O amor maduro

É público e notório o fato de que algumas pessoas tem verdadeira aversão à palavra casamento. Filhos então... mas não estou aqui para fazer demagogia, longe disso. Apenas senti necessidade de compartilhar com vocês a minha experiência. Mas não só para pavonear o quanto eu sou bom na gerência matrimonial ou paternal, de forma alguma. Todos os lustros vão para a minha esposa.

E depois de vinte e cinco anos de feliz matrimônio, pois estou justamente pensando se devo comemorar publicamente, me veio à mente certa melancolia. Uma sensação incomoda que o fim está próximo, apesar de que eu não tenho sessenta anos, está me enchendo de pavor. E eu não consegui, como sempre, guardar minhas ansiedades só para mim. Em casa a impressão que eu tinha era que eu era um livro aberto. Bastava ela olhar pra mim e ela já sabia que eu estava matutando alguma coisa. E para meu desespero, também meus filhos aprenderam a me mapear.

- Algum problema, papai...?

Era minha doce filha Amanda. Ela era a caçula de três, os mais velhos eram já homens feitos.

- Eu não queria que a nossa vida acabasse, minha filha... eu quero viver pra sempre assim...

Ela fez cara de brava.

- Se eu fosse o senhor disfarçava muito bem essa cara frustrada, porque se a mamãe descobre seus motivos, o senhor tá encrencado...

A mamãe... eu nunca imaginei que sentido essa palavra poderia ter na vida de alguém. Sentido, não... conseqüência... Eu não colhi muitos frutos na convivência com a minha própria, pois eu e ela não éramos muito próximos... eu tenho uma irmã caçula e as atenções da minha genitora foram exclusivas para ela. No máximo eu tinha o carinho do meu pai, mas ele não era de muita conversa. Mas observando a interação de minha esposa com meus filhos pequenos e vendo-os hoje, observando a maneira com que eles conduzem a vida deles, concluo que é tudo resultado do esforço dela.

Quando eles eram pequenos, principalmente os garotos, se eles chegavam da escola reclamando que algum garoto estava fazendo troça deles, a resposta era categórica.

- Ignore, meu filho... ignore... isso não vale a pena... concentre-se em sua vida e no que você quer fazer dela... não se deixe parar para mexer com quem não quer nada sério...

E os meninos obedeceram. E Deus foi tão bom com eles que logo eles estavam quase da altura de um poste. Mas ai vieram os problemas da adolescência. Mais precisamente garotas. E quando o assunto surgiu a tona, na mesa do café, à pergunta crucial de como saber qual é a garota certa, ela deu tiro certeiro, novamente.

- Fuja das sensações, meus filhos... se a garota ou garoto só te sugere prazer... então não tem futuro... As paixões são como fogo de palha... pegam fogo alto mas apagam rapidinho... já o amor maduro não... esse envolve os sentimentos... é o querer bem ao outro, se importar com o bem estar do outro... ajudá-lo a buscar o melhor pra ele... se a garota só quer se divertir... não tem futuro e as vezes pode te colocar em fria, porque os amigos invisíveis que ela tem são muito mais influentes que você... dificilmente você vai conseguir colocar algum juízo na cabeça dessa pessoa. Ela é aquela que depois de algum tempo vai sugerir pra vocês abandonarem o preservativo... vai insinuar relações sexuais em locais “interessantes”, vai te propor uma bebida, um festa “legal”. Enfim... é a famosa porta larga... a das facilidades... e onde ela leva? Ao ponto de partida... será uma existência perdida na diversão...

Quando um deles perguntou como de fato evitar uma gravidez, ela não mediu palavras.

- Não tem jeito, meu filho... não tem... Deus é que manda os filhos que ele acha que a gente merece... sem falar que nós encarnamos com a programação de quantos filhos teremos, mas se precisar eles pedem nossa ajuda pra “cuidarmos” de mais alguns... Então, se não quer ter filhos, não transe... e ajuda muito se usar a pílula mais o preservativo, porque evita as doenças e se um falhar o outro socorre... Agora lembra da garota certa? Como confiar se ela vai tomar a pílula corretamente? Se não vai esquecer ou achar que isso é um exagero?

