O amor acaba, mas nunca morre

Hoje eu passei pela rua dela e por pouco não lembrei que ela morava ali. Mas aí, enquanto eu caminhava observando o chão perdido nos meus pensamentos acabei direcionando o meu olhar para a esquerda e lá estava aquela mesma parede amarela, marcada pelo número 203 que presenciou todas as minhas chegadas felizes e a minha última partida sem sorrisos. Continuei andando, mas admito que olhei umas duas vezes para trás para ver se alguém aparecia no portão. Nada. O único movimento era das motos passando em alta velocidade. Tinha esquecido o quão movimentado era aquela rua. Meu coração até se identificou com toda essa situação atípica.

Juro que não consegui pensar em outra coisa durante o dia, senão nas lembranças que preencheram a minha cabeça depois que dobrei a esquina. E a conclusão que eu cheguei é que, querendo ou não, foi ela o meu grande amor. E ouso dizer que vai continuar sendo. Mesmo com essa nossa distância. Mesmo sem nenhum diálogo. Mesmo sem poder olhá-la nos olhos. E mesmo sem sermos mais um do outro. E talvez, eu até esteja equivocado, mas acredito que eu também fui o seu grande amor. Do meu jeito meio cabeça dura de ser, mas fui. E sinceramente? No fundo, só nós dois sabemos a falta que fazemos um para o outro.

Porque você sabe, eu pisei na bola, mas eu te amo de verdade. No dia do fim eu li coisas que partiram ao meio meu coração, e posso te confessar? Doeu. As palavras ditas em momentos de perturbação são tão amoladas quanto uma faca. Mas a dor foi porque as palavras não vieram vazias, pelo o contrário, elas estavam cheias de verdades apontando os meus erros e meus passos em falso. Ao final do e-mail chorei. As lágrimas que derramavam por meus olhos não eram só de tristeza, eram também de decepção por mim e por você. As diferenças entre nós a cada dia aumentavam e ao invés de procurar conversar e identificar os erros e apontar as sugestões, constantemente insistia apenas em apontar as falhas e desgastar ainda mais a relação. Como viver no mesmo teto de alguém que só sabe apontar seus erros e suas falhas. Que passa por você e finge que não te ver. Alguém que com frieza finge se importar e não se contentar com nada. Não fez nada além do que a sua obrigação. Alguém que apenas se preocupava em procurar motivos para a cada vez mais me afastar, sem fazer questão nenhuma em enxergar que o melhor caminho seria outro. Mas tem coisas que é melhor deixarmos do jeito que estão. Mesmo sabendo que se o que se foi voltasse, o coração ficaria feliz. É que às vezes, amor não precisa durar para sempre para ser eterno. Ele só precisa ter valido a pena e arrancar sorrisos quando lembrado. E o nosso valeu tanto, que até hoje eu me preocupo se ela está bem. Se está feliz. Se teve um dia difícil. Se está bem de saúde. Essas coisas que só quem gosta de verdade, sente e se preocupa. E se caso me perguntarem se eu a superei, serei honesto e direi que não. Isso não quer dizer que estou mal, sofrendo, ou coisa do tipo. Não superei porque não quero. Pensar nela e no que fomos, me abastece e me faz bem. E tem dias, como hoje, que eu só sei fazer isso. E não tenho vergonha de dizer. Mas também não preciso sair gritando para os quatro cantos do mundo. Aprendi que tem coisas que a gente tem que sentir calado, quieto, só nós e nós mesmos. Porque na nossa cabeça, existem coisas que só a gente entende.

Meu carinho, admiração e respeito por ela, são imensos. O nosso amor não foi um para sempre, mas foi um para lembrar por toda a vida.

De vez em quando, ainda ouço aquela nossa música. Hoje ela tem cara de antiga, mas tem um gosto tão novo e bom de nós dois que chega a me arrancar uns arrepios quando me vem na cabeça o nosso refrão (levanta a mão) “Casa comigo, só eu sei te fazer feliz” “Se eu deixei de ver sentido no que a gente tem vivido... Perdoa”. E, sempre quando, do nada, me ponho a cantarolar, me surge uma dúvida vaga: será que ela também ainda ouve? E se ouve, será que também se lembra da gente? Ou será que conseguiu desassociar a letra que tanto descrevia aquele nosso tempo juntos tão felizes? Não sei, talvez... A única certeza que eu tenho hoje à respeito disso é que, música quando declarada a alguém, tem o poder de imortalizar a pessoa na sua vida. Porque ela passa habitar para sempre na caverna das suas lembranças... Bastam duas notas e um filme todo se refaz na sua cabeça.

E a vida continua. E como ela mesma disse no e-mail enviado, o melhor é abrir o caminho para conhecermos novas pessoas, novas histórias, novos amores e novas lembranças boas. Mas a verdade é uma só: sempre vai existir uma pessoa que a gente jamais vai deixar de gostar. Podem passar mil anos, mas em todos os dias em que encontrá-la de novo, o meu peito vai bater forte e o sorriso vai decorar o seu rosto. Porque amor é isso. É acabar, mas nunca morrer.

Eu te amo...