CÉU, MAR E AMAR
Nos encontramos em frente a feirinha de artesanato, por volta das oito da noite. Era uma quinta-feira fria - em agosto os ventos em Natal sempre aumentam - ela usava uma casaco azul, como de costume, e os cabelos volumosos soltos. Descemos a ladeira rumo à praia, não demorou muito, em cinco minutos estávamos nas areias de Ponta Negra.
_ Não via a hora de botar os pés na areia. - exclamou após tirar o sapato amarelo.
_ E eu não via a hora de voltar aqui com você. Na última vez, mal deu tempo de aproveitar.
Ela olhou em meus olhos e, brevemente, me beijou.
_ Bobão. - sorriu - que tal andarmos um pouco?
Andamos mais quinze minutos. De mão dadas, conversávamos sobre nossa semana chata e de como a faculdade estava tomando nosso tempo. Paramos perto do Quiosque 25 e sentamos ali mesmo, na areia.
_ Pensar que não conhecemos nem noventa por cento do que há no céu. - comentei pensativo olhando pra cima.
_ Engraçado, não tinha reparado o quanto ele tá estrelado. - falou deitando na areia.
_ É por causa das luzes da cidade, como aqui quase não tem iluminação, conseguimos ver nitidamente.
_ Eu sabia disso.
_ Eu sei que você sabia.
_ E o senhor, sabia que várias estrelas dessas já nem existem mais? O que vemos é apenas a luz que um dia fora dela. De certa forma, quando olhamos para o céu, estamos olhando para o passado. Louco, não?
_ Eu queria que isso que a gente tem fosse que nem as estrelas.
_ Oi?
_ É. Mesmo que acabasse, que os outros ainda pudessem ver o quão belo foi o nosso amor.
_ Isso soou meio gay, sabia? - me deu àquele olhar irônico. Eu sorri e respondi.
_ Pô, eu tô falando sério. Queria que fosse eterno.
_ Então escreve um livro sobre mim.
_ E em qual parte do nosso confuso relacionamento eu começaria?
_ Que tal começar na praia de Ponta Negra? Cê podia falar sobre uma noite fria em que fizemos amor no mar.
Ficamos calados alguns segundos, apenas observando o céu, até eu quebrar o silêncio.
_ Você trouxe roupa de banho?
_ Quem disse que vamos precisar de roupa?
A água estava morna.