O Gaúcho e a Prenda - EC

O minuano acentua a saudade de dez léguas que maltrata qualquer vivente, quisera dele, que há meses carrega no peito o talho que a ausência do achego dela lhe provoca. Assume que está de rédeas no chão, mas aguenta o tirão.

Suas mãos se conformam com o seio moreno, que lhe abriga o mate, enquanto nas infindas noites matuta olhando a estrela boiadeira, pedindo ao Patrão Velho que com brevidade lhe permita o acolherar com sua prenda. Suspira : Peleia boa !!

Como pode ficar bem, estando tão longe de sua querência, de suas raízes e tradições, ao que ela sempre responde : Quem não tem parcão caça com Ibirapuera ! Todavia ele sabe que ela não conseguiu trocar o tú pelo tão embotado : você, tampouco quanto se policia para não pedir cacetinho ao padeiro. Bem capaz ! Mas suas preces são atendidas e numa tarde quente como frigideira sem alça, soube de sua chegada, nem o Grenal importava, zuniu ao seu encontro. Fácil identificá-la no entrevero, senão belo brilho do olhar, pelas ancas que jamais esqueceu.

“ Bah ! Mais bonita que laranja de amostra !”

Faceiro como guri de calça nova, pouco se importa com a demora do sinaleiro, sua dama lhe apraz, e a música no rádio parece acalentar a prole junto à terra mãe:

“ Sou fandangueiro e me criei dentro da sala

Batendo as patas num salão de chão batido

E quando enxergo uma prendinha se embalando

Vou me chegando pra dançar de peito erguido”

PS: Quando vou te esquecer ? Quando não houver mais sangue correndo nas veias !

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Este texto faz parte do Exercício Criativo sob o título o gaucho e a prenda, confira demais composições em

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