Coração valente.

Coração Valente.

Eles são meus grandes amigos, amigos sem igual, companheiros para todas as horas do dia. Nossa amizade teve inicio de uma forma inusitada, foi no verão de oitenta e dois em um fim de tarde numa cidadezinha no interior de Minas Gerais.

Nessa ocasião eu estava de férias, fui visitar uma tia que morava nesta pacata cidade, e também lhe agradecer por tudo o que ela fez por mim em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Sou um medico cardiologista, o que vou lhes contar não é algo muito comum de acontecer, mais acreditem é algo ate normal, há alguns anos fui submetido a um transplante de coração, logo eu um cardiologista. Meu coração estava fraco, sofri um infarto no miocárdio que quase me custou a vida, meu coração já não era o mesmo, estava cada vez mais fraco eu dependia de um transplante urgente, mas mesmo para um medico conseguir um órgão era muito difícil. Eu também fiquei viúvo, havia perdido minha esposa fazia dois anos antes, ela faleceu vitima de um acidente de carro. Sinceramente acho que no acidente da minha amada esposa parte do meu coração morreu com ela.

Essa minha tia foi que me ajudou nessa época de dor e depressão, ela foi um verdadeiro anjo. Ela também não sei se por obra do acaso descobriu um coração novo para meu peito, ao que parecia tinha tudo para dar certo, o doador era da minha idade e falecera de um acidente automobilístico, tudo na minha vida mudaria a partir desse dia.

A cidade chamava-se Rio Casca, bem pequena, mas muito acolhedora e aconchegante, Nesta cidade tem uma praça, que tem por nome praça central, ela fica bem de frente a prefeitura. Um ponto de encontro de todos, Crianças brincando de futebol, idosos jogando xadrez, jovens paquerando e senhoras fazendo tricô, enfim uma típica cidade interiorana. Desde a minha chegada todas as tardes eu vinha para esta praça, mas voltava logo devido as chuvas de verão, foi em uma dessas tardes que conheci meus amigos e as revelações que com eles viriam.

Era segunda-feira, e seria um dia de grandes revelações na vida deste medico, sai no mesmo horário de sempre, seguindo a mesma rotina, ao chegar à praça sentei-me a observar o movimento de sempre. O tempo começou a fechar, nuvens escuras assomavam-se por sobre nossas cabeças a uma velocidade espantosa, levantei-me rapidamente eu havia esquecido que minha tia pediu-me para passar na padaria e comprar algo para o café da tarde. Sai apressado antes que a chuva começasse, ao adentrar na padaria caia as primeiras grossas gotas de chuva. Era a primeira vez que eu estava naquela padaria, fiquei preso ali o temporal estava muito forte, pedi o balconista pães bolo e me dirigi ao caixa, ali começaria minhas surpresas.

Um senhor estava no caixa, aparentava ter uns setenta anos, ao seu lado um lindo cãozinho que ao me ver imediatamente se levantou, latia muito e dava uns pulinhos algo muito bizarro para um cachorro. O senhor levantou-se e ficou frente a frente comigo observando atônito toda acena, sem compreender nada lhe perguntei:

“O que há com o cãozinho.”

“Não sei senhor ele só fazia isso com seu antigo dono.” Respondeu-me o senhor com os olhos cheios de lagrimas,

“Ele não e seu.”

“Não senhor, era do meu falecido filho, ele morreu a uns três anos atrás vitima de um acidente de carro, foi bem ai mesmo na pracinha.”

“Sinto muito pelo seu filho.” Disse-lhe.

“Nem tudo é tristeza meu jovem sei que uma pequena parte do meu filho está viva por ai.”

“Como assim” Perguntei curioso.

“O coração do meu amado filho foi transplantado em um jovem lá da capital, não sei o seu nome só sei que foi a uma senhora lá da rua de cima que intermediou tudo, estávamos muito abalados na época.”

Quando ele disse isso logo percebi o que de fato estava acontecendo, então para sanar minhas duvidas lhe fiz a seguinte pergunta.

“Senhor por um acaso esta, não é bem baixinha de cabelos bem branquinhos, todos aqui a conhece como tia Biu.”

“Sim é essa mesmo, mas como você a conhece,”

Nesta hora lagrimas nasceram dos meus olhos, o senhor nada compreendia, então lhe contei toda historia antes mesmo de termina-la ele me abraçou com tamanha força que tive a impressão de ser esmagado.

Para que os senhores entendam o coração que batia no meu peito era do filho daquele senhor e o simpático cãozinho era de seu filho, foi assim que conheci meus dois grandes amigos no mesmo dia. Logo em seguida chegou ali uma lida jovem de olhos verdes e cabelos negros e longos, não foi a minha surpresa era a viúva de seu falecido filho, ao ouvir toda minha historia seus olhos se encheram de lagrimas, senti suas delicadas e macias mãos tocarem o meu peito, ali nascia um novo amor e uma nova oportunidade para nos dois.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 12/10/2014
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