Pôr Do Sol

Mas que imensidão se passava naquele olhar. Ela sorriu docemente quando me viu novamente, mas eu passei reto.

Duas horas depois me encontrou na mesma praça vazia e solitária. Sentou-se ao meu lado e eu a admirei como um belo pôr do sol. Fechei meu livro e esperei que me dirigisse a palavra.

- "É bom te ver aqui novamente".

- "Eu sei" - queria dizer o quanto era bom vê-la novamente, mas não consegui. Ela me olhava profundamente. Novamente.

- "Por que não falou comigo antes?"

- "Não te reconheci" - Eu a reconheci há dez metros de distância. Cabelos ao vento, saia longa e uma profunda imensidão naquele olhar.

- "Senti sua falta. Queria te abraçar ali mesmo. Mas você passou reto, tão sereno, tão frio..."

Tão frio? Que bobagem... Se ela soubesse o quanto esperei por isso e o quanto queria tê-la na hora em que a vi, caminhando em minha direção... Mas eu perdi a direção. Eu perdi a noção e o rumo quando meus olhos encontraram os dela. Eu perdi a reação quando ela sorriu gentilmente e se afastou aos poucos. Eu era aquele momento.

Ela pegou na minha mão e eu fiquei estático. Pode parecer que eu não reagira ao seu toque, mas a verdade era que eu estava explodindo por dentro.

- "Será que eu posso te abraçar agora?"

Olhei em seus olhos e me perdi neles novamente. Então sorri como há um bom tempo não havia sorrido. Ela me abraçou novamente. Eu paralizei novamente.

"Que o tempo pare agora, para todo o sempre", foi o que pensei.

- "Senti muito a sua falta" - sussurrei em seu ouvido. Foi o suficiente para que ela me soltasse.

- "Tenho que ir" - ela se levantou.

- "Mas já?" (por favor, fica, fica, fica, fica...)

Ela sorriu gentilmente e se afastou. Levou consigo o pôr do sol, seu ego e todo seu amor próprio. E eu fiquei ali, sentado...

Uma gota me atingiu a cabeça. Olhei pra cima e então percebi. Ela levou o pôr do sol, mas deixou a tempestade, tão escura e profunda quanto aquela que se encontra em seu olhar.

Quanto a mim? Ah, eu fiquei ali, sentado, na esperança dela voltar.