O MISERÁVEL PECADOR - ROMANCE

St Gile's, nos arredores de Londres, era o cenário da vida miserável que Agesilau vivia em 1830. Havia perdido os pais aos três anos de idade. Age como ficou conhecido, vivia entre miseráveis, operários, criminosos e entre as prostitutas. Aos oito anos de idade, em um domingo, foi levado até St. Pauls Cathedral para mendigar e conseguir alguma comida, pois o outono estava no final e o inverno rigoroso inglês aproximava-se. Por volta dás dez horas da manhã, bem ao final da missa, Agesilau já havia conseguido uma moeda e um pão, e decidira voltar para casa pois sua roupa era velha e surrada, e sentia-se envergonhado perante as pessoas que transitavam para lá e para cá. Cabisbaixo, Age segue então pela calçada rústica até tropeçar e cari diante de um cavalo enorme e totalmente branco, que puxava uma imponente carruagem. Por pouco não foi atropelado. Refeito do susto, se levanta e segue o seu caminho sem perceber que o cocheiro o havia alcançado a mando do seu patrão. Age retorna com o cocheiro e dá de cara com um Lorde Inglês, acompanhado da filha de nove anos, chamada Delphinne. Agesilau ficou completamente envergonhado diante da garota. Jamais havia visto garota tão bem arrumada, a mais bela que havia visto em toda a sua vida. O Lorde lhe dá uma moeda de prata e promete enviar-lhe roupas. Naquele exato momento, o Frade Ralf que passava pelo local, foi apresentado pelo Lorde ao pequeno Age. O Frade Ralf o convida a conhecer o Mosteiro. Agesilau recusa e foge desesperado, achava tudo aquilo uma loucura. Na semana seguinte, Age volta novamente no domingo a St Paul's Cathedral, para mendigar novamente. Novamente vê o Lord , sua filha Delphinne e o Frade Ralf. Desconfortável e desconfiado, Age decide esconder-se atrás de um tapume, até que fossem embora. Passa então a sentir um perfume de jasmim no ar e ao mesmo tempo escuta uma doce voz atrás de si que o chamava pelo nome. Era Delphinne, linda, a mais bela garota que já havia visto. Foge novamente em desabalada carreira e passa a semana pensando e sonhando com a garota. Um ano se passou sem Age voltasse a Cathedral. Morria de medo do Lord e do Frade. Certa manhã no início da primavera, sucumbe com uma forte dor de garganta, febre alta e dores no corpo todo. É levado ao Mosteiro, onde fica internado por quinze dias e quinze noites até que consegue se recuperar. Agesilau já tinha deis anos de idade, dos quais, quase dois anos, sonhava insistentemente com Delphinne. O Frade Raul o convida a morar se tornar um Frade. Com a benção de Deus, Age viria a se tornar Frade aos Dezoito anos e nos anos que viveu recluso no Mosteiro, dedicou-se a amar o próximo e a aprender as bem aventuranças. Conheceu a palavra de Deus, tornou-se um religioso culto, lendo obras magnificas de profetas e filósofos, além do aprendizado diário com os Frades. Ordenou-se e pode sair pela primeira vez do Mosteiro, onde pregava aos pobres e fazia obras de caridade. Acolhia os enfermos e doava alimentos aos necessitados. Certa manhã de domingo, Frade Agesilau foi até a St Paul's Cathedral a fim de participar da missa matinal. Durante a cerimônia percebe na fila da direita, um Lorde e uma linda moça que aparentava ter a mesma idade que tinha. Era uma linda mulher! Pensa imediatamente que não poderia ser ela, depois de tantos anos. Suas pernas tremeram. Era mesmo Delphinne e seu pai. Acanhado, Age se aproxima deles e os relembra do ocorrido no passado. O Lorde imediatamente se lembrou do garoto fujão. Delphinne, como que um canto angelical, sussurra o seu nome... Agesilau! Ele fica estático, ela não esquecera o seu nome nestes anos todos? Impossível, ela o ama e ele também a ama loucamente? Não pode ser, é apenas uma lembrança de infância, pensou Agesilau! Age retorna ao Mosteiro e decide não sair mais aos domingos e, para isto, passou a desdobrar-se nos trabalhos voluntários para tentar esquecer Delphinne. Dois anos depois Agesilau retorna a St. Paul's Cathedral e, ao entrar pela porta principal, percebe um movimento na sacristia. Aproxima-se e vê o Lord conversando com o Padre Rudolf, que acabavam de acertar a data do casamento de Delphinne. Age se desespera e, novamente bate em retirada ao Mosteiro. Reza por horas a fio e, decide procurar Delphinne de qualquer maneira. Depois de diversas tentativas, Agesilau consegue encontrá-la e o primeiro e único encontro em muitos anos, acaba em um beijo quente e cheio de ternura! Delphine e Agesilau, abandonados a própria sorte, amavam-se profundamente sem sequer nunca terem conversado o suficiente para preencher uma página escrita e, agora, ele era um Religioso pobre, miserável e comprometido com Deus, e ela, era a filha de um nobre Inglês, prometida em casamento ao filho de um outro nobre. Agesilau pensa em fugir com Delphinne. Sequer profissão ele tinha! Não tinha propriedades, dinheiro ou qualquer outro recurso. Agesilau tinha apenas o dia e a noite, tinha sua obra junto a Deus, aos Frades e o Mosteiro e os pobres que socorria.

