Julieta e Rosana atravessavam a grande ponte da cidade.
_ Vamos, amiga! Esse lugar é assombrado, não podemos abusar!
A sonhadora Julieta indagou curiosa:
_ Por que você diz isso, Rosana?
_ Você não sabe, Julieta? Dizem que, quando a Lua está cheia, igual a hoje, o cavaleiro apaixonado surge galopando nessa região. Ele passa veloz, montado num cavalo. Falam que há o risco dele raptar qualquer mocinha que estiver aqui...
_ Por que ele raptaria uma mocinha?
_ É uma história triste, Ju! Explicam que, há mil anos, ele amou uma linda jovem a qual o desprezou, feriu o seu coração, devolveu o cálice da ternura com o fel da ingratidão. Após ler uma carta na qual a insensível moça pediu para ele nunca a procurar, ele passou a beber muito dia e noite, abandonou o bom emprego de carteiro, se entregou ao desgosto, adoeceu e morreu jogado numa esquina qualquer.
_ Oh! Que história triste, Rô! Mas como ele se transformou no cavaleiro apaixonado?
_ Visitando todos os bares, ele sempre repetia a desilusão que sofreu e revelava ter o desejo de conseguir um cavalo para raptar a moça. Ele sonhava levá-la até uma região distante, essas que apenas existem na fantasia, e amá-la com total fervor, deixando as estrelas testemunharem o romance o qual ele prometia torná-lo o mais sedutor do Universo.
Reprovando a pausa de Rosana, Julieta pediu empolgada:
_ Continua, Rosana! Continua!
_ Após sua morte, narra a lenda que ele finalmente adquiriu coragem e costuma tentar realizar o rapto nas noites enluaradas. Muitos garantem que já visualizaram um galante rapaz passar galopando, atravessando essa ponte e sumindo na longa estrada a qual está à nossa frente.
_ Já levou alguma moça com ele?
_ Não, porém temem que uma bonita jovem impressione o romântico cavaleiro e sofra a ação da sua apaixonante loucura.
_ Ah! Rosana! É triste, mas é uma linda história! Do jeito que você narra, acrescentando observações tão poéticas, você acredita que o cavaleiro apaixonado existe, certo? Parece que a lenda também te seduz!
_ Ju, eu admito que acho essa história a mais comovente já narrada!
_ Sim! Um amor que não tem fim! Mil anos significam, então, uma gota no tempo. Seria o galope mais incrível visto. Ah! Minha amiga, eu vou ficar para ver o cavaleiro apaixonado!
_ Está louca, Julieta? E se ele te raptar?
_ Eu seria a moça mais feliz do planeta.
_ Você enlouqueceu? Vamos embora já!
_ Não! Eu vou ficar exatamente aqui!
 
Após cerca de quinze minutos, Rosana decidiu ficar ao lado da amiga querida. No fundo ambas almejavam aquela experiência.
Quem seria esse rapaz repleto de magnitude, encanto e imenso amor?
Perder a vida amando demais e, depois da morte física, o ousado ato concretizar, superando a covardia do corpo!
Julieta e Rosana não conseguiam disfarçar o deslumbramento.
 
Magnetizadas elas escutaram um galope inconfundível.
Um cavaleiro surgiu, de repente, como se viesse dos Céus.
As meninas, imóveis e maravilhadas, puderam observar o quanto era encantador o cavalo e, mais ainda, ficaram fascinadas pela beleza do cavaleiro apaixonado.
Com pouco mais de quarenta anos, confirmando a idade que o rapaz rejeitado morrera, havia no olhar dele uma profunda nostalgia e era possível sentir o coração do jovem solitário bater forte.
O vento brando, naquela noite mágica, facilitava escutar sua voz firme:
_ Eu te amo!
Existia certeza naquela declaração. A frase não era igual às outras. Ela convencia, ganhava intensidade, emocionava a Lua e avançava rumo à imensidão...
Num instante fantástico, as moças enxergaram o cavaleiro apaixonado passar ao lado delas e, num segundo, ele virou o rosto talvez oferecendo um leve sorriso...
As duas, observando o rapaz desaparecendo, levando o formoso cavalo, companheiro da tortura do seu ardente sentir, desejaram pedir que ele não partisse tão rápido assim.
 
Conferindo a estrada que ficou empoeirada com o movimento célere do cavalo o qual sumiu no horizonte escuro e nublado, uma certa lacuna invadiu a alma das mocinhas.
Elas, possuindo ainda um futuro bastante promissor, nada disseram, contudo, como se tivessem combinado, imaginaram se encontrariam alguém capaz de amá-las tanto, com tamanha entrega, perdendo a vida porque a princesa não aceitou, ganhando uma outra vida porque a poesia aplaudiu, concordou, aceitou guiá-lo até o encontro impossível, almejando, na conclusão da estrada infinita, alcançar desfrutar o amor, finalmente amando, simplesmente amando.
As moças, agora caminhando lentamente, enxugavam suas lágrimas, testemunhas fiéis das emoções que estimulam os nossos passos de amargura e dor.
 
Adiante, longe dos olhos humanos, um rapaz, montado num robusto e muito elegante cavalo, não cessava de galopar, buscando rever alguém, sem saber quando parar...
Ele deixou uma lágrima cair e repetiu:
_ Eu te amo!
 
A sua voz deixava fluir uma espécie de melodia sublime, inspiração do afeto verdadeiro, mas era inevitável também perceber o desencanto da saudade sem término, nutrindo a contagiante ansiedade, inabalável vontade, única e preciosa aspiração, ela amar.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 11/08/2014
Reeditado em 11/08/2014
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