Flores para Maggie

Oi gente tudo bem? Então, este é meu primeiro conto publicado aqui, na verdade é meu primeiro conto publicado, então peço desculpas se a leitura não for de agrado, não tenho hábito de escrever sempre. Dicas e críticas -construtivas- são sempre bem vindas. Agradeço a todos.

Flores para Maggie - PARTE 1

O barulho do despertador era irritante, e em minutos alguma daquelas mulheres repugnantes estariam no quarto, gritando para nos acordar. As crianças menores ainda fingiam estarem dormindo, buscando um ponto de compaixão no coração das velhas na esperança de poderem descansar mais um pouco e se livrar do trabalho pesado que lhes era entregue todos os dias. Sem sucesso, depois de tanto tempo ali, percebi que não adiantava de nada apelar pelo lado emocional de nossas tutoras, elas eram frias e sem coração, além de sua feiura em excesso que assustava os menores, e elas pareciam gostar disso, o que as deixava mais horripilante ainda.

Era meu último ano, logo completaria 18 anos e seria mandada embora. Graças a Deus, não aguentava mais receber ordens e ser punida sem motivos, embora eu precisasse de um lugar para morar, preferia ficar na rua ao ficar mais tempo aprisionada naquele orfanato.

– Vamos logo, levantem suas crianças impertinentes, vocês tem trabalho a fazer. – Irmã Gertrudes. Ela era a encarregada pelas crianças menores, às obrigava a chamá-la de ''tia'' e quem a chamasse pelo nome seria severamente punido. Ela parecia literalmente uma bruxa, lhe faltava um dente canino e carregava consigo uma verruga na ponta do nariz que tinha o tamanho de uma azeitona. Era impossível olhar nos olhos dela. Gertrudes fora a mulher mais insensível que eu já conheci, acho que era por que o nome dela era muito feio.

As crianças choravam e esperneavam, algumas até a chutavam, o que a deixava ainda mais revoltada. Os menores, de 4 a 7 anos, ficam na área norte do orfanato, o quarto era espaçoso e possuía camas uma do lado da outra, na frente de cada cama havia um baú para os pertences pessoais de cada criança, na área norte não havia distinção de meninos e meninas, diferente da área leste, onde ficam as meninas maiores e a área oeste os meninos. Na área sul se encontrava o berçário, junto com a secretaria do orfanato. Creio que eu ficava junto com os menores por que não tinha lugar pra mim na área leste, mas as ''tias'' deram a desculpa de que me colocaram ali, pois eu era a mais velha e elas precisavam de ajuda na supervisão das crianças. Eu não me importava de ficar ali, passava bastante tempo com minha irmãzinha, menos quando éramos separadas, cada uma com sua tarefa.

Maggie não era de fato minha irmã, mas eu era a única ''adulta'' em que ela confiava. Chegou uns meses depois de mim, ela foi vítima de um acidente de carro no qual seus pais morreram e ela e o cachorro da família foram os únicos sobreviventes. Quando a resgataram, a separaram do filhote e ela chegou devastada no orfanato; era de partir o coração, eu estava na secretaria ajudando Zoraide com a papelada quando ela chegou. Gertrudes a acompanhava.

– Sente ai menina, e fique quietinha até ajeitarmos tudo por aqui. – Gertrudes estava com sua bata molhada e não parecia nenhum pouco contente em ter ido buscar a menina.

– Cadê o Tobby? Para onde levaram ele? – A menina implorava com seus olhos manhosos, estavam inchados e ela parecia sentir dor.

– Sua bolinha de pelos pulguenta não vai voltar para você, agora fique quieta ai. – ''criança impertinente'' ela sussurrava. Impertinente com certeza era sua palavra favorita e ela a usava com frequência, porém a ignorância da velha era tanta que provavelmente nem sabia o significado, apenas usava para se sentir inteligente e aumentar o seu ego, que era tão grande quanto ela.

Senti como se Gertrudes tivesse pisado do rosto frágil de Maggie, ela fez uma careta de desconforto e se encolheu no banco, apoiando o queixo nos antebraços, os mesmos, apoiados nos joelhos. Podia ouvir seu soluço baixinho, ela estava devastada e parecia cansada. Esperei a velha sair da secretaria e fui silenciosamente até o banco onde Maggie estava sentada e cutuquei seus joelhos.