Mas outro problema surgiu com a filha caçula. Com quinze anos ela nos brindou com um garoto dizendo que ele era o homem da vida dela. Estavam completamente apaixonados e faziam planos para casamento, tão logo o rapaz se formasse. Essa conversa ela teve comigo, que estava inconformado, quando estávamos deitados.

- Até pode acontecer de eles terem se reconhecido... o famoso amor à primeira vista... quer dizer, eles já eram apaixonados de outras vidas e combinaram se encontrar nessa e continuar sua história, mas só o tempo dirá... por enquanto não vamos fazer nada... Apenas manteremos eles por perto e ficaremos de olho... eu vou levar ela no ginecologista e se acontecer de eles transarem, gravidez pelo menos vai ser mais difícil...

- Mas só isso? Nós iremos ver nossa filhinha ser deflorada debaixo do nosso nariz?

Eu estava indignado com a frieza dela. Essa maneira dela ver as coisas as vezes me tirava do sério. Desde a primeira vez que eu carreguei minha filhinha nos braços eu jurei para mim mesmo que eu escolheria a dedo o homem que a teria nos braços.

- E você quer fazer o quê? Amarrar ela ao pé da mesa? Mudar de cidade? Colocá-la de castigo? Dar um esfrega no rapaz? E porque os meninos você não se importou nem um pouco? Aliás... compra um punhado de preservativo pra eles e ainda confere se eles tem dinheiro? Por que eles podem e devem e ela não?

Eu não arrisco responder essa pergunta. Jamais. Porque ela sempre vem a tona todas as vezes que eu permito aos meninos e não a ela. Até que um dia minha mulher estressou.

- Você está equivocado, meu bem... você não pode proibir sua filha de viver... você precisa ensinar ela a fazer escolhas... ela tem que saber o que esperar do mundo... e não quero a mesma liberdade para ela... quero sim é que os três tenham noção de responsabilidade... também os meninos não têm que sair transando por aí só porque são homens...

Eu odiava quando ela falava desse jeito... De onde ela tirou que homens e mulheres têm os mesmos direitos? Não que eu quisesse privilégios, mas igualdade jamais... mas ela sempre vencia nos argumentos e eu me curvava a ela, porque ela tinha um milhão de justificativas e eu só meu orgulho ferido.

Mas quando eu achei que minha vida estava perfeita, fui despedido. A empresa foi vendida e vários ficaram na mesma situação. Dinheiro no bolso e zero projetos. Quando eu cheguei em casa e minha cara escancarou o problema, ela novamente me surpreendeu.

- que coincidência, amor...

Ela estava pensativa, mas parecia feliz. Como meu trabalho era só esperar...

- Eu fui no médico essa semana e ele me falou que eu estou entrando na menopausa... – eu a olhei sem entender – veja bem... você fica livre do emprego, eu da possibilidade de uma gravidez não planejada... nossos filhos estão indo embora e ficaremos nós...

- Fazendo o que?

Minha preocupação era que eu passei a minha vida inteira levantando de manhã e me despedindo. Minha volta coincidia com o por do sol. E agora eu faria o quê? Ela me olhou com aquela cara...

- O que você sugere, amor? Veja bem... estaremos livres, sem obrigações sociais, por conta um do outro... Já criamos nossos filhos... já contribuímos com a sociedade... já quitamos a casa e o carro... temos dinheiro guardado...

Uma palavra deliciosa finalmente surgiu na minha cabeça. Mas será? Tive que perguntar... mas pigarreei antes.

- ouvi dizer... quer dizer... os caras lá na empresa... falaram... que depois que a mulher deles... entrou na menopausa... que... ficaram frias...

Pronto. Despejei. Como fazer planos com algo incerto? É o mesmo que construir em cima da areia. E eu sabia bem o que significava isso...

- Será? Mas por que? O doutor me explicou que o sexo está na cabeça... que o que vai diminuir são os hormônios que lubrificam a vagina... mas que no mais tudo vai funcionar do mesmo jeito, as vezes até melhor, porque agora não tem mais perigo de gravidez...

