Proposta em Vias de fato 23- A Viagem(continuação)

Oziel saiu empurrando Lídia, estavam de mãos dadas. Quando tomou o jardim da casa, depois de certa altura começaram percorrer corredor escuro, como túnel feito em rochas para extraírem diamantes. Das paredes rochosas lacrimejavam água, era lugar aparentemente inóspito. Ele disse, fique quieta senão os sensores de segurança serão acionados detectando nossa presença, com isso ficarei impedido de mostrar fato que esclarecerá tudo.

Lídia queria somente acompanhá-lo, a situação excitou-a a tal ponto que sentiu na qualidade de companheira dele, amada antiga, ele não estava brincando, queria revelar algo importante. Depois do túnel de quase um quilômetro percorrido, chegaram em pequeno ambiente, com luz amarelada vinda de uma lamparina , o lugar era como dentro de uma caverna, tinham que manterem abaixados para estarem, o teto dava para ser tocado com as mãos. Oziel tocou o dedo indicador direito no centro de uma das paredes, imediatamente desceu um raio de luz no centro do recinto , disse ele:

___Aqui mostrarei um pouco de nós, você entenderá. Somos ligados por um tronco de almas e nele vivemos experiências comuns, mesmo que em planos diferentes.

Como filme, começou passar a história. Era Lídia vivendo com Oziel como chefe de um clã, tribo anglo-saxônica, tinham filhos, fartura de comida, súditos, e muita harmonia. Apareciam em cenas tórridas de amor, entendiam-se na cama e fora dela, a sintonia de espírito era clara. Noutros, viam-se casais, vítimas da fome, outros, das guerras, morrendo de pestes em vários cantos do mundo, sempre juntos.

Em meio a tantas fatalidades casais e aglomerados de pessoas de varias épocas em arena de teatro, em outros espaços parecidos com o coliseu grego. Tocando cítaras, instrumentos de vários modelos, pianos gigantescos, órgãos, inclusive aqueles que os antigos tocavam movidos a pedaladas, antes do surgimento da energia elétrica na terra.Na medida que assistia a tudo aquilo sentia num estado não-local, como observadora assistia ao espetáculo da existência daquelas vidas em si.

Lídia via tudo confirmando em seu íntimo que tinha algum sentido, sem poder explicar como. Olhava Oziel pelo canto dos olhos que fitava atentamente aquilo que passava na filmagem. E ali permaneceram assistindo “volta ao mundo em alguns minutos”.

Passou o épico contado por Homero, poeta grego, Guerra de Tróia; desencadeada à partir da trama amorosa entre Helena e Páris, que em missão diplomática acabou apaixonando por ela. Depois como em flash passageiros, as destacadas guerras na terra, as do cem, oitenta, trinta anos, pestes de toda sorte que assolou parte da humanidade num período da história, e aí foi indo...Lídia não suportou tanta informação, caiu desfalecida, que imediatamente foi pega por Oziel nos braços. Ficou por alguns segundos amparando-a sentado no chão do lugar, esperando que retornasse à consciência.

Acordada olhou o amigo num olhar sem a nuvem do esquecimento, sentiu vontade de acomodar as mãos no rosto dele religando a intimidade dos tempos passados, foi instintivo, tocou sua face numa facilidade conhecida, depois levou seus lábios ao dele que foram recebidos com o calor da paixão de sempre. Beijaram-se loucamente, nada era estranho, os toques, abusos e sensibilidades aflorados confirmando a sintonia de sempre. Depois, o silêncio, não queriam sair dali, estavam completos novamente sem as paredes que o tempo impõe. Ele interrompeu o silêncio, dizendo:

____Foi muito sofrimento, Lídia! Nosso amor não foi maior que o sangue derramado; lutas, mortes, provocadas ou naturais que os corpos que constituía-nos sofreu. Por motivos que as circunstâncias da história impuseram, segui um pouco mais no caminho evolutivo e agora estou aqui, melhor desperto no conhecimento e manco nos caminhos do coração, sem você tem vivido a felicidade com uma pitada de saudade, solidão nos dias, sabendo que todas as manhãs não têm seu sorriso me indicando a alegria de ser eu. A mãe que me pariu neste mundo, sendo par de um masculino especial aqui, teve o direito de ser revelada a memória ancestral minha, daí, quando alcancei a maioridade, a responsabilidade e a clarividência de entendimento para isso, apresentou este arquivo ancestral meu.

Tocando seus cabelos e acarinhando o corpo de Lídia, Oziel continuou falando com a voz engasgada e baixa. E Lídia prostrada, não mexia um dedo sequer, parecia criança nos braços da mãe sendo afagada depois de uma queda. Choravam.

Oziel olhou para o alto e falou nestes termos:

___Não sei até quando ficarei nesta condição, a pedido meu permitiram sua entrada aqui, não queriam que eu revelasse este segredo, mas estava ficando tão grande a necessidade da partilha do meu olhar com o seu, que não resisti. Além do que sei que irão encontrar meios de apagar isso de sua memória, não sei se lhe disseram, mas tudo que está vivendo aqui, na sua grande maioria serão deletados de sua mente quando acordar.

Continuou:

Estou na fase de procurar meu caminho, ir para a formação de outra família aqui, não encontro estímulo, força para tanto, eis o fato negativo de saber demais sobre si e seu passado, o campo emocional que constitui minha interioridade está impregnado em sua profundidade com o amor que sinto por você, isso não tem cura, não sei o que fazer!

Interessante que Lídia não lembrou de Túlio naquele momento, via somente Oziel, as lembranças passadas foram resgatadas. Mas, peraí! E toda aquela cena que fez com Oziel quando chamou-o para a acareação que deu causa definitiva à separação, sua tristeza com a ruptura do relacionamento, o vazio que não foi maior porque iniciou aquele curso de dança flamenca. Muito estranho! será que sua alma vivia em várias dimensões? estaria conectada com vários tempo-espaço, consciências que apesar da aparente autonomia, estavam ligadas a várias raças, em momentos evolutivos diferentes?

Oziel, vendo que havia passado muito tempo, convidou Lídia para retornar à sala de jantar.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 15/08/2016
Reeditado em 15/08/2016
Código do texto: T5728903
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