Por que não trair?

Eu tenho verdadeira ojeriza à palavra traição. Eu sei que muitos irão compartilhar esse sentimento comigo, mas outros, nem tanto. Eu tenho conhecimento de pessoas que encaram como natural o fato de se relacionar com duas pessoas ao mesmo tempo, como se fossem oportunidades a serem aproveitadas. Eu sou diferente. Posso ser considerado antiquado, por alguns, mas me divorciei de minha esposa, enquanto meus dois filhos eram pequenos, justamente porque ela estava permutando esse pensamento com outra pessoa.

E arrisco dizer que deve existir uma fascinação sobre essas pessoas invigilantes, pois a mãe dos meus filhos desistiu da guarda deles para acompanhar seu namorado. Namorado que em pouco tempo passou para a prateleira dos ex, mas já então meus filhos não quiseram a tutoria dela. Era tarde. Eles eram já crescidos e havia passado a fase da adoração.

Depois de muitos anos, de idas e vindas de babás e escolas, meus filhos cresceram sem uma companhia feminina em casa. Éramos somente três homens, mas éramos felizes. No dia em que meu filho mais velho me disse que estava namorando, achei por bem abrir os olhos para a vida. Ao vê-los juntos e felizes, fiquei com certa inveja e tentei me lembrar de como era essa sensação. Mas decidi esperar a oportunidade.

Desde o divórcio eu precisei me mudar para um lugar menor, mas que oferecesse mais segurança. Por isso escolhi um condomínio fechado, com casas germinadas, bonitas, mas parede e meia com alguma outra família. Por muito tempo tive a companhia de um adorável casal de velhinhos, mas quando a esposa faleceu, o marido foi resgatado pela filha e foi morar com ela.

Foi com grande expectativa que aguardamos os novos vizinhos. A torcida era que fosse alguém sem filhos, nem grandes e nem pequenos. E que de preferência não gostassem de discutir de madrugada. Embora os quartos ficassem na parede oposta ao vizinho, o som se propagava com muita facilidade.

Nossas casas eram feitas com o mesmo projeto. Todas tinham um bonito jardim na frente e pedras para os carros não estragarem o gramado. Há muito meu filho mais velho me carregava pra todo lado. Ele tirou a carteira e simplesmente amava a direção. Eu como não gostava nem um pouco, cedia de bom grado.

Mas para nossa surpresa vimos uma bela moça chegando altas horas da noite. Ela nos seguiu com o carro, durante todo o trajeto do condomínio e quando comecei a achar que eu estava sendo seguido, ela parou na garagem ao lado. O vidro escuro do vizinho só nos permitiu ver o belo par de pernas que saltaram, enquanto ela buscava alguma coisa no porta luvas. Nós três não conseguimos descer do carro. Eu devia descer primeiro, pois minha porta era que ficava do lado dela e que conduzia à porta de casa. Mas um temor súbito me impediu. Se as pernas eram bonitas, fiquei com medo de imaginar o resto. As chances do todo ser proporcional às partes era muito remota, nesse caso. Eu tinha absoluta certeza disso, e temia me decepcionar. Já era tarde e eu odiava perder o sono por coisas triviais.

Mas meu filho caçula é uma verdadeira peça. Nesse meio tempo ele já havia descido do carro e dado a volta, parando ao lado dela.

- Boa noite, vizinha... precisa de ajuda?

A moça parou de remexer no carro e sorriu para ele. Pelo reflexo do vidro eu vi os dentes dela. Mas quando ela se levantou e estendeu a mão, junto com o sorriso, meu coração parou. Absolutamente linda, alta, cabelos volumosos e um sorriso encantador. Meu filho pareceu não perceber isso.

- Bem... é você que vai morar nessa casa?

- sim... sim... mas eu aluguei com tudo dentro, sem ver o que exatamente tem dentro. Será que tem cama? Estou parando do trabalho agora e estou morta... e com muita fome...

- Você tem filhos?

- não... – acompanhado de outro sorriso.

- marido, cachorro, gato, periquito, papagaio, namorado?

- não... não tenho ninguém... só eu e meu anjinho da guarda...

- E você faz barulho? Música alta, bater porta, liquidificador de madrugada...?

- Não... e você... faz?

- não... não... durmo igual um anjinho... aliás, só me faltam as asas...

Ela deu uma risada bem gostosa e finalmente me viu.

- eu sou sua nova vizinha, Amanda, muito prazer e seu filho é um amor... – e olhou para meu filho na direção e o cumprimentou – sua esposa... – depois olhou para a casa – bem... certamente teremos tempo de nos encontrar... agora está tarde então boa noite...

Por muitas vezes eu a via somente entrando e saindo e realmente ela não fazia o mínimo barulho. Mas meu filho caçula a via sempre. Ele se relacionava muito fácil com as pessoas e logo se tornaram íntimos, a ponto de passar pratos de comida para ela, pela varanda. Mas os pratos sempre voltavam vazios e um dia meu filho reclamou, ao receber o prato na sacada.

