A tempos pressentia sua chegada, numa espécie de ansiedade contida, um sentimento de proximidade, uma presença que vinha, sorrateiramente, cada dia mais perto, cada dia mais forte. Era uma estranha sensação de pertencimento mútuo a um desconhecido que caminhava, em algum canto da vida, para cruzar na com sua. Loucura, instinto ou esperança? Só o tempo diria.
     Já havia sonhado diversas vezes com seu misterioso amor, sabia que seus cabelos eram castanhos, seus olhos de chocolate, doces e sorridentes. Não eram mais estranhos, eram amantes nas terras de Morfeu, lá tinham seu mundo. Mas eram apenas sonhos, vívidos e sedutores, mas eram ainda assim sonhos. Uma pena, nunca lembrava seu rosto, mas o conhecia bem.
     Ela seguia imersa em sua solidão voluntária, resguardando seu coração para seu bem amado. Algo em seu íntimo lhe assegurava que não perdia sua razão, e para Mali, ele era tão ou mais real que qualquer outro que já houvesse conhecido, e aguardava com sofreguidão a hora de seus passeios de mãos dados no escuro de seu quarto. Por que demorava tanto a encontrá-la? Teria desistido ou não sentia o mesmo que ela: como uma luz ofuscante atraindo insetos.
     Numa tarde de agosto, com as ruas pintadas de folhas caídas e vento que predizia o inverno próximo, ele apareceu. A príncípio só lhe notou os olhos doces, e a repentina vontade de abraçar o desconhecido de rosto familiar quando se cruzaram na rua. Ambos estacaram poucas passadas adiante, como se algo lhes tivesse escapado, algo importante a muito esperado. Confusos, voltaram o olhar uma vez mais para trás e então se viraram, caminharam em direção um ao outro e ...
Déjà vu

Continua... 
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