Manuela "Um conto de AMOR

Noite de luar, pleno vinte e oito de julho, fim das férias escolares, beira mar. A lua exuberante no céu deixava a noite parecida com dia, muitas pessoas caminhavam na orla, outros na areia da praia. Música no palco central era cantada, enquanto muitos dançavam outros apenas admiravam a música, os músicos. Esse era o cenário daquela noite que Marcos caminhava pela orla da praia de Atalaia com os olhos cheios de lágrimas. Quem o via sentia a dor em seus olhos e as interrogações pairavam nos pensamentos, mas ninguém poderia saber o que estava acontecendo. Ele parado, em pé, chorava incansavelmente que dava dó. Todos queriam saber o que ele estava sentindo, mas ninguém o conhecia, ninguém se atrevia a quebrar o gelo daquela situação. Marcos não via ninguém ao seu redor, estava tão perdido na dor que nada importava, nada tinha sentido na sua vida. Para ele o mundo havia desabado, não tinha solução, tudo havia ficado escuro, sentia que estava queimando e a fumaça o sufocava dentro do peito e as lágrimas transbordavam apagando o fogo. Respirou fundo e lembrou-se de tudo, desde o primeiro dia:

Caminhava na praça central de sua cidade, era noite fria de inverno, a chuva fina caia sem parar. Ele então resolveu buscar um local para proteger-se da chuva. Parou perto da Maria Fumaça, que representava o passado da sua cidade. Logo em seguida uma garota de pele morena, cabelos encaracolados, olhos castanhos cor de mel, corpo bem desenhado, usando uma blusa rósea, uma saia branca que deixava suas cochas a mostra, chegou correndo na maior das felicidades com uma amiga. Ao chegar ao local, protegida da chuva, ficou conversando com a amiga e Marcos não pode deixar de notar sua beleza, olhou para ela deslumbrado e de repente percebeu que ela olhava para ele sorrindo. Ele ficou sem graça e acenou. Ela retribuiu. Marcos aproveitou aquela deixa e abriu conversa com ela. Os dois começaram a conversar deixando a sua amiga de lado. Naquela conversa doce e suave um pode conhecer o outro. Ficaram ali por quarenta e dois minutos, quando enfim a chuva deu uma trégua. Nessa hora ela falou que iria embora, ele aproveitou para se despedir e quando foi dar-lhe um beijo no rosto, acabaram se beijando na boca, um beijo simples, mas que deixou o coração dos dois batendo a mil. Não perderam tempo e se deram outro beijo, iniciando ali um amor tão puro e belo. Daquele dia em diante a vida de Marcos mudou totalmente, havia conhecido uma pessoa bela, cheia de qualidades que jamais imaginou que teria o privilégio de conhecer e passou a viver um conto de fadas. Para eles a vida era doce, não havia nada que tirasse a alegria, a felicidade de seus lábios. Viveu assim dois anos e seis messes, até que algo aconteceu. Ele jamais imaginou aquilo. Depois de dois anos e seis meses um ex-namorado dela retornou à cidade, ele havia ido morar na Europa para continuar seus estudos. Quando voltou à cidade a primeira coisa que fez foi ir a sua procura. Quando ela a viu seu mundo rodou, ficou perdida. Jamais imaginou vê-lo novamente, na verdade o havia esquecido por completo, imaginava. Mas, ao vê-lo ali seu coração acelerou, não compreendeu o que estava acontecendo. Ele a abraçou deu um beijo na face, falou que estava morrendo de saudades, contou muitas novidades, sobre sua viagem e por fim a convidou para sair. Nessa hora ela contou que estava namorando, que não podia sair com ele. A face dele perdeu a alegria, ela percebeu. Em segundos se despediram. Ao sair dali ela começou a perceber que seu coração estava diferente. À noite quando encontrou Marcos, ele logo percebeu a mudança. Não compreendeu, mas ela estava fria, com o pensamento longe. Perguntou o que estava havendo, ela sorriu e o beijou profundamente um beijo longo de amor. Marcos esqueceu-se de tudo. A noite foi linda. Mas, dali para frente ela não foi mais a mesma mulher que Marcos conhecera naquela noite de chuva. Com o tempo os sentimentos foram ficando menos intenso. Marcos tentava saber o que estava acontecendo para que seu grande amor perdesse o brilho, a intensidade. E, tentando reconquistar, reacender o amor daquela bela mulher, a convidou para passar um final