Isabela

Ela passava por ali todo fim de semana, geralmente quando voltava da escola, e, totalmente absorvida, não esboçava qualquer inquietação ou pressa de voltar para casa. Tinha apenas dezessete anos, dentro de três semanas faria dezoito. Por esta razão, assim que adentrou a cortina que separava as estantes da área imprópria para menores das demais estantes da locadora, foi imediatamente agarrada pelo vendedor.

- Desculpe, Isabela, você não pode entrar ai.

- Por que não? Eu irei alcançar a maioridade em algumas semanas.

- Está vendo ali no canto? - sussurrou ele, dissimulado, abraçando-a, beijando-a e comprimindo-a com a cintura. - É um policial. Se ele ver você comprando isso, eu posso ser preso, sabia?

- Por quê? - perguntou ela, franzindo o cenho. - Não faz sentido isso. Nós já transamos no fundo da loja, lembra? Se eu posso ver o seu pau ao vivo, em "carne e osso", e interagir com ele, por que não posso assistir a um pornô? E se eu fizer um filme caseiro? Não o poderei assistir? O policial agora irá determinar com quem eu devo transar? Tenho mais do que catorze e, legalmente, desde que seja com meu consentimento, posso transar com quem eu bem quiser.

Ditas estas palavras, desembaraçou-se dele, agarrou alguns filmes entre os braços e jogou desdenhosamente o dinheiro sobre o balcão; em seguida, dirigiu-se até o policial e com voz séria e firme lançou-lhe severas críticas.

- Eu vou levar os filmes, sim. Tente me impedir, tente! E tem mais, vou até o bar para beber cerveja com alguns amigos. Se o senhor pode defender a redução da menoridade penal, eu posso fazer o mesmo em relação à cerveja! Aliás, devo dirigir bem melhor do que o senhor também. Viu como o seu carro está estacionado lá fora?

Isabela sempre foi assim. Sua mãe havia uma vez dito que quando menina parou de dar-lhe mesada porque a pequena só sabia usar o dinheiro para gastar com doces.

- Isso irá estragar os seus dentes, menina.

Com a boca lambuzada de doces, ela respondia:

- Problema meu. O seu cigarro irá estragar os seus pulmões.

- Eu faço isso para o seu bem.

- Eu posso proibi-la de fumar para o seu bem?

- Um dia você irá se arrepender disso e desejará dentes brancos e fortes, além disso é muito imatura para fazer suas próprias escolhas.

- O fato de que eu poderei me arrepender amanhã não é razão para me proibir de fazer alguma coisa. A senhora poderá se arrepender de muita coisa também e nem por isso lhe é negado o direito de escolher. E eu não sou imatura, tenho apenas interesses concernentes à minha idade. Futuramente eles não serão mais maduros, serão simplesmente outros e para mim, pois estarei mais velha, parecerão mais maduros, mas apenas por esta razão.

A maldita sempre tinha uma resposta pronta e atrevida, ardente na ponta da língua. Hoje, pensando calmamente com meus botões, depois de ter lhe dado aula por vários anos, eu agradeço a Deus por apenas duas coisas. Por não ter votado no Collor e por não ter sido pai nem mãe de Isabela.

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