MAIS UMA FLOR

O luto estava impregnado na alma de Barbara. Um acidente de carro, levou para sempre, Victor.
Barbara contava com o ciclo da vida, para ajudá-la a emergir da dor imensa que tomava toda sua alma. Naquele momento passeava pelo jardim de sua casa, o inverno havia passado e dado passagem para que a primavera tingisse de lindos matizes os canteiros. Com seus dedos finos e longos, ela se deteve em afagar uma rosa, a delicada flor guardava o orvalho da antemanhã em suas pétalas macias. Suas lágrimas de saudade, caiam sobre a flor e misturavam-se ao orvalho.

Sem pressa voltou para dentro de sua casa. Lá as recordações, descansavam em cada objeto, a ausência de Victor fazia pouso em cada cantinho, e a saudade preencia o ar de cada ambiente.
Barbara havia colhido erva cidreira e hortelã em sua horta, e agora estava recostada no sofá, lugar preferido por ela e ele. Ali, tantas juras de amor, tantas carícias, tantos abraços, foram partilhados.
Devagar levou a xícara de porcelana, aos lábios, e sorveu um pequeno gole do saboroso chá. Em seguida olhou com carinho para a pintura de dois pombinhos, pousados sobre um ramo de oliveira, ricamente desenhado sobre a xícara. Victor havia trazido para ela o aparelho de chá completo quando esteve na Bavaria. Ele sempre foi assim, atencioso, carinhoso, amoroso com ela.
Barbara vinha tentando conter o pranto, afinal, havia completado dois anos desde a partida repentina do amor de sua vida. Porém, tinha momento em que ela sucumbia a emoção, e aquele era mais um desses momentos.
O pranto deslizou manso, como os fios de água rolam sobre as pedras de um riacho. Ainda com os olhos enevoados de lágrimas, ela olhou o quadro à sua frente. Nesse instante uma emoção carregada de saudade e solidão tomou conta do seu coração, e ela perguntou mais uma vez: Por quê? Por quê tinha que acontecer?

Foi de repente, e por um instante, que talvez, nem o relógio cuco preso à parede da sala, tenha conseguido marcar. A voz de Victor soou doce aos ouvidos de Barbara, e sussurrou-lhe: -  "Não se desespere, nem questione. Tudo está como deveria estar. Eu estou bem, e te amando ainda mais. Para ter certeza que você não está vivendo uma alucinação, observe o quadro de flores que eu pintei e lhe dei de presente no dia do nosso enlace, e você sabe de cor quantas flores tem no vaso, pois hoje, você encontrará mais uma. Eu a coloquei ali, enquanto você afagava a rosa em nosso jardim."

Como quem voltou de um transe profundo, Barbara despertou.
Chorava e sorria, ao mesmo tempo, tamanha era a sensação que experimentava.
Num impulso, levantou-se do sofá e foi conferir o adorado presente, pintado pelas mãos do seu amado. E, num grito de alegria, Barbara confirmou, o impossível. Havia mais uma flor, no quadro. Ainda sem acreditar, com os dedos trêmulos, ela tocou cada uma, (conhecia de cor cada flor daquele quadro) e quando com a ponta do dedo indicador, ela tocou aquela nova flor, sentiu a umidade da tinta fresca. 
Um soluço nasceu do fundo de sua alma, e balançou seu frágil corpo.
O pranto que inundou o rosto de Barbara, havia mudado. Não era mais salgado, agora era doce feito mel. A saudade havia sido amenizada, pela presença invisível que ainda podia sentir do seu amado. E a interrogação havia se tornado certeza, de que tudo estava como deveria estar, e que Victor, de alguma forma, continuava sua jornada.



(Imagem: Lenapena)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 21/04/2016
Reeditado em 21/04/2016
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