Uma tênue esperança ameaçou nascer. Mas me lembrei de outra coisa. Ela era um verdadeiro general com nossos filhos... o que seria de mim?

- E como será nós dois juntos... quer dizer... o que faremos... o sexo vai tomar apenas uma parte do dia e nós não agüentaremos viajar o tempo inteiro, nem o dinheiro dá... Você me propõe não trabalhar mais e eu trabalhei a minha vida inteira... Como vai ser? O que eu vou fazer o dia inteiro?

Eu me senti péssimo ao fazer essas perguntas... Como eu me expunha daquele jeito? Tudo bem que eu falava com a minha esposa, mas... Estava me sentindo um idiota, como se não soubesse o que fazer da minha vida... Aliás, eu não estava errado, pois eu sempre achei que fosse trabalhar até minha morte, que teria um infarto fulminante no trabalho e seria lembrado como aquele que “morreu trabalhando, coitado”. Agora eu vou morrer como?

- Podemos fazer um trabalho voluntário, meu bem... você pode ajudar as pessoas pobres a fazer suas casas... distribuir projetos... ajudar os novos casais a terem seus lares... pode montar um escritório no fundo de casa, ou ir trabalhar com alguém... pode mexer com plantas, que você adora... ou pode fazer um curso de alguma coisa totalmente diferente do que você fez a vida inteira... agora seu corpo não está tão forte como antes, então você precisa de atividades que mexam com a cabeça... seu cérebro está a mil, seu corpo nem tanto... Talvez eu faça um curo de decoração ou paisagismo... ou de enfermagem... eu gosto de ajudar as pessoas, isso já é um grande passo. Você gosta de quê?

De nada... minha cabeça estava ainda lá atrás.

- o que vai acontecer quando um de nós morrer?

Já que estávamos falando do fim da vida, achei por bem pular para o final.

- o que for primeiro arruma a casa pra esperar o outro chegar... E quem ficar, cuida da casa e dos filhos... até o dia em que for chamado para encontrar o que foi primeiro... e no andar da carruagem, a julgar pelo modo que você não cuida da sua saúde, tenho comigo que você será o primeiro a partir... então gentileza deixar tudo bem escrito pra facilitar pra mim... conta do banco... investimentos... contas fixas... enfim... tudo o que você faz eu terei de fazer... logo... agora quem for primeiro também tem que se preparar, senão vai acabar se hospedando no umbral... então trata de começar a estudar o espiritismo pra você saber o que buscar quando seu corpo morrer... porque só o seu corpo morre, você mesmo, sua essência, sua alma, suas idéias e quem você é... esse continua vivinho da silva... apenas vai mudar de endereço e de corpo... e se não souber o que vai acontecer vai fiar perdido, querendo voltar pra casa. E ninguém pode te buscar, entende? Aqui não será mais sua casa... quem morre vive no plano espiritual... na Terra só os que tem corpo de carne... E como chegar lá?

Não faço a menor idéia... como ela conseguia articular tantas idéias ao mesmo tempo e de forma instantâneas? Mas não mais tivemos essa conversa profunda. O que eu achei que seria um longo tempo ocioso se transformou em um dia a dia mais agitado que antes. Eu não fazia a menor idéia que a casa precisava de tantos ajustes. Se eu demorasse mais algum tempo trabalhando, provavelmente não teria teto para me proteger.

Um dia minha bela esposa veio me pedir para ir fazer os mesmos reparos em um orfanato. Ela conheceu uma voluntária de lá e me ofereceu para fazer pequenos consertos. Quando fomos conhecer o local fiquei impressionado. Eu não fazia idéia de quantas crianças sem lar existia no mundo. Eu que dei tanto carinho para meus filhos, foi um choque me deparar com tantas crianças sem pais.

E quem falaria com eles sobre as garotas e sobre sexo? Drogas... nunca me lembro de falar com meus meninos sobre isso, talvez porque não senti necessidade. E aqueles ali? Um frio na minha espinha foi subindo quando eu percebi que eles estavam desprotegidos. Ali tinham casa e comida, mas e o resto? O resto era o que fazia diferença na vida de qualquer um.