- Escuta... nunca te falaram que é falta de educação devolver um prato vazio, não?

Eu estava na sala e estremeci ao ouvi-lo. Eu só vi o prato sendo recolhido e em seguida devolvido com um pacote de bolacha recheada.

- Ah! Agora sim... está começando a melhorar...

Certo dia meu filho me esperou chegar para discutir um assunto importante.

- Pai... é o seguinte... eu jantei com a Amanda outro dia, jantei, não, comi uma gororoba e pelo amor de Deus... quase passei mal... o que ela tem de bonita e divertida ela não tem de cozinheira... era uma tentativa de macarrão mas era um grude sem proporções... sem sabor e sem textura e...

- então, meu filho? Qual é o ponto?

- ela pode jantar com a gente toda noite? Quer dizer, toda, não... por que ela roda turno, mas quando ela não estiver trabalhando? Eu fico com pena por que ela acorda com sono e não tem nada pra comer e absolutamente não sabe fazer nada e o estoque de bolacha dela é maior que o nosso de produto de limpeza.

Eu estive fortemente tentado a dizer não. Seria uma absoluta invasão de privacidade, principalmente se a moça se mostrasse do tipo folgada. Mas certa curiosidade despontou e eu me lembrei que a qualquer momento eu poderia dar um basta.

- Tudo bem... podemos fazer um teste... uma semana... se todo mundo estiver de acordo...

Todo mudo, nesse caso, era meu filho mais velho. Infelizmente ele era tão retraído quanto eu mesmo e pouco manifestava sua opinião. Mas ele assentiu com um aceno de cabeça e um sorriso descontraído.

- Acho que vai ser muito divertido, pai...

Não sei se foi impressão minha, mas tive a sensação que havia certa ironia embutida nas palavras dele. Deixei passar e um filho foi chamar a moça com a justificativa que precisávamos acertar os detalhes...

Ele chegou na varanda e chamou por ela, dizendo que viesse pois era caso de vida ou morte. Muitos minutos depois vimos as belas pernas sobrevoando a grade, enquanto meu filho dava a mão de apoio para ela. E a visão dela chegando de mãos dadas com ele foi muito intensa. Senti uma coisa estranha, uma espécie de comichão, de desconforto gostoso. Eu estava confuso quando meu filho começou a explicar o motivo da reunião. Mas logo minhas idéias clarearam e eu arrepiei as orelhas para ouvi-lo. Eu não sabia que meu filho passava tanto tempo com a vizinha. Ela foi convidada a se sentar na mesa, ficando um bloco formado por mim e os meninos e ela de frente. O quadro era digno de uma pintura.

- É o seguinte... te convidamos hoje por que queremos te fazer um convite... convite, não... uma proposta... – a moça pareceu mais desconfiada que surpresa – nós fazemos janta todo dia... nós, não... meu pai... nós lavamos a louça... e você não faz nada, só come na empresa ou de marmita, sem falar na sociedade com a fabrica de bolachas que eu sei que você tem... – a moça ergueu uma sobrancelha... só uma e eu senti pena do meu filho – então nós estamos abrindo nossas portas, da varanda, para você. Eu vou sempre deixar um prato de comida ou o que comermos para você aqui em cima da mesa... a hora que você vier, não precisa ser no nosso horário, o prato vai estar te esperando...

- E por que vocês estão fazendo isso... ou melhor... você... porque eu tenho certeza que isso é déia sua...

- Caridade... – a moça sorriu muito, mas senti alguma coisa diferente da alegria.

- Caridade?

- É... caridade... igualzinho você me ensinou... pra gente ir pro céu, não é mesmo?

Eu prendi a respiração à menção do “igualzinho você me ensinou”. O que exatamente eles se falavam?

- Explique-se!

- bem... segundo os seus ensinamentos...

- meu, não... de Jesus... registrados no Evangelho... eu apenas os sigo...

- Então... de Jesus... que segundo Ele nós precisamos ajudar uns aos outros, na medida da necessidade do outro e das nossas possibilidades... que sempre que fazemos isso, os anjos nos ajudam e nossa vida fica melhor... E escolhi você para fazer uma boa ação, porque você é sozinha e nós somos uma família – eu vi quando os olhos dela ameaçaram ficar úmidos. Mas logo ela se recompôs. - Como você não precisa de dinheiro e nem de cesta básica, achei que você gostaria de um pouco de carinho e... comida.

A moça pareceu sem fala, depois inspirou profundamente e falou cautelosamente.

- sim... você está certo... mas eu tenho família... ela só está longe... eu fui transferida pra cá e não tive opção... Quanto á comida, bem... eu agradeço e aceito sim, mas... quanto isso vai me custar?

