A LOUCURA DE AMAR

"E foi-se anos desde nosso primeiro olhar, tão belo o quanto foi único poder-te vecejar, esses versos puros e vagos, de esperança e saudades aqui me calo. Pergunto-me porque não me deixais? porque não se vais? E eu mesmo respondo que não quero, perder o que tenho de mais belo, puro e concreto, único e quieto, não irei jamais!

Hoje faz frio, estranho o frio me vir, sempre me passa direto, esquece-me aqui. Estamos indo ao bosque, deslumbrar das sombras ocultas, conhecermo-nos mais, de uma forma intima e culta. Ainda bem que tenho-te, Lady Amy, o que me seria se não a tivesse? Um nada, vento, poeira, só mais um entre os mortais.

Hoje novamente faz frio, estranhamente não me sinto tão bem, como se faltasse algo em mim, coisa que ela já me tem. Ela anda calada, não diz e não fala, se sorri não dura, em seu olhar não vejo nada. Assustado fico, me dirijo e pergunto: -O que tens? O que lhe falta?

E me responde num tom agudo de timbre vaporoso: -Não sei ao certo, o que tenho ou não tenho, talvez a vida que desdenho, o que te nega dizendo, uma morte seria eficaz, para um cadáver que não teve paz, seria pecado poder dormir? porque tu não me deixais? Seria por ser eu tua amada? a vida dela já não existe mais. Aceite, hoje ou amanhã, não sou tua mulher, muito menos tua, andastes comigo para cima e para baixo, não imaginas como fostes sagaz, perdoe-me por não dizer-te antes, é que me dói ver a falta que ela lhe faz, poderia eu partir agora? precisas saber que não existo mais.

Não sei ao certo se tenho por impulso, desejar-te estar perto, quando estás no fim do mundo, desejar o que se tem e não se tem mais, e de loucura implorar por uma apunhalada de paz. Sei bem que sou louco, e quem por ela não seria? que da sanidade me nego por tudo, talvez meu lugar não seja aqui, meu lugar poderia ser ali, perto de tua cova, enterrado por entre ninhos de cobra e a sete palmos abaixo da costa, este agora cego e morto que fala e dobra, em lágrimas de ramo, vou te encontrar, te beijar, e finalmente dizer o que em vida exitei em falar, meu amor, te amo.