A vida é estranha, werewolf.

Werewolf deve estar deitado, ferindo a tela, comendo, ou até mesmo não pensando em nada. Suas mãos exploram a verdade no seu pensamento inalcançável, porque suas palavras caminham através do silêncio em que elas se permitem. Ninguém sabe da sua verdadeira história. Ele constrói uma barreira daquilo em que ele mesmo se esconde, e isso é o máximo alcançável, a barreira. Do lado de fora existe um jovem caçador aposentado no seu ofício, e que admira o conforto da sua tristeza aparentemente feliz, isso porque ele se mostra no uivar da lua cheia. Nada pode se ter desse werewolf feroz e hostil, mas o caçador insisti em reprimir sua tristeza através de algo que ninguém pudesse imaginar. Lá fora, espera o caçador procurando uma maneira de penetrar a barreira, e temendo isso, werewolf se apresenta do outro lado. O caçador se paralisa, também sente medo. Não existiu em qualquer tempo algo que tenha sido tão significativo para ele. Não se ouve o uivar, ou as palavras do jovem caçador. De frente os dois se olham, não se tocam, apenas se olham. Olhos azuis, olhos castanhos. Estavam tão frios. O caçador desaparecia em si mesmo tentando tomar o controle que havia perdido. Werewolf sorri, pois sabe que dele depende o segundo instante. O caçador respira fundo, não aparentar segurar o fôlego, e então o toca com sua mão fria e quase trêmula.

A vida é estranha:

Na minha mente se cria uma imagem cansada desse tempo. Desço três degraus. O sol cega meus olhos. Tenho viajado por tanto tempo, que por estar cansado não sei qual foi a última vez que comi. Em uma cidade fria, com vinte e oito gráus sinto calor. Vou até o banheiro e lavo o rosto. Volto para perto de onde nunca soube que pudesse existir alguém, ou o que sinto. Sem pensar, ascendo um cigarro para espantar a fome. Não há música, porque perdi meus fones na última parada das doze horas que tenho viajado. Entro no próximo ônibus. Não há mais ninguém além de mim, se é que mentalmente estou em algum lugar. Com os olhos semicerrados vejo plantações e estradas de barro. Consigo avistar também uma represa que pode estar se aproximando. Durmo. Não sei se sonhei. Eu estive muito cansado. Algumas pessoas dizem que quando se está cansado a gente não costuma ter sonhos. Desço em outra rodoviária, sou recebido. Como carne vergonhosamente. Sinto a dor de cada pedaço que corto. Não sei se sou um bom hospede, porque não entendo o que as pessoas esperam de mim, e não adianta falar em simplicidade, pois as coisas nunca são simples.

Tomo banho. Me visto. Nunca estive tão nervoso. A noite nunca esteve tão fria. Subo e desço ruas, mas no final me sento. Você chega. Eu morro em silêncio. Eu trocaria tudo o que tenho por mais ar. Não há nada entre nós, e ao mesmo tempo todas as frustrações do mundo nos impede de estar ali. Você já deve ter lidado com isso outras vezes, porque me pareceu tranquilo e divertido. Não sei como chegamos nisso, mas não consigo parar de te beijar. Em cada intervalo você sorri tranquilamente, enquanto eu só me arrependo de ter ficado entre o que eu quero e o que vai acontecer.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 05/08/2015
Reeditado em 07/08/2015
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