My Name is Evil

- Seu nome é Leslie, correto?

- Está correto.

- Sobrenome?

- Hildenberg

- Casada?

- Sim, senhor.

- O Nome do esposo é Chuck?

- Sim, senhor.

- Há quanto tempo mora aqui?

- Esta não é exatamente minha casa.

- Entendo, mas apenas responda a pergunta.

- Cerca de trinta e oito anos e alguns meses. Não saberei ao certo, acho que sete ou oito meses.

- Você ainda o ama?

- Sim, senhor. Sempre o amarei.

- Mesmo depois de todo este tempo?

- Sempre.

- A senhora se considera uma mulher de sorte?

- A mais abençoada de todas.

- A senhora tem fé em um dia encontrar seu marido?

- Sim, senhor, muita fé.

- Caso vocês de encontrassem, qual a primeira coisa que diria a ele?

- Vamos fazer tudo de novo.

- Essa seria a primeira coisa?

- Logo após dizer que eu o amo muito. Sim.

- Certo... A senhora sabe por que está aqui?

- Eu vim responder seu questionário.

- Obviamente, mas eu me refiro ao motivo de tudo isso estar acontecendo.

- Sim. Amor.

- Amor?

- O mais puro e nobre amor.

- Não entendo...

- Não entende, pois nunca sentiu amor como esse.

-...poderia me explicar a que se refere?

- Sim, claro.

- A senhora tinha dezenove anos na época?

- Sim. Dezoito quando nos conhecemos, dezenove quando libertamos aquelas pessoas.

- Libertaram aquelas pessoas?

- Você pode não entender, mas sua sociedade é corrompida. Vocês tratam as pessoas como párias, deixam seres iluminados como Chuck à deriva de um navio carregado de porcos. Nós somos os escravos que remam nas galeras, acorrentados e ouvindo apenas o barulho dos bumbos e dos estalos dos chicotes. Liberdade é o que Chuck dizia.

- Senhora Leslie, pelo que me consta a senhora entrou na casa sozinha.

- Sim, Chuck estava no sítio.

- Mas foi ele que a enviou?

- Não diretamente. Ele é como um profeta, um visionário. Ele é Cristo e Moisés ao mesmo tempo. Ele não é ninguém.

- Entendo. E quando a senhora chegou na casa havia apenas o casal?

- Apenas os dois, sim.

- O que a senhora fez, então?

- Os rendi e os amarrei no sofá, com mordaças na boca.

- E depois?

- Fui na cozinha e peguei uma faca. Voltei e enfiei no pescoço do marido. O sangue saía em um tubo, um jorro forte, vermelho, quase preto, talvez por que estivesse escuro. Depois foi diminuindo e começou a sair em esguichos menores e depois parou.

- A esposa dele teve alguma reação?

- Sim, ela parecia tentar gritar. E ela caiu do sofá.

- A mulher estava grávida, não é?

- Sim, estava.

- O que você fez então?

- Peguei um garfo de carne na cozinha e espetei no abdômen do homem. Então passei para a mulher.

- Você espetou um garfo de carne depois que ele estava morto?

- Foi para simbolizar que aquele corpo era apenas carne, sem importância.

- Entendo, continue.

- Esfaqueei a mulher e a mordaça caiu da boca dela. Foi quando ela implorou para que eu tivesse piedade do bebê dela.

- E o que você fez?

- Disse que não tinha remorso por ela, pois ela era uma parasita. Depois de algumas facadas ela parou de se mexer. De vez em quando pegava um osso e a faca não entrava bem, não tinha como saber se ela estava morta, então desferi mais algumas facadas.

- Mais oitenta e seis facadas, pelo que consta os laudos.

- Sim, senhor. Me pareceu a coisa certa a fazer.

- Certo. O que fez em seguida?

- Bem, eu abri a barriga dela e retirei o feto.

- E você utilizou o feto para escrever nas paredes?

- Sim, senhor. Escrevi a palavra parasitas na porta da frente e revolução na parede da sala.

- O que significam para você estas palavras?

- É quando os parasitas pararem de sugar a sociedade e Chuck começar a reinar como líder supremo.

- O seu marido irá virar rei do mundo?

- Sim, ele é um profeta, um messias. Logo irá acontecer.

- Olhe, senhora Leslie, já fazem quase quarenta anos que a senhora assassinou...

- ...libertei!

- ...aquele casal e até agora, nada aconteceu. De uma garota de dezenove anos, bonita e simpática, a senhora se transformou numa idosa beirando os sessenta, que ainda luta com um fantasma invisível achando que vai sair da prisão.

- Vocês podem falar o que quiserem, mas Chuck irá reinar sobre os homens um dia.

- Seu marido foi um psicopata assassino. Ele morreu na cadeira elétrica há mais de doze anos, senhora Leslie.

- Ele se libertou do seu jugo. Ele voltará. E ele jamais matou ninguém!

- Ele tinha pessoas como a senhora, que matavam por ele. Você não foi a única.

- Se Chuck começasse a matar pessoas, não sobraria nenhum de vocês.

- Entendo, senhora Leslie. Não vejo outra alternativa senão negar-lhe a condicional pela décima quarta vez. A senhora poderá tentar novamente em três anos.

- Foi amor. Você jamais entenderá.... Eu o amo e ele me ama.