Amor, pipoca e Nutella.
“Tô só em casa, vem pra cá”
Não hesitei em mudar meu caminho. Estava indo pra faculdade, mas fazia tempo que a gente não se via, precisávamos acertar algumas coisas. A faculdade podia esperar. Nos conhecemos de forma engraçada, numa noite de ressaca em que pegamos a mesma garota. Foi nesse mesmo dia me encantei com a voz doce, de sotaque confuso, daquela menina que, mesmo na pior, expressava seu desejo de fazer amor. Eu tinha uma cópia da chave e entrei sem bater. Ela me esperava sentada na frente da TV, com uma camisa de mangas cortadas, sem sutiã, e com um short preto. Comia pipoca com Nutella.
_ Que demora! - me falou sorrindo – quer pipoca?
Aquele sorriso sacana me destruía. Tirei a camisa e sentei ao seu lado pra comer junto.
_ Que filme é esse?
_ Sei lá, acabei de me sentar aqui. Como cê demorou, fui fazer comida.
_ Eu tava com saudades de você.
_ É. Eu sei.
_ E?
_ E o quê? – olhou confusa.
_ Nada. Deixa pra lá.
_ Ah, frescura. Fala, por favor.
“Não faz esse olhar”, pensei em dizer. Era tarde.
_ Eu chego cheio de chamego e você nem da bola.
Ela não disse nada, apenas se levantou e foi em direção a cozinha. Colocava mais pipoca na vasilha quando abracei.
_ Quer mais pipoca? – falou com a voz trêmula.
_ Você sabe que não.
_ Sei?
_ Uhum.
Ela gemeu de leve quando rocei minha barba em seu pescoço. Ali mesmo, de costas para mim, tirou a camiseta. Suas costas eram longas. Na verdade, tudo nela era longo. Como um desenho do Tim Burton, magra com braços e pernas cumpridas. Adorava sua cintura fina. Adorava o estilo do Burton.
_ Vamos pro quarto.
_ Não. Vamos ficar aqui na cozinha.
Em um instante, tudo que tinha em cima da mesa estava no chão. A pipoca se espalhara pelo piso, enquanto alguma coisa de vidro se quebrava. Nossas roupas desapareceram e só foram encontradas no fim da tarde, depois de muito suor, corpo e Nutella.