Amor Da Neve

Era uma vez um homem e uma mulher que moravam em um chalé de madeira, em uma pequena aldeia não muito longe de uma grande floresta. Embora não fossem pobres, eles eram muito infelizes pois não tinham filhos.

Possuíam uma vaca, um galo e algumas galinhas, dois cachorros e um gato, mas o que eles mais queriam era um bebê, como todas as outras pessoas da aldeia.

Eles costumavam sentar-se na cozinha e observar as crianças dos outros chalés da pequena janela. As mães vinham até a porta para ver onde seus filhos tinham ido. Os pais gritavam com eles quando um cavalo passava.

Num dia de inverno, as crianças estavam todas lá fora brincando na neve. Elas gritavam,riam e atiravam bolas de neve umas nas outras.

"Vamos fazer um homem de neve",disse uma das crianças.

O homem ouviu isso lá dá janela da cozinha e disse para sua mulher:

"Vamos também fazer uma garotinha de neve. Quem sabe um milagre aconteça e a gente ganhe uma filha".

Eles esperaram escurecer e saíram para o quintal dos fundos. Como estava terrivelmente frio, eles vestiram pesados casacos, chapéus de peles e grossas luvas, mas mesmo assim suas mãos estavam quase congelando.

Começaram a fazer uma menina de neve devagarzinho e com muita delicadeza. Finalmente, a garotinha ficou pronta. E lá estava ela, toda feita de neve, porém mais bonita do que uma roseira na primavera.

"Ela é realmente uma beleza,não é?"-disse o homem.

"Ah sim,ela é. Que pena que ela não é de verdade. Se ao menos ela pudesse falar..."-suspirou a mulher.

E acredite ou não, a menina abriu os olhos e olhou para o casal. Ela lhes sorriu e começou a dançar na neve.

Ela dançou sem parar até ficar exausta. O homem,comovido,abraçou-a carinhosamente, mas ela o afastou dizendo:

"Não me esquente tanto, por favor".

Quando entraram no chalé, a menina sentou-se numa cadeira longe do fogo.

A mulher abriu um velho baú e tirou um chapéu de pele, um par de botas vermelhas e um grosso casaco que estavam guardados há muito tempo.

"Eu não posso vestir essas roupas. Elas são quentes demais,"disse a menina. "Eu quero ir dançar nas noites geladas e nos dias frios."

"Você voltará para nós, criança?"-perguntou a mulher.

"Vocês querem que eu volte?"-retrucou a menina.

"Mas é claro, querida. Nós já a amamos muito. Você é a nossa filha agora"

"Então está bem! Ficarei com vocês enquanto me amarem. Mas se eu souber que vocês me amam pouco, eu derreterei e vocês nunca mais me verão".

Ela então saiu correndo pelas ruas, atirando bolas de neve na rua.

Ela voltou cedo na manhã seguinte.

"Mãe"-disse ela.

E a mulher sentiu os olhos cheios de lagrimas, como se tivesse ouvido aquela palavra pela primeira vez.

"Estou com fome. Dê-me um pouco de gelo."

Depois de comer gelo, ela saiu novamente.

"Agora eu vou brincar com as outras crianças".

E assim ela fez. Correu com elas, fez guerra de neve e as ajudou a fazer uma baba Yaga, uma dessas mulheres de neve feitas tradicionalmente no inverno na Rùsia. Ah, como ela se divertiu!

À noite ela voltou para casa, comeu um pouco de gelo e saiu de novo.

Era uma boa menina. Fazia tudo o que seus pais lhe diziam, exceto dormir em casa.

"Muito quente,papai,muito quente,mamãe."

Ah, que tesouro como eles a amavam!

E isso continuou por todo o inverno.

Um dia, quando a neve estava começando a derreter, as crianças se embrenharam um pouco mais no interior da floresta. A menina de neve estava lá também. Só que ela corria tão depressa por entre as árvores que as outras crianças não conseguiam segui-la. Já estava ficando escuro quando ela percebeu que estava sozinha lá fora na floresta.

Apavorada,ela começou a chorar. Uma raposa vermelha ouviu-a e aproximou-se dela.

"Por que você está chorando, menininha?"

"Eu me perdi."

"Não chore mais. Vou levá-la para casa, minha filha. Segure-se em minhas costas."

Ainda trêmula de medo, ela fez o que a raposa disse e em pouco tempo avistaram as luzes dos chalés da aldeia.

"Ó de casa!,"gritou a menina.

Quando parou na porta do chalé de seus pais.

"Oh, querida onde você estava?"-disse a mulher.

"Pensamos que a tivéssemos perdido para sempre."

"Eu me perdi na floresta, mas esta bondosa raposa mostrou-me o caminho de casa"-explicou a menina.

"Por favor, prenda os cachorros, papai."

"É claro, é claro",disse o homem.

"Estamos tão gratos a você, raposa. Se houver qualquer coisa que possamos fazer por você por favor, sinta-se à vontade para pedir."

"Bem",disse a raposa vermelha.

"Estou realmente faminta, vocês sabem. Gostaria de comer uma bela galinha gorda."

"Muito bem"-disse o homem.

"Eu e minha mulher vamos lhe trazer a nossa galinha mais gorda."

Os dois foram até o quintal dos fundos.

"A menina está de volta"-disse o homem.

"Você não acha que é um desperdício a gente se desfazer de uma de nossas gordas galinhas?"

"Com certeza",respondeu a mulher.

"Ainda bem que você concorda comigo. Tive uma ideia, pegue aquele saco grande ali".

Eles colocaram o cachorro mais feroz que tinham dentro do saco e voltaram para dentro da casa. A raposa vermelha olhou para o saco e lambeu os beiços. O homem abriu o saco e o cachorro pulou fora. A raposa saltou pela janela e saiu voando de volta a floresta.

"Ha,ha,ha",riram o homem e sua esposa.

"Ha,ha,ha".

A menina ficou observando-os em silêncio. Em seguida começou a cantar baixinho.

"Adeus,papai,adeus,mamãe, o seu amor por mim vale menos que uma galinha,uma galinha vale mais do que eu".

E logo a menina desapareceu. Em frente do fogo da cozinha só restou uma pequena poça d´água.

Ana Sama
Enviado por Ana Sama em 19/12/2014
Código do texto: T5074795
Classificação de conteúdo: seguro