de semana na praia de Atalaia. Mas, agora Marcos sabe que essa foi a pior ideia que ele teve. Ao chegarem ao hotel, ela viu um jovem louro, olhos azuis que veio sorrindo cumprimentá-la, Marcos estava conversando com a recepcionista e não foi apresentado, mas ele não deu importância, mas percebeu no olhar dela encanto. Ao pegar a chave do quarto, voltou para onde ela estava, o rapaz quando o viu vindo saiu ligeiro. Ele perguntou quem era, apenas falou que era um amigo da escola que não via há anos. Os dois subiram para o quarto, namoraram um pouco e por fim resolveram andar pela orla, pela areia da praia. Lá estava aquele rapaz que acenou novamente para ela, ela retribuiu com um lindo sorriso. Marcos pela primeira vez em todo tempo que estava ao seu lado, sentiu ciúmes. Segurou a sua mão forte e levou para outro lado de onde estava rapaz. A tarde não foi tão maravilhosa como imaginara, percebeu que ela estava muito distante, mas não perguntou nada, deixou as coisas continuarem seu curso. À noite desceram os dois sorrindo para jantar. No restaurante do hotel estava aquele mesmo rapaz sentado numa mesa, que acenou novamente para ela, ela retribuiu com o mesmo sorriso, Marcos quase explode de ciúmes, mas se controlou. Ela foi falando que queria uma caldeira, prato que ela adorava. Sentaram à mesa e fizeram o pedido. Marcos ficou de costa para o rapaz e ela de frente para ele. Até então tudo bem. A comida chegou, ele a serviu, pediu uma cerveja e começaram a comer. Eles conversando sempre sobre algo alegre, o que a fazia sorrir o sorriso mais lindo do mundo e num momento em que sorria ele percebeu que ela havia olhado para o rapaz sentado na mesa ao lado, quebrando aquele sorriso no ar. Ficou louco. Seu coração quase saía de seu peito, o ciúme tomou conta dele de tal forma que não conseguiu controlar, fez a primeira cena de ciúmes que ela jamais imaginou que ele poderia fazer. Ele levantou, foi à mesa do rapaz e perguntou com voz grosseira o que tinha com a namorada dele, pegou no sua camisa e pediu que o respeitasse. Todos que estavam ali ficaram apreensivo com aquela situação. O largou e voltou para a mesa. Ao olhar para ela, viu em sua face lágrimas. Tentou acalmá-la, mas não conseguiu. Ela saiu correndo para o quarto. Pagou a conta e foi atrás de sua amada, ao chegar ela chorava compulsivamente. Pediu mil perdões. Ela sempre calada. Ele sentou perto dela na cama. Abraçou-a. Disse que a amava, que estava arrependido. Ela levantou o olhar para ele e falou. Marcos! Não conheço este homem. Você sempre foi calmo. Por que fez aquilo? Não aguentei ver aquele cara dando encima de você a todo instante. Quem é ele. Perguntou. Marcos! Não vou mentir para você. Ele é um amigo da universidade e que namorei antes de ti conhecer. Marcos ouvindo aquilo, não se conteve e a chamou de vagabunda, de tudo o que homem nem um poderia dizer a uma mulher. Ao parar percebeu que ela estava encolhida na cama, com medo, apreensiva. Tentou pedir desculpas, que não sabia o que tinha acontecido com ele. E ouviu da boca dela trêmula. Eu não quero mais você. Você não é aquele homem doce que conheci e me apaixonei. Tentou argumentar, mas nada a fazia mudar de ideia. Por fim, saiu chorando, ao passar pelo restaurante ainda pode ver o rapaz sentado, sorrindo, a dor aumentou. Saiu desorientado pela orla e em certo ponto parou e ficou com o peito em pedaços, em meio a lágrimas. Não havia percebido que todos o olhavam, o espreitava querendo descobrir o que havia acontecido para estar daquele jeito. Ficou chorando por longos trinte e dois minutos, quando sentiu uma mão tocar o seu braço, percebeu de imediato que era ela, virou com a face banhada em lágrimas, olhou para ela fixamente. Ela apenas o abraçou. Ele sentiu-se seguro, retribuiu o abraço. Ela o beijou um beijo profundo, duradouro enquanto todos que estavam ali batiam palmas. Daquele dia em diante Marcos jamais explodiu de ciúmes, suas vidas voltara a ser um conto de fadas e com o tempo veio descobri que aquele jovem tinha assumido a sua homossexualidade, logo depois que havia se separado da sua amada.

Autor

Mario de Almeida

O poeta Castanhalense

Em 01/06/2016 às 11h35 minutos