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Principal - Vista parcial de Lucca



A LUA EM TOSCANA

 
 
Tinham alugado um carro à chegada ao aeroporto de Malpensa, em Milão. A funcionária da Avis, muito simpática, arranjou-lhes um Fiat Punto quase novo.
Deram uma volta pela cidade, detendo-se a visitar a Catedral, Il Duomo de Milano, imponente na sua arquitetura. Almoçaram frugalmente e seguiram para o destino seguinte, Florença. Ainda seriam uns quantos quilómetros e o roteiro correspondia a um sonho antigo, dar uma volta pelas principais cidades da Toscana, uma das mais atrativas zonas turísticas de Itália.
Frederico, o condutor, levando ao lado a sua esposa, Paula, gozou o ar que entrava pela janela parcialmente aberta enquanto rolava a alguma velocidade pela autoestrada que sucessivamente atravessou várias cidades, desde Piacenza até Bolonha. Depois de uma paragem para jantar, continuaram até Florença. Ficaram num modesto hotel nos arredores.
Durante três dias maravilharam-se com os tesouros arquitetónicos desta linda cidade. Todos os principais pontos de interesse foram visitados. Isso impediu que o clima entre os dois azedasse mais, pois tiveram antes algumas brigas na viagem, sempre por motivos fúteis. Ali houve como que uma pausa e até passearam de mão dada pela bela Firenze.
Na manhã do quarto dia, meteram-se ao caminho em direção a Lucca. Levantaram-se cedo e após o pequeno-almoço saíram. A distância era razoável e embora a estrada fosse boa, o trânsito demorou bastante a viagem. 
Chegaram a Lucca já passava das duas horas da tarde. Era uma cidade com um toque medieval, cercada de muralhas.
Depois de uma pequena volta de reconhecimento, almoçaram num pequeno restaurante, típico e familiar, como é comum em muitos pontos de Itália. Deliciaram-se com alguns pratos locais, para além das tradicionais salsichas toscanas. Já num jantar anterior tinham provados as salsichas calabresas, muito picantes e Paula criticou a escolha, passara mal nessa noite. Ela era muito esquisita e não gostava de experiências gastronómicas.
Pela internet constataram que os hotéis locais consultados estavam esgotados, o que não era difícil dada a sua reduzida dimensão. Assim, ficaram instalados num hotel caro, de charme, o Alla Corte Degli Angeli, mesmo no centro da cidade. Frederico achou que valeria o sacrifício monetário, pelo carisma do estabelecimento. O aspeto exterior, os quartos, espaçosos e pintados individualmente com motivos da natureza, também atrairam Paula.
Andaram a pé pelas ruelas da cidade, constatando a traça antiga e imperturbável das construções.
Pelo que Frederico lera, um dos maiores motivos de atração, para além da estátua dedicada a esse grande compositor da terra, Giacomo Puccini, era precisamente a igreja de San Michel in Foro. Realmente espetacular, para além dos monumentos de Florença e da catedral de Milão, constituía, até ao momento, a construção que mais os impressionara. Visitaram-na prestando atenção aos pormenores e depois continuaram a caminhada pelas ruas estreitas, cheias de turistas e de locais, bonacheirões e simpáticos.
Entretanto anoiteceu e o apetite fez-se sentir. Como é hábito em Itália, as refeições são normalmente organizadas em três pratos. Claro que quando se come pizza dispensa-se essa formalidade mas ali, naquele pequenino restaurante que eles escolheram, a tradição deveria ser respeitada.
Paula adorou a iluminação das mesas, feita com velas, dando um ambiente acolhedor e romântico. Assim, começaram por uma sopa de tomate, depois um minestrone à base de feijão e lentilhas e finalmente um copioso ravioli com queijo, tudo regado com um bom Chianti, tradicional da Toscana.
Eles ficaram mesmo empanturrados com a refeição. Os donos do estabelecimento ainda quiseram que provassem uma especialidade da terra, a torta de limão. Eles compraram duas doses, que levaram para o hotel.
Frederico sentia-se satisfeito e inexplicavelmente, muito romântico. Enquanto caminhavam e de vez em quando, olhava para Paula e afagava-lhe o rosto.
Após uma boa caminhada, chegaram finalmente ao hotel, os pés já um pouco doridos.
No quarto, ele foi até à janela e olhando para o firmamento admirou a Lua, grande, magnética, misteriosa. Chamou Paula para junto dele e abraçou-a.
- Li algures que a Lua na Toscana aproxima os amantes, torna-os inseparáveis…
- Hummm… O que é que te deu? Foi a refeição que te pôs assim? – Perguntou ela, rindo francamente.
- Estou a falar a sério. Tem magia…
- Deixa-te de coisas… A Lua é igual em todos os lados do planeta.
- Não é bem isso. Os toscanos têm muita fé nela, olhá-la torna-os um povo mais feliz – fez uma pausa. – Paulinha querida, não achas que já é tempo de sermos mais flexíveis um com o outro e evitar assim discussões que só desgastam? E sem razão…
- Sem razão? Isso dizes tu…
- Está bem, peço desculpa, vou ser muito mais meiguinho para ti, prometo… - E afagou-lhe de novo o rosto. Aproximou-se mais dela e deram um beijo, longo, muito sentido. Ela suspirou e disse:
- Querido, que saudades tenho daquele tempo em que só havia mel, desconhecíamos que também havia o fel…
- Se quisermos, esse tempo pode voltar mesmo…
Olharam de novo para a Lua e abraçados, trocaram outro beijo apaixonado.
- O que achas se nos formos deitar?
- Eu não tenho sono…
- Eu também não…
Paula soltou uma gargalhada. – Nunca mudarás, querido …. – Disse sorridente.
Fecharam os reposteiros de forma que o quarto mergulhasse na obscuridade e deitaram-se, abraçados.
Afinal, ainda tinham mais dois dias para passear em Itália.
Ah, doce Itália, doce Toscana… Ah, Lua milagrosa…

 


 

Igreja de San Michel in Foro






 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 03/09/2015
Reeditado em 05/09/2015
Código do texto: T5369260
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