–Ei, você está bem? – Perguntei baixinho, meu tom de voz era de preocupação.

Ela levantou a cabeça devagar e enxugou as lágrimas com a manga da blusa, olhou pra mim com aqueles olhos cor de mel que serviam de arena para a batalha entre a tristeza e a esperança, a compaixão que eu sentia não cabia no meu peito, e eu senti imensa vontade de chutar a cara de Gertrudes até aquela verruga imensa desgrudar do nariz -tão imenso quanto-. Nunca fui uma pessoa muito sensível com relação ao que as outras pessoas sentiam, para mim pouco importava, mas a cena que eu presenciava estava acabando comigo.

– É verdade que eu não vou mais ver o Tobby? O que fizeram com ele? – A voz doce da menina suplicava por uma resposta positiva. Dei um sorriso em troca

– Eu não sei, querida. Que tal eu ir perguntar para alguém?

– Tudo bem

Sai da secretaria as pressas sem saber aonde ir, ficar no mesmo ambiente que Maggie era torturante, queria poder reconfortá-la, mas não sabia direito como lidar com aquilo. A inocência estampada no rosto da menina deixava a carranca de Gertrudes ainda mais cruel. Andei sem rumo pelos corredores até avistar meu destino, a placa na cor prata já descascada em certos pontos, com a escrita ‘’Gertrudes’’ e ‘’subdiretora’’ em baixo em uma letra um tanto menor. Na verdade, ela mesma se auto titulou subdiretora, mas era uma funcionária qualquer, depois que descobri isso, aproximadamente dois meses depois, meu respeito para com ela (que já não era tão grande assim) se extinguiu completamente, e nem meros ‘’bom dia’’ restaram. Não me dei ao trabalho de bater na porta, simplesmente abri e entrei.

– O que aconteceu com o Tobby? – Ela pareceu não me dar atenção, usava seus óculos embaçados de armação quebrada e lia um livro, fingia concentração. – Você não me ouviu?- Insisti

Ela lentamente levantou sua cabeça, e fez um mínimo gesto negativo com ela, a cara de desprezo a deixava ainda mais feia. -Seus pais não lhe deram educação? Não sabe bater? – Aquilo machucou, a crueldade daquela mulher era realmente exorbitante, até mesmo para mim. Não fazia sentido referir-se sobre os pais para uma garota órfã, muito menos dessa maneira. Ela deu um meio sorriso, sabia que tinha me afetado e achava isso prazeroso.

– Perdão, eles não viveram tempo suficiente para isso – lhe lancei um sorriso recheado de sarcasmo.

Sua expressão se fechou, eu não devia enfrentá-la dessa maneira, mas não me arrependi.

– Diga logo o que você quer – ela voltou sua atenção para o livro por uns instantes e logo voltou a me encarar com aquela carranca horrorosa

– Quero saber o que aconteceu com o Tobby

– Você quer dizer aquele circo de pulgas que veio com a garota?

– Não é um circo de pulgas – retruquei rispidamente

– Chame como você quiser, qual seu interesse nisso? – Ela me fitou por alguns segundos, mas não esperou por uma resposta- Pois bem, já que quer tanto saber eu lhe contarei. O cão apesar de ter sobrevivido ao acidente, estava com muitos ferimentos e teve de ser sacrificado. Foi isso que aconteceu, satisfeita? - Ela cuspia as palavras em meu rosto, eu devo ter feito uma expressão de angústia para ela ter dado aquele sorriso falso e me mandando embora. Eu fui lá esperando trazer de volta uma resposta boa para Maggie, o que eu a diria agora?. Fui andando lentamente pelos corredores, não queria ter de voltar para a secretaria e encarar o rosto angelical de Maggie, eu não carregava comigo boas notícias e não queria que a sua primeira noite no inferno fosse tão ruim quanto a minha fora. Tentava formular frases coerentes que passassem a mensagem de forma não tão direta e grotesca, o cão era a única lembrança do lugar de onde viera, eu sentia que era importante para ela.

Juliana Cordeiro
Enviado por Juliana Cordeiro em 24/02/2015
Código do texto: T5149168
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.