Ela

     Encontrei-a em seu quarto, sentada sob as pernas na cama e vestindo uma de minhas camisas. Olhava as unhas pintadas de um vermelho escuro cuidadosamente como se elas fossem a coisa mais importante e interessante do mundo. Acomodei-me ao seu lado tirando uma mecha de seu cabelo para que pudesse ver seu rosto. Ela não se mexeu, continuou olhando para baixo. Acariciei a pele de seus braços. Sua respiração falhou, ficando mais rápida em seguida.
     Gentilmente, meus dedos tocaram seu queixo virando seu rosto para que eu pudesse vê-la melhor. Seus cabelos podiam estar bagunçados, a maquiagem borrada, os olhos inchados e vermelhos, mas ela continuava linda. Absurdamente linda.
     Acariciei suas bochechas. Ela estava corada e com os olhos fechados. Contornei, cuidadosamente, a linha de sua boca. Meus dedos tocaram seus lábios. Um suspiro escapou por entre eles. Podia sentir seu coração batendo tal rápido quanto o meu. Batidas ritmadas e frenéticas. Suas mãos tremiam, e uma delas tocou o braço em seu rosto.
     Vê-la, ou melhor, senti-la tão entregue aos meus carinhos fez com que eu perdesse o que restava de meu controle. Esqueci que ela estava fraca, frágil e vulnerável. Envolvi sua cintura fina com força para que não pudesse escapar. Ela abriu os olhos e me fitou com aqueles lindos orbes castanhos ainda molhados pelas lágrimas. Seu corpo ficou mais perto fazendo meus lábios roçarem em seu nariz. Inalei ser perfume. Ela cheirava a sabonete e amêndoas. Tão linda, e agora, tão minha.
     Então eu finalmente pude beijá-la. Finalmente pude sentir aquela boca em contato com a minha. Reconheci o gosto de morango do batom que ela usava e o salgado das lágrimas que ainda estavam ali. Pude sentir a essência quase celestial que a rondava. Um anjo, a minha menina.
     
E tudo ao nosso redor parou de existir.
     
Naty Dantas
Enviado por Naty Dantas em 29/01/2015
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