Promessa cumprida.

Aproximei-me da porta, as pernas enfraquecidas pelo cansaço, a ansiedade tomando conta de meu ser, por nenhum motivo aparente. Respirei fundo, pronta para o que estava por vir. Coloquei a mão dentro da bolsa, alvejando pegar a pequena chave que estava em algum daqueles compartimentos. A tarefa levou algum tempo, já que a bolsa estava uma completa bagunça, uma zona!

Após a árdua tarefa de procurar pela agulha no palheiro, finalmente consegui por as mãos na chavezinha. Estava pronta para coloca-la na fechadura, quando o barulho e a buzina de um caminhão chamaram minha atenção. Os móveis finalmente haviam chegado.

A porta atrás de mim se abriu e de dentro dela a pessoa que eu ansiava ver saiu. Desviei minha atenção do caminhão e o olhei, assim que nossos olhares se encontraram, seus lábios se converteram num lindo sorriso, que fez meu coração saltitar em meu peito. Após nos cumprimentarmos, o rapaz caminhou até o caminhão e conversou com os rapazes que estavam ajudando na mudança. Conversaram por alguns segundos, para em seguida os rapazes começarem a tirar as caixas do caminhão e entrar com elas.

Ele então se pôs ao meu lado, estendendo-me uma de suas mãos, convidando-me para entrar, para nos aventurarmos em nossa nova casa, nossa nova vida, mas eu ainda estava receosa.

No momento que eu transpassasse aquela porta, uma nova etapa, uma nova jornada começaria. Algo repentino, que eu nunca imaginei que pudesse acontecer comigo. A partir daquele momento eu começaria a morar em uma nova casa, com um único homem, ao invés de toda minha querida família. Daquele momento em diante, eu seria uma dona de casa, uma mulher como minha mãe. Cuidaria daquele homem, cuidaria da casa e, talvez no futuro, cuidaria de nossos filhos.

Mesmo sabendo que aquilo aconteceria depois de meu casamento, eu ainda estava receosa com a mudança. Será que seria capaz de realizar todas aquelas coisas? Conseguiria eu cozinhar, limpar, cuidar de outras pessoas e manter meu trabalho? Ah, aquelas e outras perguntas ecoavam em minha cabeça, e o medo do que estava por vir no futuro me queimava por dentro. Odiava aquela sensação, aquela ansiedade que me consumia.

- Ei! – chamou-me a atenção. – Não precisa se preocupar, não tenha medo do futuro. Sei que faremos um bom trabalho. E seja o que for que o futuro nos reserve, seja qual for o obstáculo, e por mais difícil que ele possa parecer, sei que conseguiremos vencê-lo, afinal, somos uma ótima equipe, certo? – apenas assenti, já que não sabia o que dizer. – Então, larga isso tudo de lado, esse medo, essa ansiedade e vamos, aventure-se comigo nessa nova jornada! – seus lábios esboçaram um novo sorriso, um sorriso que me transmitia confiança e que fazia meus medos sumirem, como num passe de mágica.

Ofereceu-me sua mão novamente, respirei fundo, desta vez mais confiante, e peguei em sua mão, adentrando em nossa nova casa, parcialmente mobiliada e com muitas caixas espalhadas por todo o chão. Ele suspirou cansado, provavelmente estaria pensando no trabalho que teríamos em colocar todas as coisas no lugar.

- Ah! Já decidiu onde será o escritório? – perguntou-me.

- Gostaria que fosse naquele cômodo cheio de janelas, com porta para o quintal. Tudo bem?

- Claro. Perfeito. Mas, tem certeza que não terá medo quando tiver que trabalhar durante a noite?

- Sim. Fique tranquilo, eu gritarei e te chamarei se algo acontecer. – ele então soltou uma risada gostosa de ouvir.

- Tudo bem! Pode me ajudar a levar a mesa para lá? – assenti. Claro que ajudaria, pedir não era necessário. Pegamos a mesa e nos encaminhamos para o escritório, tivemos algumas dificuldades no caminho, pois algumas partes eram estreitas, contudo deu tudo certo no final. Centralizamos a mesa, colando-a em frente às janelas com a vista perfeita do jardim.

