Sete Anéis para um alguém que se espera

Cheguei atrasado e a plateia estava lotando o lugar, as luzes focavam uma magrela dançarina que com doçura bailava ao som de um violonista que executava uma melodia doce e harmoniosa que transmitia uma alegria dolorosa. Parecia a meu ver que todos estavam hipnotizados por aquilo tudo.

Ela girava e ria com uma doçura infantil que enchia o nosso coração de felicidade, uma felicidade tão intensa que não se pode guardar dentro de si, então, alguns da plateia suspiravam profundamente e diziam: Bravo! Lindo! Lindíssima! Perfeita! Cada um a sua maneira se expressava. De primeira mão achei meio exagerado aquilo que ocorria, mas com o passar dos minutos a sincronia e a beleza das artes unidas, começaram a produzir um efeito dentro de mim.

Olhei para o violonista que tinha colado o rosto no violão, parecia que queria fundir-se a ele, tornar-se violão ou desejava que o violão tornar-se ele, quando a melodia ficava triste ele quase que chegava a chorar com o violão e nos momentos de temas alegres, ria discretamente, o que era imperceptível para a plateia que estava embriagada com a bailarina.

A música que o violão produzia era Sete Anéis de Egberto Gismonti, nunca a ouvira antes, de fato é uma canção incrível, aí que me ocorreu algo inesperado, uma vontade de mostrar essa canção para alguém, não qualquer alguém, mas um alguém que apreciasse aquele tipo de arte e que tivesse também apreço por mim. Não somente um alguém, mas alguém para apreciar poemas, textos, canções, artes e que me apreciasse também. Alguém que compartilhasse livros e ideias artísticas, que compartilhasse o amor por estas coisas e seu amor comigo, quem sabe sua vida também e quem sabe toda a vida. Aí cheguei a uma conclusão: que chegara o tempo de eu amar, de sonhar, de encontrar meu violão para produzir a minha música.

Enquanto pensava nisso, ela bailava suavemente e os Sete Anéis eram um sonho em forma de melodia, julgo que não passei dez minutos ouvindo e vendo aquela fusão de talentos. Mas, o que aconteceu ali foi de uma riqueza e crescimento únicos. Senti uma capacidade de amar grandiosa naquele momento de beleza, ali todos sairiam inspirados a compor canções, poesias, recitações e a viver esperando o melhor da vida. Ao fim daquela parte do espetáculo, peguei meu casaco e levantei-me dali, cantarolando baixinho a Sete Anéis.

Ao chegar à porta, olhei para o porteiro, que me questionou: Senhor Já está indo? O espetáculo ainda não chegou ao fim.

Disse olhando para a rua: Voltarei quando encontrar alguém que aprecie comigo o que está lá dentro. A vida e a arte perdem o sentido se não compartilharmos as mesmas com o alguém que a gente espera desde menino.

Saindo pela rua logo desapareceu na multidão, o porteiro demorou entender aquela afirmação contundente e ao entender, pegou o telefone ligeiro para ligar e disse inesperadamente para uma alguém que estava doutro lado da linha: Marie, antes de tudo a amo...

José Lins Ferreira
Enviado por José Lins Ferreira em 06/03/2014
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