NOSSA PRAIA

_ engraçado a gente marcar de se encontrar nesse mesmo local depois de oito anos, um dia antes de você se casar.

_ você sabe porque eu tô aqui.

_ quer minha benção?! - de canto de boca, sorri ironicamente.

_ não, é que--olha, lu, você sabe do que eu sinto por você.

_ não sei se sei, afinal, amanhã você vai dar um sim bem grande pr'aquele doutorzinho sem graça. já pensou como sua vida vai ser monótona?

_ lu, eu não queria que foss--

_ e você acha que eu queria?

_ olha, eu só queria te ver antes. não sei. não deveria estar aqui, vou embora. desculpe.

_ anny, espere.

_ ade--.

_ não!

os dedos se entrelaçam no meio da praia (na praia deles), que logo vira cama. frente um ao outro, ainda sem acreditar onde estavam, as roupas despencam rumo ao chão. exploram cada parte da epiderme que já lhes era prometida há quase uma década. a meia luz, a lua os observa pela fresta que invade levemente o quarto pela janela daquela suite master de motel. seus lábios dançam tango em meio a saliva e suor. o dedo percorre as costas dela até chegar na porta da cabeça, nuca, e agarrá-los com um carinho selvagem. sua língua escorre a haste ereta e, na glande, se firma. ele geme. ele explode. ela se deleita sobre sob os fluidos corpóreos que lhes pertenciam há muito. dedos. pés. canela. batata. coxas. virilha. barriga. barriga. barriga. seios. barriga. virilha. e contorna, até ela gritar. lábio com lábios. língua varre a casa. e quando os corpos se costuram, explosões. terremotos. catástrofes naturais. olhos gritando eu-te-amo. boca implorando não-vai-embora. mãos ensaiando fica-aqui-pra-sempre. um calafrio bateu-lhes a nuca. era hora de voltar ao mundo. anzóis abertos, mesmo lugar. bocas despedindo-se uma última vez. na praia (na praia deles).

_ ainda dá tempo de desistir.

_ você sabe que não dá.

_ então porquê veio?

_ por sua causa, lembra? você me prometeu que ainda iríamos ficar juntos um dia.

_ não me parece que estamos ficando juntos.

_ mas sempre estarei contigo.

_ você sabe que escreverei um livro sobre você, né?

_ e espero que fique rico com isso, viaje o mundo.

_ te encontro em paris?

_ sempre.

_ vinte anos vai ser muita coisa. estarei velho, rabugento e gordo.

_ mas ainda será você. nós somos assim, você sabe. esse ainda não é nosso momento.

_ nunca é, tô cansado disso.

_ eu também, esperar não é meu forte.

_ e quando será? quando teremos a certeza de que vamos acordar um do lado do outro?

_ espero que breve.

_ espero qu--

_ adeus!

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 20/05/2016
Reeditado em 03/08/2016
Código do texto: T5640875
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