- nada... absolutamente nada... é a caridade na sua forma mais pura... mas se você quiser me ajudar com o português, não vou me incomodar nem um pouco... e literatura e história... talvez biologia e... bem... por enquanto tá bom...

- Eu te ajudo com todo prazer, independente do prato de comida... mas odeio coisas de última hora e toda vez que você me pediu ajuda, era pra ontem... eu gosto das minhas coisas bem programadas... pressa é coisa de gente desorganizada...

- Tudo bem... tudo bem... já entendi e foi registrado...

Nossas noites nunca mais foram as mesmas. Se ela não jantava conosco, Pedro separava um prato para ela, mas sempre a esperava chegar. As vezes até comia junto com ela. Ela era de fato muito agradável. Não saia maledicências ou palavrões da boca dela. Sua conversa era leve, suas risadas saborosas e seu sorriso fechava a maioria de suas sentenças. Certa noite pedimos pizza e logo após os meninos foram sair com os coleguinhas. Quando ficamos a sós eu pensei que um silencio embaraçador iria surgir, mas ela se levantou e começou a recolher a louça suja. Eu ameacei protestar quando ela me interrompeu.

- não... por favor... é o mínimo que eu posso fazer... e estou descansada... hoje dormi o dia inteiro...

Eu achei que era o momento certo para falar, enquanto ela estava de costas virada para mim.

- Eu quero te agradecer pelo que você tem feito pelo meu filho – ela fechou a torneira e se virou para me ver – outro dia ele perguntou pela mãe e pediu que rezássemos por ela... ele teve um tempo que se rebelou e não podia nem ouvir sobre ela...

Ela voltou a atenção para a louça enquanto falava.

- não fiz nada demais... apenas tentei explicar pra ele que ninguém é perfeito e que a mãe dele não conseguiu ser mãe... que ela não fugiu dele, mas sim da condição de mãe e esposa, já que você é um homem bom e eles eram crianças... na verdade eu admiro muito quem tem coragem de pôr um filho no mundo e mais ainda aquelas que têm coragem de criá-los... mas algumas não conseguem e ele teve sorte de você assumi-los, pois muitos pais também abandonam ou se casam rápido... mas que toda ação tem uma conseqüência e que a mãe dele irá pagar um preço muito alto por ter largado os filhos... que provavelmente não será nessa vida, mas em outras... a justiça de Deus tarda mas não falha...

Ela terminou a louça e veio se sentar.

- Na verdade não cabe a nós julgar ninguém... Jesus falou “que atire a primeira pedra quem não tiver nenhum pecado”... não sei você... mas eu tenho um monte... e quanto mais vivo mais tomo consciência do quanto sou imperfeita... – respirou fundo e continuou, enquanto torcia o pano de prato. – os planos de Deus pra gente são perfeitos, mas não os conhecemos e as vezes O tachamos de injusto... outro dia contaram um caso lá na firma que me deixou muito chateada... comigo mesma... Uma das funcionárias têm uma irmã que trabalha no hospital e disse que apareceu um caso curioso lá. Tinha um idoso muito mal e a filha e a esposa dele estavam cuidando dele. Daí contaram a história deles... quando eles eram mais jovem ele abandonou a esposa para ficar com uma mulher mais jovem... eles tentaram ter filhos mas não conseguiram... depois esse marido voltou pra casa com aquela menina nos braços, dizendo que era filha dele e que a mãe havia abandonado. E a esposa dele aceitou ele de volta e criou a menina como se fosse filha dela.... Tem base? E o pior é que a lei de Deus as vezes funciona torta assim mesmo... ela não pode ter filhos da barriga dela, Deus mandou uma filha pra ela. Mas a questão maior é: como ela conseguiu perdoar a traição? O amor pela criança foi maior que o orgulho ferido... essa mulher vai pro céu sem escalas... Eu no lugar dela teria feito picadinho do marido e nem sei se teria amor pela criança, não... imagina... Lá no Evangelho Jesus manda a gente amar os inimigos... e é exatamente essa situação. Amar um inimigo não é ter por ele o mesmo carinho que se tem por um amigo, mas conseguir não odiá-lo... eu imagino que o homem deve ter passado maus bocados, com o rabinho entre as pernas voltando pra casa... E agora tá ele lá... apodrecendo em vida...

- É por isso que você não tem namorado? Por que tem medo de ser traída?

Ela me olhou e sorriu.

- Não... claro que não... Há muito eu aprendi a entregar meu destino nas mãos de Deus... eu não procuro sarna pra me coçar, mas se o cachorro sarnento senta na minha porta eu dou comida e água pra ele, coitado... Na verdade eu tinha um namorado, há bem pouco tempo. Mas decidimos dar um tempo e não reatamos. Sinal que não era amor de verdade, não concorda? E você? Não se casou novamente por quê?

