Hector Rutters - Vejo da janela amores a velejar

O cobertor da introspecção maldita me aquece e me protege das desilusões mundanas. Se realmente o que dizem que o amor transforma uma vida, transforma o seu interior, ocasiona uma mudança brusca no seu comportamento, um lado meu acredita seriamente nesta hipótese e o outro não suporta ouvir a palavra que possuí esse poder de alteração de humor e atitudes. Eu prefiro me trancar e engolir as chaves no meu lado obscuro que reage totalmente contra esta ideia, por alguns, incontestável.

O que eu quero expressar é o meu sentimento de abandono. Esse sentimento solitário e melancólico que mais rege em meu ser. Há tantas oportunidades de amor esparramadas nas ruas inóspitas do mundo, só não há em meus olhos que fingem não querer enxergar. Esta oportunidade da grande mudança interna e externa. Essa oportunidade que se chama (maldito) amor. Não creio em prosperidade quando se rega um coração com isso. A prosperidade e consequentemente a felicidade podem ser desenvolvidas quando se está sozinho, quando se sente solitário em um universo tão amplo e cheio, não vazio em virtude da escuridão profunda, mas sim, realmente cheio de vida que não se pode precisamente comprovar.

Eu não pretendo me entregar de braços abertos a este abismo que me cega. Pois, veja bem, a todo instante os meus olhos se cruzam com os de outro alguém, entretanto, algo, julgo ser comigo mesmo, cria uma espécie de zona proibida entre eu e a alma a ser amada. Eu tenho um mundo repleto de inspiração, inundado por cargas pesadas de cultura, conhecimento, sabedoria, intelectualidade. Tenho uma bandeja de temáticas imprescindíveis e encantadoras a oferecer a uma pessoa, tenho tantas coisas a oferecer gratuitas em troca de carinho, mas... É como em um catálogo de casas de aluguel. Quando se encontra a casa perfeita, ou com aquela incerteza que coça atrás da orelha acha que se é perfeita para habitá-la, instintivamente ocorre um julgamento, algo, talvez a própria imagem da casa, não traz boas energias. Parece ser bastante ininteligível, porém, é disso que estou falando. Estou falando do recuo imediato de um amor verdadeiro que hesita constantemente em bater na porta do meu adorável mundo introspectivo intelectual e surpreendente.

O que mais percebo e o que mais tenho certeza, é que os indivíduos não querem saber de conhecimento algum, por isso, por isso eu vivo dizendo que é bom sermos crédulos perante a este fato, os alienígenas sempre nos comunicam a respeito de adquirir conhecimento, o primordial para entender, talvez, o amor. O que me chateia bastante, por que disso eu tenho de sobra e nunca o compreendo.

Então, o que eu faço? Adentro em meu mundo de quatro imensas paredes, com um sorvedouro no teto, e vejo da janela os amores a velejar. Vejo os amantes, tão poéticos, e por dentro sujos, beijarem-se e entregar o coração um para o outro. Isso me entristece. Ah! Talvez o motivo que impeça as pessoas de alugarem casas desconhecidas, seja pelo fato de alguém ter morrido dentro dela e a alma zombeteira ainda apareça por lá. É talvez também deva ser isso que acontece comigo, nenhum amor entra em meu mundo, por que sabe, ou não, que algo morreu nele, está putrefato. O meu coração ferido por flechas mal atiradas e espinhos cravados, raízes mal plantada, naquela leve, ínfima e quase impossível esperança de algo florescer.

Rogério Varanis
Enviado por Rogério Varanis em 26/03/2015
Código do texto: T5184026
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