Pedi o diretor para selecionar alguns garotos para me ajudarem e fui tentando aprender sobre a vida deles naquele lugar. Aos poucos alguns foram soltando a língua, mas outros nem me davam atenção. A impressão é que eles tinham já seus problemas e me mordi de curiosidade para saber o que prendia tanto a atenção deles...

Foi sem perceber que substitui minha rotina no escritório pelo trabalho no orfanato. A instituição recebeu doações e me pediram para projetar uma quadra. Logo não tinha pedreiro suficiente e eu fui mostrar minhas habilidades com a colher. Assim me tornei referência para muitos garotos. Alguns eu perdi para o mundo, mas muitos eu consegui auxiliar com minha pobre experiência com meus filhos. E felicidade maior eu tive quando minha família, toda ela, se envolveu nas atividades com as crianças.

Logo nosso almoço de domingo era com eles. E meus filhos também trouxeram seus amigos para realizar atividades de esportes, artes, música. O que minha esposa fez com nossos filhos, ela reproduziu na integra com aquelas crianças. Muitas vezes eu vi ela sentada com uma garotinha no colo, contando histórias. Ah! Como ela era boa com historias... logo virou um ritual, ela se sentava no chão e todas as crianças menores sentavam em volta dela, e nem piscavam.

Assim eu nem vi os anos passarem. Um belo dia outra surpresa, essa de fato desagradável. Minha esposa estava com câncer e o médico não foi promissor... mas ela...

- Meu bem... é só uma mudança de estado... eu vou passar do sólido para o gasoso... se Deus quiser... e você por favor, cuide de todas as nossas crianças... assim que eu estiver em condições, eu venho estar com você...

- Como? Como você vai fazer isso?

- Em espírito, meu bem... eu posso vir e te ajudar... você vai sentir minha presença através da intuição... e nos sonhos a gente vai se encontrar... quando você dormir eu venho te buscar, se Deus permitir... mas você tem que confiar e continuar trabalhando...

E eu tentei, eu juro... embora a saudade era muito forte, mas as crianças preenchiam completamente meu tempo, graças a Deus. E quando eu começava a ficar desesperado de saudade, eu rezava e pedia ao meu anjo da guarda para me levar até ela. Eu nunca soube se de fato se eu a encontrava, porque dormia de um lado só, mas sempre acordava tranqüilo. De manhã a saudade não machucava, as vezes eu até conseguia não pensar nela.

Eu fui arrastando os dias até que certa noite minha filha, agora casada, me trouxe uma carta. Mas não era uma carta qualquer. Era uma carta da minha esposa, psicografada em um centro espírita. Ela começava com palavras de conforto, desejando que “a paz de Jesus estivesse conosco”, mas em seguida disparou.

- ... eu aqui estou muito bem, estou morando com a vó Salina, na casa dela... não pude ainda morar em nossa casa, mas assim que você estiver comigo poderemos ir pra lá... estou acompanhando você e estou muito feliz com o progresso que você está tendo com as crianças do orfanato... também nossos filhos estão ótimos e prepare-se para ser avô, porque andei trabalhando nisso, ajudando meu netinho a nascer... você vai amá-lo... eu convivo com ele aqui e ele já está pronto para nascer... E tenho autorização para te dizer que você ganhou bônus extras para viver aí na Terra, por conta do excelente trabalho que você tem feito com as crianças... existe uma equipe espiritual muito grande te auxiliando lá e eles pedem pra você fazer uma oração sempre que for conversar com alguma criança, porque eles vão te ajudar com as palavras... eles conhecem a vida de cada criança e fica mais fácil pra você orientar... muitos vivem lá porque não souberam dar valor a família que tiveram em outras existências, por isso você não deve se revoltar contra a providência Divina... eles não estão desamparados, como você acredita... mas devem aprender a caminhar sem o carinho dos pais... E eu ajudei a cuidar daquele garotinho que você acha que morreu... a mãezinha dele estava esperando ele chegar e ele está vivendo com ela...

Eu li e reli aquela carta até não precisar mais do papel para me lembrar da mensagem. Ela falou pouco de nós e muito dos outros. Me lembrei quando ela dizia que os espíritos nos auxiliam quando auxiliamos os outros.