- Medo de ser abandonado novamente...

Ela me olhou com uma cara muito estranha.

- Não cai um raio duas vezes na mesma árvore... nunca ouviu essa? E depois... nada acontece por acaso... não cai uma folha do céu sem a permissão de Jesus... Acredito que em outra vida você deve ter abandonado sua esposa cheia de filhos... isso é muito comum... o que aconteceu foi nada mais que a Lei da Ação e da Reação... você provocou uma ação que teve uma reação... olho por olho, dente por dente. Você fez alguma mulher sofrer... Deus usa outra mulher que precisa resgatar seus débitos, que certamente precisava ser mãe... para cumprir “pena” com você. Ela desertou... você não... ponto pra você... esse débito você não tem mais... e depois da tempestade, a calmaria... E como você não apenas não desistiu dos seus filhos, mas também os criou com esmero... mais lustros você vai colher... é muita responsabilidade a criação de um filho... e se eles foram educados, seu espírito sairá melhor do que entrou... conquista do espírito... é exatamente esse o propósito da reencarnação... adquirirmos virtudes e despirmos defeitos... seus filhos são quase perfeitos... eles tem o gérmen da bondade dentro deles, precisa apenas regar...

Eu não consegui verbalizar nenhum pensamento, de tantos que rondavam minha cabeça. Foram tantas dificuldades que passei com os meninos pequenos que nunca imaginei que alguém faria conta disso. Ela foi compreensiva e mudou de assunto.

- Agora eu lamento é por sua esposa... ela vai sair com mais débitos que entrou e vai gastar uma encarnação só pra reparar o abandono dos filhos... a justiça de Deus funciona assim... uma existência mal aproveitada pode gerar várias outras de reparação... O povo acha que os pecadores ficam impunes só porque vivem uma vida boa, sem pagarem por seus erros... Não pagam nessa vida... mas terão muitos anos de sofrimento no umbral e depois vão começar os resgates na Terra... Cada inimigo que a gente faz se torna um perseguidor implacável que nos acha em qualquer lugar...

Pouco tempo depois eu pedi ela em namoro. Pedi não... me impus... me lembrei do cachorro sarnento na porta de casa... ela não tinha sarnas mas as idéias dela as vezes incomodavam muito. Mas tinham um fundo de verdade e consolavam. E ela devagarzinho foi assumindo o papel de mãe pois ia nas reuniões da escola quando eu não podia ir. Levava menino na consulta e acima de tudo tinha respostas pra tudo. Certa vez o Pedro precisou fazer um procedimento cirúrgico e começou a ter crise de pânico no hospital. Ele era mestre nisso e ela era perfeita pra lidar com a situação.

- E se eu morrer?

- A gente enterra seu corpo com todas as honrarias e reza pela sua alma... e é capaz da gente até sentir um pouquinho de saudade...

- E pra onde eu vou?

- Vai acordar em um hospital parecido com esse, só que rodeado por um lindo jardim... só depois que alguém vai te explicar tudo, porque você vai achar que ainda está vivo...

- Mas eu não quero morrer...

- Isso não é você quem decide, meu bem... Deus nos dá a vida e tira quando bem entender... mas não acho que você vai morrer, não... você ainda tem muitos pecados pra resgatar... ainda não aprendeu a lavar seus tênis antes deles começarem a apodrecer...

- aí... ó... tá vendo...? Eu sabia que era errado eu lavar os tênis... alguma utilidade meu defeito vai ter... E onde eu vou morar?

-como você é um menino bom e tem um bom coração... vai morar com algum parente... talvez sua mãe verdadeira... eu acredito que ela está lá no céu olhando por você... reza pra ela... pede pra ela vir cuidar do seu espírito enquanto os médicos cuidam do corpo...

Esse diálogo interessantíssimo eu e meu filho apreciávamos de camarote. Meu filho mais velho a olhava com verdadeira admiração e quando eu menos esperava, ele me pressionou.

- E aí, paizão... tá esperando o que? Melhor que essa a gente não vai encontrar, não...

Eu não tive forças para questionar. Meu filho era um poço de bom senso.

- E será que ela está apaixonada por mim o suficiente?

- Pergunta, pai...

Nos casamos alguns meses depois. Meu filho sobreviveu à cirurgia. Compramos a casa dela e ampliamos a nossa sala e cozinha. Tivemos mais uma filhinha e envelhecemos juntos, cada vez mais apaixonados pelo outro. Senti que a minha verdadeira vida era a que eu tinha com ela. Meu primeiro casamento foi colocado em uma prateleira distante, apenas trouxe os filhos dele. Eu finalmente encontrei a felicidade e se alguém insistir que não existe relacionamento sem traição... mentira!

Lucilia Martins
Enviado por Lucilia Martins em 09/10/2015
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