O Lago Dos Cisnes-PENÚLTIMO CAP.

Milhões de anos se passaram na cronologia andradiana.

Ele possuía uma maneira incomum de mensurar o tempo.

Tempo sem respostas concretas.

Tempo de manifestações álgidas e pensamentos anacrônicos.

Tempo de desejos ingovernáveis.

No rodapé ,da sua agenda, havia um pensamento de Herbert Samuel :

“O mundo é como um espelho. Se olhar severo para ele,

ele franze a testa para você. Se você sorrir, ele sorrir também! “

Mas nem a filosófica frase poderia aliviar ou trazer subitamente algum lenitivo,pois o aspecto do semblante não aprendia desentristecer,

e a esperança era espuma que se desfazia sob as águas do tempo.

Andrade sabia da fugacidade das coisas.

O peso incalculável que a desventura trazia.

Ele compreendia os perigos daquela celeuma mental.

As vozes dos pensamentos gritando na sala da memória.

A noite com seu cântico de soturnidade e a coruja proterva da insônia.

Ah! Ele ficou só.

Como barcos parados no silêncio dos portos!

Sim, alguém já viu esses barcos?

Parecem dizer coisas em segredos e mistérios.Embarcações de viagens interrompidas, que não abraçaram a rota do destino.

O leitor certamente esquecerá as palavras lidas hoje.

Mas a pessoa que fez as palavras existirem, nunca mais iria esquecer.

Nunca mais seria a mesma, pois a história construída se tornou um legado! Para que fosse ao coração dela, toda vida.

Ela se lembraria dele.

Reservada, num canto, quieta e calada.

Pois a os dias futuros seriam uma mensagem subliminar .

Enquanto de alguma forma a presença dele estaria dentro dos livros.

Era um momento de harmoniosas expectativas naqueles dias calmosos de inverno.No clarão do sol, a companhia russa de balé passeava pela zona sul.Era a primeira vez que os renomados bailarinos se apresentariam no Teatro Municipal.Porém, as linhas transcendentais

e esfíngicas do escritor destino projetava algo inesperado.

A componente principal do grupo moscovita torceu o pé direito numa caminhada.O acidente trouxe inquietação aos responsáveis pelo grandioso projeto de dança.Buscaram uma bailarina brasileira que pudesse substituir à russa.Débora Colker, consultada, desembaulou na sua memória uma figura nobre, que tivesse leveza e técnica , gestos maviosos e seguros , capaz de fazer a encenação.

Afinal, era a apresentação do clássico O LAGO DOS CISNES.

Munique foi escolhida.

Ela tinha uma nuança delicada, olhos que fascinam...

Olhos que escondiam herméticos segredos.

Os seus movimentos possuíam uma graça inefável de uma divina da inspiração!A meia calça assenhorava-se com avidez das suas pernas imponentes e delicadas.Seu sorriso tinha o resplendor sublimar dos anéis de saturno.

Ela tinha uma maneira única, cheia de seduzimento no descortinar d as coreografias.Assisti-la: sempre uma girândola de emoção chamejante!...

Munique era cinema de Fellini, porque quando bailava,

seus passos nos traziam cheiro de nuvens e ecos mimosos

em ditoso primor.Toda formosa, esculpida em singela beleza,

de formas suaves, encantadoramente indescritível.

Munique foi escolhida! Munique foi escolhida!

As notícias incendiaram BOOKFIVE.

Os jornais estampavam na primeira página:

- Brasileira é escolhida para integrar balé russo no Municipal.

NOITE DE ESTRÉIA

Os arpejos do piano ébano luziam Tchaikovsky.

Um Tchaikovsky decorativo, melodioso, e ritmicamente virtuoso.

O Lago dos Cisnes conta a história de Odette, uma princesa transformada em cisne. O Príncipe Siegfried se apaixona por Odette.

O passatempo favorito dele é a caça. Numas das expedições com seus companheiros, algo inesperado acontece:No meio da floresta, Siegfried e seus amigos chegam a um lago.Um belo cisne surge usando uma coroa. De repente o cisne transforma-se na jovem mais bonita que ele havia contemplado: Princesa Odette, a Rainha dos Cisnes.

Impressionado com sua beleza, Siegfried se apaixona por ela.

Ela diz-lhe a sua história, explicando que ela está sob um encanto de Von Rothbart e que foi transformada em um cisne e só recupera sua forma humana ao anoitecer,sendo obrigada a viver por um lago que foi magicamente formado a partir das lágrimas derramadas por sua mãe de luto, após Rothbart rapta-lá. A única maneira de o feitiço ser quebrado é pelo poder do amor eterno entre Odette e um jovem que permanecerá fiel a ela, pois se o voto de amor eterno for quebrado, ela permanecerá um cisne para sempre. Odette se apaixona por príncipe Siegfried,

a esperança de sua liberdade finalmente parece atingir o momento culminante.Entretanto, Siegfried é enganado por Von Rothbart e quebra o seu voto.Na noite do Baile, Siegfried rejeita várias noivas, esperando Odette chegar.Ele sente-se esfuziante quando finalmente ela chega.

Mas na verdade é filha de Rothbart (Odile) disfarçada por ilusionismo como Odette. Sem suspeitar da imagem falaciosa, Siegfried se apaixona pela trapaça e promete amor eterno a Odile, pensando que ela é Odette e agora tudo parece perdido...Siegfried segue Odette de volta para o lago e implora que ela o perdoe.Ela o perdoa, pois sabe que houve uma conspiração.Mas explica a escolha da morte, para que ela possa escapar feitiço de Rothbart. Recusando-se a viver sem ela, Siegfried decide morrer com a amada e ambos se jogam no lago,

reunindo-se em morte por toda a eternidade!!

A noite de apresentação foi um sucesso!

Todos estavam presentes ali; amigos, família, empresas...

E a fraqueza dela: Homens de cabelos compridos!

Munique foi inundada por uma chuva de flashes.

De repente, um rosto desconhecido no meio da chusma, avança em sua direção com um enorme ramalhete de flores , as suas preferidas.

-É para você Munique! Disse o portador.

- Quem mandou? Perguntou ela, após verificar que não havia cartão.

O rapaz nada respondeu e sumiu entre os convidados.

Naquela hora, em meio à celeuma do salão apinhado de gente,

Munique lembrou...Nunca havia falado diretamente, mas de uma forma inevitável ela pensava nele.Ela mesma um dia disse que se preocupava com os outros.Porém, temia em perguntar, tinha receio de estar perto dele.Porque Andrade sempre dizia coisas inesperadas, sem ponto e vírgulas.Munique, ás vezes tinha a sensação de um ser estranho entre as pessoas.De sentir-se só em meio às multidões.

Esse seu sentimento de inadequação à realidade, voltada para si mesmo,desvinculada de compromissos sérios , revelava que Munique não tinha autodefinição.Faltava-lhe alguma coisa que pudesse dar sentido real a tudo.Ela foi para casa intrigada.

Quem enviou as flores? Por que não se identificou?

Ah! Como diz a canção popular, os livros na estante já não tinha tanta importância...Nada lhe restava, só a vontade louca de encontrar alguém.Alguém que realmente se importava com ela, que pudesse dividir momentos. O motivo nem ela já sabia explicar, mas queria estar ao seu lado outra vez!Nem que fosse para estar ao lado dele para ler no seu rosto,aquela única e verdadeira mensagem de amor!

CARLOS HENRIQUE MATTOS
Enviado por CARLOS HENRIQUE MATTOS em 21/08/2015
Reeditado em 21/08/2015
Código do texto: T5354330
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