubi Verde nem contei que meus pais eram apaixonados pelo evento. Se contasse e, por exemplo, falasse de você, do nosso encontro, da promessa que não pude cumprir, diferente de sua Diana, ele não compreenderia.
Nada doentio, mas ele era muito zeloso e ciumento.
Nossa história eu contei a Bianca, minha amiga e confidente, algumas vezes conforme ela disse. Esse ano ela propôs visitar a cidade e brincou “Vai ver você encontra o Jonas, mãe!”.
Jamais eu poderia supor que te encontraria,
Que bom! Você está aqui!
 
A narração de Sofia acalmou demais a agonia que acompanhou Jonas durante tantos anos. Ele sentiu um imenso alívio e notou que havia a maravilhosa esperança de terminar o romance que ainda não havia começado.
O final feliz tão aguardado, que o coração dele sempre buscou viver, era possível e real.
 
Todos as quatro pessoas conversavam descontraídas naquele fim de tarde especial.
De repente a música de Jonas e Sofia tocou (esse conto não possuiria nenhuma graça se a música não voltasse a tocar).
Jonas não resistiu, convidou Sofia para dançar, pediu licença a Bianca que, abraçando a filhinha sapeca e encantadora, incentivou.
 
_ No dia do incêndio, Jonas, eu estava contando os minutos para te ver. Meus pais aceitaram o nosso namoro. Eles gostavam de você, sabia?
_ Eu sinto muito por eles, Sofia!
_ Lembra da frase que eu disse?
_ Se o nosso gostar tiver força, o destino nos unirá?
_ O gostar teve força. Você aceita ser meu companheiro nesse instante que adentramos a terceira idade, querido?
_ Pra mim vai ser ainda a primeira idade, querida Sofia! Mas tem uma condição que eu não abro mão...
_ O quê, meu dentista predileto?
_ Eu quero aquele beijo o qual você ficou me devendo!
_ Aqui, na frente de minha filha mais minha neta?
_ Dessa vez não me enrole, não me interessa quem está olhando. E eu quero combinar contigo uma coisinha. Vamos fechar os olhos e tentar reviver a cena antiga como se o tempo tivesse parado ali. Vamos tentar fazer de conta que somos os meninos de outrora?
 
Bianca, sorrindo emocionada, abraçando mais forte Priscila, viu uma cena comovente:
O beijo ocorreu com uma ternura envolvente e contagiante.
Os dois fizeram a viagem de volta.
Sofia conseguia sentir os pais na mesa, surpresos com a ousadia do casal. Ela temia a reação deles, no entanto provara a primeira grande emoção daquele amor intenso e infinito.
Não era possível resistir e não deixar fluir!
 
Jonas era a própria felicidade.
O jovem Jonas dava o primeiro beijo à primeira e única namorada.
Não acontecia apenas um beijo.
A ação significava a vitória do gostar, um sentimento que o tempo, a distância e a própria vida talvez não incentivassem.
Um sentimento que ficou, que insistiu em ficar, que ratificou o doce anseio romântico do alegre garoto, sonhador rapaz, nostálgico adulto e adorável ancião.
 
Ah! O destino, o veículo que Deus gentil sabe bem conduzir, os uniu!
 
Jonas e Sofia abraçados choraram.
Nas últimas linhas do conto eu também chorei.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 21/02/2014
Reeditado em 21/02/2014
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