SOBRE CONVERSAS DE AMOR...

Sempre tive um costume muito estranho. Falava sempre para aquela que foi e continua sendo o grande amor de todas as minhas vidas, que eu pensava nela em todos os segundos dos meus dias (embora até hoje eu não tenha certeza se ela acreditava nisso ou não), mas acho que nunca disse à ela que não eram somente pensamentos, lembranças ou coisas do tipo.

Era algo meio louco, pois além disso tudo, em minha cabeça e em meu coração, eu ficava conversando com ela o tempo todo.

Eram conversas mesmo, de verdade. Falávamos silenciosamente sobre tudo. Sobre nós, sobre os outros, sobre notícias, sobre filmes, sobre músicas, sobre filosofia, sobre Deus, até sobre trabalho, enfim sobre vida...

Qualquer que fosse o assunto de nossas conversas interiores, elas vinham sempre acompanhadas de muito amor, muita paixão, extrema ternura, várias brigas, enorme cumplicidade, forte companheirismo, infinitas saudades, algumas tristezas (que nunca perduravam por muito tempo) e imensas alegrias.

Nestes bate-papos contínuos que mantinha com ela dentro de mim mesmo (que aconteciam todo dia, o dia inteiro e a todo instante), recebia e dava opiniões, conselhos e principalmente sentimentos. Tudo sem que minha voz dissesse uma única palavra sequer.

Todo mundo me falava que eu era muito quieto e que não falava muito, pois sempre fui muito introvertido e bastante tímido. Quando escutava isso, lhes respondia dentro de mim que eu era assim no mundo deles, porque no meu, tagarelava sem parar, pois amava muito, e quem ama e é amado (nunca tive dúvidas disso) nunca está só.

Por intermédio daquelas palavras, todas faladas sempre através do coração de minha alma, eu guiava o meu caminho, as minhas atitudes e os meus atos, não fazendo absolutamente nada antes que ela fosse consultada em minha consciência, e muito menos sem que ela aprovasse e concordasse. Pode ser um negócio desse? Poder não pode, mas...

Passado o tempo, ainda acho que isso não deve ser muito normal; principalmente para a grande maioria das pessoas, que normalmente passam uma vida inteira achando que são felizes em seus estáveis e previsíveis relacionamentos amorosos, sem que tenham se dado uma chance de fato, para que pudessem ter obtido ao menos uma vaga idéia do real significado de amarem e serem amadas de verdade. Muito louco isso, não?

Sei, por experiência própria (graças à Deus), que amar e ser amado neste patamar de intensidade é simplesmente magnífico, inesquecível e espetacular, porém muito, muito complicado, pois invariavelmente mexe constantemente e profundamente com todas as nossas mais íntimas estruturas e convicções.

É como um terremoto acontecendo em nossas vidas, que está sempre pondo abaixo o que foi construído, para depois podermos levantar tudo de novo, mais forte, maior, melhor e mais bonito.

É também como um tsunami acontecendo dentro do nosso copo, onde muita água acaba sendo lançada para fora do mesmo, mas o que fica é capaz de com folga, nos saciar da sede que temos acerca de toda a verdade que somente um grande amor pode nos revelar.

Muitas destas pessoas não suportam, ou ficam completamente apavoradas com essa montanha-russa de fortíssimas emoções, acabando por desistir e por optar pelo sossego e segurança de um "amor tranquilo e feliz" na visão delas.

Porém, mais dia menos dia (não raro alguns vários anos depois), se dão conta de que terem tido ao seu lado um companheiro bastante querido não foi o suficiente para satisfazer-lhes em suas mais secretas e profundas aspirações emocionais (que se acham incrustadas desde sempre em seus corações), porque bem lá no fundo de suas almas, instintivamente sabem que isso nem de longe se assemelharia ao fato de que poderiam ter tido ao seu lado um companheiro muito amado; daqueles que teriam sido capazes de despertar nelas um poderoso e infinito amor (que quase sempre acaba colocando ambos os apaixonados corações para baterem à beira da loucura; e só quem já teve a felicidade de passar por algo parecido, entende exatamente sobre o que eu estou falando), e de que poderiam ter-lhes proporcionado em cada um de todos os seus dias, a imensa alegria de se estar vivendo neste mundo por mais uma vez.

É tal como a nossa própria vida, que nos é presenteada como uma suprema dádiva, e que nos é renovada diariamente nas esplendorosas bençãos de cada novo amanhecer, trazendo consigo todos os seus vários e complexos altos e baixos.

Em um grande, inabalável e verdadeiro amor (como este que trago gravado em meu peito desde sempre e para todo o sempre), os altos são de uma felicidade estonteante, inebriante, incomparável e inenarrável; e creio firmemente que isso é o mais próximo da Divindade que esta vida pode mostrar a cada um de nós.

Porém, igual a uma moeda, que tem dois lados do mesmo tamanho, inversamente os baixos acabam também sendo infelizmente muito baixos...

Mas sobre estes, acreditem, nem vale a pena comentar; apenas aprender com eles, apenas esquecer...

É, realmente... Depois de tudo que junto ao meu único amor, intensamente vivi durante uma grande e significativa parcela de minha vida, tardiamente compreendi que amar, mas amar mesmo, definitivamente não é para qualquer um!

Aprendi à duras penas que amar, mas amar mesmo, amar de verdade, é uma maravilhosa promessa de vida em plenitude, que a vida oferece uma única vez, e definitivamente apenas aos fortes!

Sou imensamente grato à Deus, que por meio dos caminhos traçados na eternidade, permite que ela continue fazendo parte de minhas conversas, e também por fazer com que eu continue a amá-la tanto assim e cada vez mais!!!