Não me acorde (capítulo 9)

— Não, não, não, não, não pode ser...

Era ela? A "Senhorita V"?

Viktor ficou tanto tempo pensando, olhando, que demorou exatos sete segundos pra se levantar e...

— Motorista! Para o ônibus!

— Quê?

— Para o ônibus!

— Mas eu não posso, são...

— É uma emergência!

O motorista parou, mas já era tarde demais, quando Viktor desceu, começou a correr pra trás, mas não viu de jeito nenhum a moça.

— O que o senhor quer?

— Nada, desculpe, pode continuar a viagem, eu vou ficar por aqui.

— Então tá bom.

...

— Nossa, eu não acredito... Era ela, eu tenho certeza que era ela.

Já estava no final de uma tarde bem ventilada, Viktor ficou parado num banco onde desceu do ônibus por mais algum tempo e pegou um ônibus, público mesmo, demorou um pouco mas chegou em casa.

— Ai, meu Deus, Senhorita V, eu não consigo mais ficar sem você por muito tempo, ou eu durmo, ou eu me afundo nessa poesia que é a vida, até lhe encontrar.

Era uma paixão totalmente atípica, Viktor nunca falou com ela... Viktor nem tinha a certeza de que ela realmente existia, pois aquela moça que ele viu do ônibus poderia ser um engano.

Enquanto Viktor estava sentado na cama pensando, viu que seu livro estava do lado do ventilador. Sim, o "Você acredita em sonhos?".

Viktor logo pegou o livro e o abriu, e no começo do livro continha...

— "Séculos se passaram, e nunca descobriram o que exatamente é um sonho. Quantas vezes sonhamos por noite? Os sonhos significam alguma coisa? Você sonha com algo que pensou muito ou com algo que quase não pensou? Os sonhos são bem mais abstratos e complexos do que você e qualquer um pode imaginar."

Viktor lia sem parar, com os olhos vidrados.

— "Mas você leu a capa do livro? Você acredita em sonhos? Mas o que de fato seria acreditar no sonho? Ele representa algo pra você?."

Viktor não sabia muito o que "responder" para o livro... pois ele mesmo queria saber se acreditava em sonhos.

— "Aliás, você mesmo quer saber se acredita em sonhos, certo?"

Viktor ficou assustado quando leu essa parte, na qual dizia exatamente o que ele pensava.

— "A questão é: Você acredita em sonhos ou quer acreditar neles? Se você sonha com um trabalho bom, é porque quer ter um trabalho bom. Se sonha com uma casa perfeita, é porque quer uma casa perfeita. Se sonha com uma moça, é porque quer essa moça. Mas será que tudo que sonhamos é porque queremos mesmo?"

Viktor parou de ler um pouco pra pensar, refletir... Ora... Ele queria aquilo que sonhava? CLARO QUE SIM!

— Se tem uma coisa que eu quero, essa coisa é essa moça! Minha vida está se resumindo em sonhar com ela e pensar nela quando acordado, eu estou apaixonado, e nem ao menos sei seu nome, nem ao menos sei se ela existe!

Viktor continuou lendo...

— Talvez você queira algo que esteja em algum sonho, mas talvez você repudie esse algo...

Enquanto Viktor lia, caiu no sono...

Era tudo branco... o chão, as paredes, o céu, tudo branco.

— Nossa, que estranho essa sensação. Eu simplesmente sei que estou sonhando, e, aliás... cadê a "Senhorita V?" FINALMENTE! Estou pronto para vê-la, e poder conversar com ela, sabendo que é ela. Meu Deus, esse é o melhor sonho da minha vida! E se eu conseguir um beijo dela? Ora, Viktor, pare de pensar bobagens. Do jeito que estou obcecado por ela, um simples afago em suas mãos já vai me deixar arrepiado. Nossa, mas conversar com ela assim, na cara dura... já estou ficando nervoso. Eu vou tentar ser bem calmo, tranquilo... E quero sentir bem o cheiro dela! E se por acas...

— Você fala demais, Viktor! — falou alguém o interrompendo.

— Oi? Quê? O quê? Quem é?

— Sua mãe já lhe falou sobre essa ansiedade? Isso pode lhe fazer mal, viu? Pode até dar tonturas.

Viktor não entendia nada, era uma voz masculina, não era a Senhorita V, ele queria a Senhorita V, onde está a Senhorita V?

Mas, de repente, ele começou a achar a voz familiar...

— Essa voz... eu tenho uma leve impressão de que a conheço...

— Claro que a conhece, como iria se esquecer do carinha mais gente fina que...

— Ostos?

— Hahahahaha! Acertou rápido pra quem me viu só uma vez.

— Mas por que diabos eu estou sonhando com você?

— Calma, Viktor, eu não tenho o mesmo corpo de violão que a sua madame tem mas ainda dou pro gasto. — falava ele com um tom de piada que só ele mesmo entendeu, pois Viktor ficou calado com uma cara séria mesclada ao medo.

...

— Nossa, fora do sonho você tem um humor melhor.

— Mas, Ostos, por que você está aqui?

— Viktor, você se lembra o que aconteceu na tarde de ontem? Digo ontem porque já passou da meia noite.

— Claro, eu fui fazer uns testes de administração numa empresa bem no outro lado da cida... Ei! E na volta eu vi uma moça muito parecida com essa que vejo em meus sonhos! Mas... Ei! Eu lembro de uma coisa! Você sabe meu nome, sendo que eu nunca lhe disse! Na sua loja mesmo você disse meu nome, e o pior, perguntou algo sobre a Senhorita V! COMO SABE QUEM EU SOU? E COMO SABE SOBRE A SENHORITA V?

— Hahahahahahahahahahaha! — Ostos ria alto, achando toda aquela exaltação de Viktor bem engraçada.

— Viktor, você se lembra da Meladie?

— Ostos, você é Deus? Porque só pode, conhece todo mundo da cidade! Claro que lembro, por quê?!

— Ela lembra.

— Quê?

Viktor esperava resposta, mas...

— Quê? Do quê?

...

— Como assim, Ostos? Eu não entendi o que você falou.

...

— Ostos?

...

— AH, NÃO, SE VOCÊ ACHA MESMO QUE VAI PARAR DE RESPONDER DO NADA, VOCÊ ESTÁ MUITO ENGA...

BUM! As luzes se apagam, não há mais nada, nada mais tem cheiro, nada mais tem som, nada mais tem cor...

— MAS QUE DIABOS FOI ISSO?!