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POR AMOR
 



 
Albano mexeu-se na cama com dores… Estas eram cada vez mais fortes, difíceis de aguentar. Inês acariciou-lhe o rosto magro, compreensiva e solidária com o seu suplício. Foi até junto da janela e olhou para a rua, depois para poente, onde o sol ia mergulhando aos poucos no horizonte, alaranjando o céu. Estava arrependida por ter concordado com a proposta do amante. Por amor tinha aquiescido vir com ele para aquela zona de praia, gozar os seus últimos dias de vida. Estava condenado, em estado terminal, os médicos tinham-lhe tirado qualquer veleidade em termos de recuperação, no máximo duraria duas semanas, que já tinham passado. Mas o pior era que ele tinha combinado com ela que morreria sim, mas zombando da morte. Tinha comprado duas embalagens de Viagra e pretendia gastá-las, até as forças acabarem, mas pelo menos que morresse com um sorriso nos lábios, sem ser em sofrimento.
Nos primeiros dias tinham-se amado apaixonadamente, ele terminava banhado em suor mas gemendo de prazer. Depois, com menos energias, ela ficava por cima e chorava ao ver o esforço que ele fazia. Então abraçava-o, cingia-o aos seios nus. Tudo fazia por ele, apaixonadamente.
O esforço de Albano tornou-se cada vez mais evidente e por fim já nem tomando dois comprimidos seguidos obtinha resultado. Ele então chorava baixinho, ela também, condoída pelo farrapo humano em que ele se tinha transformado. Teve uma crise cardíaca que ela, atuando de imediato, superou fazendo-o ingerir um comprimido de nitroglicerina para ativar o coração. Mas numa segunda crise já não saiu do coma.
Inês passou o dia seguinte agarrado ao corpo, carpindo a sua mágoa. O médico, que tinha sido chamado de urgência, aconselhou-a a mudar o amante para o hospital, sempre poderia ser apoiado com mais condições, mas ela negou-se terminantemente, dizendo que iria obedecer a todos os pedidos do seu amado, custasse o que custasse.
Albano morreu no princípio da noite. De manhã Inês chamou o médico, que registou o óbito. Velou-o com dedicação, abraçada ao corpo, chorando a sua saudade e o amor que partia tão cedo.
O funeral decorreu na manhã do dia seguinte, sem acompanhamento, uma cerimónia sem ritual e o caixão baixou rapidamente à terra.
Inês vagueou desgrenhada, durante dois dias, pelas ruas da vila, como uma louca, olhos desvairados e em choro silencioso e sofrido.
Ao final do terceiro dia deram com ela numa arriba, o corpo despedaçado, sem vida. Tinha-se suicidado, saltando para a morte de um penhasco junto ao mar.
 
 
 
 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 31/01/2016
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