- todos nós temos um anjo da guarda, meu bem... mas é só um pelejando pra nos tirar de encrenca. Agora, quando nós ajudamos outras pessoas, aí é uma legião inteira deles...

E que existia uma equipe espiritual me ajudando no orfanato... realmente eu me sentia muito bem quando ia pra lá e esse bem estar me acompanhava o resto do dia. Era diferente de quando eu passava o dia com amigos, bebendo e comendo churrasco na casa deles. Nesses dia eu ficava indisposto, parecendo que havia descarregado um caminhão.

Finalmente me decidi a estudar o espiritismo. Até então não havia sentido necessidade de aprender aquela filosofia. Minha vida era perfeita demais para eu precisar decifrá-la. Mas agora.... eu precisava de algumas respostas... haveria jeito de receber mais ajuda? Outras cartas, com freqüência regular?

E os sonhos? Haveria jeito de eu reter as lembranças? Eu sentia no íntimo que as palavras dela eram verdadeiras e quase chorei quando minha filha anunciou a gravidez. Quer dizer, tudo que ela dissera na carta estava correto. E se ela era a mesma depois de morta, quer dizer que o que ela dizia enquanto viva também era verdade.

Assim fui até o armário e peguei os livros que ela estudava. Ao começar a ler o Evangelho percebi que ela havia tirado as idéias dela daquele livro. Ao ler as doces palavras, parecia que eu a tinha novamente junto de mim. Então minhas noites eram agora mais doces. Eu ia pra cama e ao pegar o evangelho tinha a sensação que ela se sentava ao meu lado, para me ajudar a interpretar as idéias do livro. E eu ficava assim por muitos minutos, já antecipando o gozo do momento em que meu corpo adormeceria e ela me puxaria dali.

Eu repeti esse ritual por muitos anos e toda vez que um filho anunciava um neto, eu rezava pra ela. Rezava mais, claro, pois descobri que a forma de eu manter contato com ela era através da prece. Não recebi mais cartas dela, mas fiz melhor. Eu agora percebia a presença dela todas as vezes que estávamos reunidos lá em casa. Ela não estava de corpo presente, mas sei que seu espírito estava conosco.

E agora com oitenta anos eu sabia que estava próximo o dia do nosso encontro. E assim como um noivo se prepara para receber sua esposa, eu me preparava para recebê-la. Meu maior medo era de que não pudéssemos viver juntos, pois li em um livro que haviam casais que, devido a maior ascensão espiritual do cônjuge, viviam em mundos separados. Por isso minha preocupação maior era em ser uma pessoa boa, útil para os outros, para ter méritos para viver ao lado dela.

E quando recebi a noticia que precisava fazer uma cirurgia e que o risco de eu não voltar da anestesia era grande, quase saltei de alegria. E me preparei para ela como eu fizera para meu casamento. Claro que tive que disfarçar, pois meus netos não queriam ficar sem mim. Eu queria olhar pra frente, mais o que eu deixaria pra trás estava me machucando. Até que a noite eu levei nova bronca.

- Nossos netos não estão desamparados, meu bem... eu estou cuidando deles... e seu corpo está muito fraco para você permanecer entre eles.... você vai ser mais útil aqui, comigo... tem muita coisa para fazermos aqui... é muita gente que precisamos ajudar... aqui também tem um orfanato cheio de crianças que estão se preparando para reencarnar e eles estão com muito medo... eu comecei a trabalhar lá mas não estou dando conta sozinha... eu preciso de você...

Isso não foi uma carta que eu li... não... ultimamente eu abandonava meu corpo com muita facilidade, nem precisava estar dormindo para sentir que eu estava flutuando. E foi numa dessa viagens que eu levei essa bronca. Ate vi a testa enrugada dela, igualzinho ela falava comigo quando estava brava. Dessa vez não questionei. Só me vi abanando o rabinho e seguindo-a.

Afinal, eu nunca a venci nos argumentos. Não ia ser agora que eu ia começar...

Lucilia Martins
Enviado por Lucilia Martins em 28/09/2015
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