IMAGEM GOOGLE
 

 

CONFIANÇA
 
 

Maria olhou-o muito séria, segurando-lhe as mãos nas suas.
- Amor, vou fazer-te uma pergunta que gostaria me respondesses com a máxima sinceridade: Se por uma qualquer impossibilidade não pudéssemos fazer amor, ficavas muito desapontado, deixavas-me, afastavas-te de mim?
Ele respondeu de forma espontânea, sem hesitar.
- Claro que não, porque perguntas?
Ela olhou-o fixamente, esquadrinhando a sua sinceridade e então sentou-se mais perto dele e aninhou-se, encostando o rosto ao seu peito.
- Eu sabia… - e distendeu os músculos, espreguiçando-se como uma gata satisfeita.
Carlos pegou-lhe na ponta do queixo e beijou os seus lábios ternamente, sem sofreguidão, sentindo cada instante. Maria correspondeu e acariciou-lhe o peito, deslizando a mão sobre a camisa. Ele também a acariciou, o ombro, o braço, depois a mão percorreu-lhe pela primeira vez os seios, contornando-os, sentindo a respiração dela cada vez mais acelerada. Quando lhe pousou a mão na saia e depois escorregou para a parte interior da coxa, ela levantou-se de repente, disse-lhe que ia à casa de banho. Carlos percebeu, estava afogueada, queria disfarçar e também refrescar-se, ali fazia bastante calor, por diferentes razões.
Ele continuou a beber pequenos goles de água enquanto olhava para a TV, que tinha o som no mínimo. Estava a dar um documentário qualquer na RTP 2.
Por fim lá regressou.
- Então, já estás mais bem-disposta?
Maria olhou-o, para ver se ele tinha falado a sério ou estava a gozar.
- Claro que estou, só fui refrescar-me um pouco, está calor.
- Queres tomar banho comigo?
Olhou-o de novo, fixamente, tentando perceber o alcance da pergunta.
- Porque me fazes essa pergunta?
- Gostava de tomar banho contigo, de te ter nos meus braços.
- Bem, já estava a ver se me ias chamar de petite cochone
- Claro que não, tontinha, alguma vez o faria?
Sorriu de novo.
- Estás a falar a sério? 
- O quê, sobre o banho? Tu própria o disseste, está muito calor.
- Deixa-te de tretas, o que querias era ver-me despida…
- Ainda ontem te vi, parcialmente.
- Não é a mesma coisa. 
- Pois não, mas para lá caminha…
- Quem falou em caminha?
Maria riu de novo, mas um riso nervoso.
- Deves valorizar-me, não queres, eu não insisto, aliás, eu nunca te pressionarei seja no que for. 
- Tudo bem, eu valorizo.
- Isso significa que o duche está fora de questão?
- Está, tenciono tomar duche mais logo, mas sozinha. 
- Está bem, queres que eu me vá embora?
- Então, amor… És desconcertante, sabes? Porque és tão suscetível?  
- Estás a mandar-me embora…
- Está bem, desculpa-me. Deixa-te estar aqui comigo.
Aninhou-se de novo junto ao ombro dele.
- Maria, eu acho que te percebo, emenda-me se estou errado: tu tens medo de fazer amor comigo, não é?
Ela desviou o olhar para a mesa, pegou no copo e bebeu um gole de água.
- Tenho razão ou não tenho? Foi uma má experiência?
- Quem te contou?
- Ninguém… Deitei-me a adivinhar e tive sorte… 
- És mesmo danado…- E deu-lhe uma palmada no ombro.
- Adivinhei, não é? Porque não falas comigo sobre o assunto? Eu sou mais compreensivo do que tu pensas. Mas para nos sentirmos próximos deves confiar mais em mim.
Maria olhou-o, depois desviou a atenção para a TV, mas Carlos teve a certeza que o seu pensamento estava longe do documentário em exibição.
- Eu tive de facto uma má experiência, já foi há uns anos, mas marcou-me muito, desde essa data nunca mais quis nada com homens.
- Queres contar-me? Se quiseres, caso contrário só tenho é que respeitar a tua vontade.
- Mais tarde, sim?
Entretanto Carlos olhou para o relógio. Era quase meia-noite.
- Por falar em tarde, são horas de ir para casa, para a minha grande e solitária cama.
- Solitária só muito recentemente, já teve muito movimento…
Carlos sorriu, mas foi um sorriso amarelo, sem chama. Maria olhou-o e compreendeu que ele não tinha achado muita graça à piada.
- Até amanhã, amor.
- Espero que retribuas a visita, está bem? Até amanhã.
Ele deu-lhe um beijo na face e ela olhou-o, interrogativa.
- Então, isso é que é um beijo?
- Não quero que fiques de novo com calores.
- Está bem, se é isso que queres…
Carlos entrou no elevador enquanto ela fechava lentamente a porta mas ele de súbito recuou e tocou na campainha dela. Maria abriu de imediato, ele puxou-a a si e beijou-a com paixão, abraçaram-se e ela fechou a porta. Começaram a despir-se um ao outro, a roupa deslizou para o chão e mais alguns passos caíram na cama. Estavam quase nus quando ela se afastou um pouco dele.
- Não posso, não consigo… - e começou a soluçar, tapando os olhos com as mãos.
Ele acariciava-lhe os ombros, os braços, a face, olhou o corpo dela, os seios redondos e brilhantes da transpiração, as cuecas pérola rendadas.
Abraçou-a de novo, desta vez com mais ternura que desejo e disse-lhe: 
- Confia em mim, amor.
- Dá-me tempo, Carlos, eu fui forçada, fui violada por alguém que supunha me amava, fiquei muito traumatizada.
- Mas eu não sou desses, sou paciente e nunca te forçarei a nada, podemos estar assim, só abraçados, queres?
Maria fechou os olhos encostou-se a ele, lágrimas corriam-lhe pela face e Carlos secou-lhas com beijos.
- Pronto, amor, não chores mais. Também não é caso para estares assim.
Sossegou e fechou os olhos.
- Queres que eu fique contigo? Dormimos assim, quietinhos, não há nada, não vês que só quero estar contigo, que te amo?
Ela levantou os olhos para ele e beijaram-se mais uma vez.
- Querido… És um amor, nunca esquecerei as tuas palavras. Mas de manhã, tal como eu, tens de ir trabalhar…
- Não vai haver problema, eu vou a casa aí pelas sete horas, tenho tempo de tomar duche e mudar de roupa.
- Está bem, amor.

Carlos levantou-se, foi desligar a televisão e depois, ambos parcialmente despidos, Maria nem sequer pôs o soutien, deitaram-se abraçados e adormeceram nos braços um do outro.
 

Excerto do livro “ Memórias De Um Sedutor”




 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 01/03/2016
Reeditado em 01/04/2016
Código do texto: T5560183
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.