Quem nunca amou um professor?

_ Teu corpo. A única ilha no oceano do meu desejo. Teu corpo é tudo o que brilha, teu corpo é tudo o que cheira...

_ Rosa, flor de laranjeira. – Completei baixinho. Só pra mim.

Ele fechou o livro, ajeitou os óculos e continuou a aula. Naquela época eu tinha catorze, nem ao menos sabia o que era amor. Mas foi ali, naquela aula de literatura, ao ver os lábios do professor Roberto recitarem os versos do Manuel Bandeira, que descobri o real significado de desejo.

*

Ele tomou conta dos meus sonhos, da minha vida. Todos os dias, antes de dormir, o trazia para mim. Em suas aulas, enquanto recitava, imaginava o cheiro do seu suor, o roçar de sua barba em minha nuca. Nossa! Aquele cabelo grisalho me enlouquecia.

*

O amei platonicamente por todo o ensino médio. Sentava-me sempre na frente e, vez ou outra, morria do coração quando se lembrava do meu nome.

_ O Corvo, de Allan Poe.

_ Muito bom, Maria Eduarda. Uma poesia tecnicamente impecável e de beleza comparável ao seu sorriso.

Fiquei vermelha. Ele sempre fora simpático, mas nunca me elogiou daquele jeito. Todas as borboletas do meu estômago se remexeram. Na verdade, não me lembro do resto da aula, meu desejo era apenas um: tocar aquela boca.

*

A lista do vestibular saiu. Todos de cabeças raspadas, sobrancelhas com Band-aid e muitas lágrimas nos olhos. Não só pelo resultado do vestibular, era o último momento da turma: a aula da saudade. Ele saiu de lá por volta das dezenove horas, a festa ainda rolava e sem ele perceber, o segui até o carro.

_ O que você ta fazendo aqui, Maria Eduarda?

_ Eu precisava falar com você.

_ É... Acho que essa não é uma boa...

O beijei.

Ele se assustou e me afastou.

_ Menina, o que é isso?

_ Eu te amo.

_ Olha, você ta confusa. É normal. Mas eu sou seu professor a mais de quatro anos, te conheço desde a época que você gostava de bonecas.

_ Mas eu cresci.

Puxei sua mão e coloquei em meus seios.

_ Não posso, minha esposa está me esperando em casa.

_ Ela não precisa saber.

_ Mas você é apenas uma menina.

_ Eu sou a sua menina.

Abri seu zíper e ali mesmo, no estacionamento da escola, matei meu desejo de tocá-lo com meus lábios.

_ Me leva num motel, nunca fui a um.

*

Eu já tinha transado outras vezes, mas nada se comparou aquilo. Ele não era igual aos outros carinhas com fui para cama. Seu sexo era harmônico. Ele o conduzia como um maestro, não como aprendiz. Seus sussurros poéticos ao pé do ouvido me deixavam ainda mais louca. Eu nunca tinha gozado. Não daquela forma.

*

_ Eu preciso ir, minha esposa deve estar preocupada. - falou enquanto abotoava a camisa.

_ Tudo bem, entendo.

_ Foi muito...

_ É, foi maluco mesmo.

_ Eu ia dizer bom. Mas sim, foi maluco.

Eu apenas sorri.

_ Onde posso te deixar?

_ Não se preocupa, eu tomo um taxi.

_ Mas...

_ É sério, eu vou chegar bem.

_ Sendo assim, até mais.

Eu ainda estava nua na cama. Ele se aproximou e me deu um longo beijo.

_ Adeus. – sussurrei em seu ouvido.

Aquela foi à última vez que o vi. Apaguei seu número, excluí seu contato das minhas redes sociais. Não podia me dar ao luxo daquilo acontecer novamente. Não podia dar-me o luxo de conhecê-lo verdadeiramente. Meu amor deixaria de ser platônico. Preferi concentrar todas as minhas lembranças em um único momento. Naquela noite em que deixei ser admiradora da sua poesia e virei seu poema erótico.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 14/02/2015
Reeditado em 14/02/2015
Código do texto: T5136677
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