UM JANTAR DIFERENTE

Cansada das constantes idas e vindas no barzinho da esquina, para buscar o marido sempre alterado pela cachaça, Dulcineia planejou, então, para sua vida um final diferente.

O casamento já estava morto, porém ela, a viúva, ainda era jovem e bonita e assim, passou a sonhar com um príncipe, sem garrafas e cachaças. Um que fosse só seu.

Primeiro, tirou licença de seu emprego e investiu seu tempo pondo a cabeça no lugar, assim pensava ela.

Num final de semana, despachou filhos e ex-marido para a casa de parentes, na sua cidade natal.

E como já estava de olho e seta endereçada, marcou num domingo um jantar em sua casa, com seu novo pretendente.

Ela dona de casa de poucas posses e muita economia pouco sabia de cozinha. Mas, mesmo assim, se informou com as vizinhas sobre pratos novos e elegantes.

Mãos à massa, preparou uma mesa, diferente da habitual, bem arrumada com flores e talheres - serviço meio a francesa e a La carte à luz de velas.

Empolgada e ansiosa com a espera, levou logo as travessas à mesa: Um deslumbrante assado com batatas grelhadas ao lado de uma salada farta e uma jarra de limonada.

Não aguentando tanta ansiedade, foi ao portão esperar e receber o novo parceiro. O tempo passava e nada de cavalo branco, nem príncipe encantado.

Entre tantas idas e vindas à cozinha e ao portão, qual não foi a sua decepção, quando entrando na cozinha, certa feita, viu sentado à cabeceira da mesa, já de barriga cheia...

Não o seu príncipe, porém apenas o seu magro cão, que surpreso com a fartura daquele dia, sentiu-se convidado para a festa.

O velho cão ingrato e mal educado, porém vivo e constantemente esfomeado, não se fez de rogado e comeu até o macarrão.

Como um furacão lambeu os pratos e beiço, não deixando nada pra ninguém. Dizem que sua dona o pegou ainda com um espaguete pendurado entre os dentes.

A sorte, foi que o jovem enamorado não apareceu. Talvez, até já pressentisse que teria outro pretendente a disputar as iguarias ofertadas pela bela Dulcineia, que naquela noite desiludida desatou a chorar e no dia seguinte seus filhos foi, logo, buscar.

anna celia motta
Enviado por anna celia motta em 23/11/2015
Reeditado em 25/11/2015
Código do texto: T5458075
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