Enigma

EnigMa com M de mulher, o certo seria dizer mulheres, mas para mim só existe uma cujo o enigma é grande o suficiente para receber um ponto de interrogação tão grande. Uma coisa me atormentando, saltitando e rebimbocando no meu crânio, bagunçando o estômago, dando náuseas e tirando meu sono. Só de pensar em como proceder, tenho vontade de colocar o almoço pra fora, tamanho o mistério o qual não consigo destrinchar.

Não consigo ou não quero perceber os sinais e dicas. Sherlock Homes ficaria desapontado ao ver que minhas ferramentas de dedução tão inúteis mesmo aplicando seus meticulosos métodos.

Os olhos brilhantes e molhados de interesse como um glutão babá em cima da comida, o sorriso torto acompanhando meus discursos blasfêmicos e incoerentes, os cabelos flutuam e se entrelaçam nos dedos com essa literatura maltrapilha ou nas teorias caóticas sobre as coisas da vida que vômito, seriam essas algumas nuances que eu noto mas ignoro?

De certo modo faço o mesmo, ao vê lá discursando com tanta eloquência, paixão, confiança, nem parece ser a menina frágil e tímida que demonstra ser e aparenta. Me pego observando suas palavras, digerindo cada sílaba e palitando os dentes com os acentos. Não consigo me abster durante sua fala; preciso debater, responder, multiplicar e enquanto os outros falam pouco presto atenção. Será um amor intelectual? Vivendo apenas no mundo das ideias? Agora compreendo o dizer “Amor Platônico”

Falho toda vez em me declarar. Travo, perco o timming, terceiros surgem, mau hálito, engasgo. São apenas desculpas as quais eu conto para mim mesmo mas apenas tenho isso para me consolar. Tudo parece tão natural, quando há a algo a se dizer e ficamos perdidos na noite até os bem-te-vis avisarem do amanhecer, por fim as partidas são sempre desengonçadas, como se algo devesse ser dito ou feito.

Sua imagem parece um reflexo cuja a confusão mental se espelha em mim, esse poço de ideias de lama gosmenta, caos e o que mais surgir de uma psique desequilibrada. Um irmão dialético e filosófico, dos debates, embates ideológicos e duelo de ideias afloradas mas inofensivas. Porém por mais que seja, a cima de tudo uma companhia fiel na mesa do bar, no banco da praça, do papel e do lápis, desejo saciar outros desejos. Esses sentimentos torpes e animalescos, desejo uma amante em meus lençóis brancos para perder a noção de dia e noite de outros modos e não apenas no banco do boteco.

Guilherme Rabelo
Enviado por Guilherme Rabelo em 11/04/2016
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