O casamento iria acontecer na primeira semana de outubro e Agesilau decide fugir desesperadamente e sem rumo. Foi esconder-se um estábulo de uma fazenda ao Norte de Londres, onde passou duas semanas sem olhar sequer a luz do sol. Tenta então se recuperar do sabor amargo que o destino havia lhe enviado. Quando retorna fica sabendo que o casamento de Delphinne seria na próxima semana e decide se eclausurar por trinta dias até que o casamento fosse realizado. Nunca mais Agesilau viu sua amada Delphinne e, passou a se dedicar somente aos propósitos de Deus. Estava amando, pecando e sentindo a dor do amor. Por longos 34 anos, Age sorriu para o infinito tentando esquecer da Delphinne. Em uma tarde quente de verão, Agesilau é chamado para visitar e encomendar a alma uma nobre senhora que era viúva. Agesilau toma sua Bíblia, e segue rumo á casa da moribunda. Ao entrar na suntuosa casa se depara com um rosto envelhecido e conhecido. Era Delphinne, que estava acompanhada das duas filhas, uma de cada lado da cama. Estavam aguardando o religioso que iria encomendar a alma da mãe! Ao vê-lo, Delphinne deixa escorrer duas lágrimas dos lindos e inconfundíveis olhos azuis. Ao se aproximar Agesilau chora copiosamente! Inicia então, o sacramento da extrema unção, orando pela alma de Delphinne. Quando finalmente termina, retira do meio de sua Bíblia um pequeno pedaço de papel antigo e amassado e o entrega a Delphinne! Ela jamais chegou a ler! Suas duas filhas, conheciam a história do garoto fujão que a mãe um dia havia contado, logo após ter enviuvado! Assim, repletas de tristeza, as filhas decidiram colocar na lápide da mãe o conteúdo do bilhete de Agesilau:

''Você é poesia pura, já perdi as contas de quantas vezes sonhei com você! Sonho em acariciar o teu rosto e beijar a tua boca! Devo estar pecando, mas este é o meu mais puro sentimento e, por isto lhe peço perdão! Meu amor por você é infinito, assim como a distância que nos separa. Sei que nosso amor é impossível, mas, na noite, no meu travesseiro, sinto a tua presença, sinto a tua fragrância, sinto o teu calor! Iguais ao Sol e a Lua, que nunca poderão ficar juntos, assim somos nós dois! Meu coração sempre será teu e, a minha alma, é a grande testemunha de minha dor.”

Delphinne e Agesilau jamais se encontraram no amor terreno, mas, diz a lenda, que foram morar no céu, pois após o enterro de Delphinne, Agesilau jamais foi visto...

Geraldo Cossalter
Enviado por Geraldo Cossalter em 18/07/2015
Reeditado em 18/07/2015
Código do texto: T5314819
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