Após colocar a mesa no lugar, corri de volta para a entrada da casa e procurei pelo meu computador, o que mais queria naquele momento era deixar o cômodo pronto para que eu pudesse trabalhar o mais rápido possível. Tendo o computador montado, voltei para pegar os outros itens que iriam compor a mesa, e, enquanto organizava aquele cômodo, meu marido – nunca conseguia me acostumar em chama-lo assim – organizava a sala de estar.

Enquanto estávamos entretidos na organização, a campainha soou por toda a casa. Perguntei-me quem era a princípio, mas após ouvir a voz estridente e as altas risadas vindas do lado de fora, não restavam dúvidas. Eram a Gisele e o Felipe, nossos grandes amigos.

- Olá pessoas! Viemos ajudar! – disse Gisele, sempre hiperativa e cheia de energia. – Na verdade, eu tive que arrastar o Felipe comigo, esse preguiçoso não queria ajudar, acredita? E ainda se diz amigo de vocês. – nós dois rimos, enquanto Gisele continuava com sua cara de quem estava indignada e Felipe fazia uma cara emburrada.

- Ah, que isso, não precisavam vir ajudar.

- Ah, então nós vamos...

- Mas, já que estão aqui, ajude-nos a organizar a sala de jantar. – meu querido esposo cortou Felipe, o mesmo bufou.

- Tudo bem, tudo bem... – em seguida, os dois entraram e começaram a ajudar na organização.

E assim foi nosso dia. Não havia muita mobília, então terminamos muito rápido, não estava nem perto de anoitecer, o sol ainda brilhava fortemente no céu límpido e belo.

Terminada a organização, rumei apressadamente para o escritório, desejando ligar o computador e tentar finalizar o trabalho que havia se atrasado muito por causa do casamento e da mudança. Se eu atrasasse mais, meu editor comeria meu fígado com farofa, e eu não queria aquilo.

Apertei o delicado botão que ligava a máquina e enquanto o computador iniciava, eu observei a bela paisagem que o quintal me proporciona. A grama verde lá fora parecia fofa e macia, era muito convidativa. Parecia que ela estava dizendo: “Venha até mim, deite-se um pouco e aproveite.”. E foi isso que eu fiz.

Larguei o computador iniciando, abri a porta e contemplei a bela paisagem que estava à minha frente. A melhor coisa daquela casa era, com certeza, o quintal. A grama verde e bem tratada, árvores majestosas, e a visão de um belo lago no fundo dando o toque final. Fiz uma nota mental naquele momento: “Preciso tirar muitas fotos.”.

Fechei os olhos por um momento, apreciando os raios de sol que esquentavam meu corpo naquela tarde fresca de outono, aproveitando a brisa do local, sentindo meus cabelos e minhas roupas balançar ao ritmo dela. Amava aquela sensação. Sentei-me na grama, ainda de olhos fechados e deitei-me lentamente, abrindo os olhos enquanto isso. Pus-me a contemplar o céu.

Algum tempo depois, não sei ao certo quanto, meu esposo veio e sentou-se ao meu lado, observando a paisagem junto comigo.

- Agora sei o porquê escolheste aquele cômodo para o escritório. A vista é bem bacana, não?

- Sim. Confesso que a vista está me inspirando a escrever, mas não sei se deveria. Parece meio bobo falar das árvores e tal.

- Eu acho que deveria escrever. Adoraria ler. – nos olhamos rapidamente, um sorriso singelo formou-se em seu rosto.

- Ok, tudo bem. Pensarei nisso.

- Ótimo.

Finalizada a conversa, ele se sentou ao meu lado e entrelaçou nossas mãos, que repousavam na grama macia. Voltei a fechar meus olhos. Agora, ao invés de medos e anseios, meu corpo era preenchido por alegria, felicidade e confiança, coisas que só ele conseguia me transmitir. Sentia-me tão relaxada que se não fosse por ele, teria cochilado.

- Ei.

- Diga.

- Você vai escrever isso, não vai?

Ao invés de uma pergunta confirmatória, aquela indagação parecia mais um pedido oculto. Soltei uma risada.

- Sim. Fique tranquilo.

Hikari
Enviado por Hikari em 05/02/2016
Código do texto: T5534751
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