Claire & Stewart

Capítulo 3
 
   Passei dois dias na casa de meus pais, era bom poder revê-los e matar a saudade de estar por lá. Eles moram em Nova Orleans, na Louisiana, o que significa uma viagem de duzentas e seis milhas. Ainda lembro de grande parte dos momentos felizes, fosse com minhas velhas bonecas na sala de estar ou no balanço que ainda perdurava no quintal.
   Meu pai sempre foi um homem bastante ocupado, vivia no escritório da empresa ou então com o telefone pendurado em seu ouvido. Aquela situação desestabilizou o casamento deles, o que fez com que minha mãe pedisse o divórcio cinco anos após toda aquela rotina se iniciar. Por sorte, ele conseguiu mudar.
   Em meio àquela situação de discussões e reparos, cresci com algumas dificuldades em me socializar, porém, tudo mudou quando terminei os estudos e finalmente consegui me libertar. Meus pais acertaram-se e voltaram a ser felizes, talvez toda aquela época tenha realmente sido proveitosa para ambos, mas ao mesmo tempo fora desgastante demais para mim.
   Tive tempo de rever Catherine, minha amiga de infância, conversamos muito pouco nos últimos anos. Mas, tudo parecia como no passado, sempre o mesmo entusiasmo e disposição. Ali percebi como realmente sentia falta de algumas coisas do passado, principalmente do tempo livre.
   Stewart me ligou naquela tarde, não conversamos como gostaria, mas sabia que precisava dar atenção a meus pais. Minha mãe parecia entender que alguém estava mexendo com minha cabeça, talvez seja um daqueles poderes que toda mãe possuí. Mas não era a hora de contar sobre ele, ainda não.
   Outra lembrança inevitável era o clima, logo começou a chover e várias tardes me remeteram a memória, aquele cheirinho de areia molhada, os relâmpagos fazendo o céu brilhar, por mais medo que pudesse ter, adorava aquela sensação de ter o coração a disparar.
   Nunca gostei de me despedir, mas já era hora de voltar para casa. Minha mãe abraçou-me e pediu para que retornasse logo, meu pai, um pouco mais reservado, apenas olhou-me e disse até logo.
   Não gosto muito de viajar de ônibus, porém, como não gosto muito de dirigir, é a melhor solução. Também por poder aproveitar as paisagens, é uma mania um pouco peculiar. Passei alguns anos pensando em ser fotógrafa, mas, não tenho o talento necessário, observar não é o mesmo que saber registrar.
   Minha cama foi o primeiro móvel que dei atenção ao chegar, tirei os sapatos e me despi, e aquela sensação de poder sentir o conforto por todo o corpo retornava. Não lembro ao certo o que sonhei, mas algo envolvia Stewart por ali, talvez estivesse apenas me acariciando ou, bem, melhor não revelar isto.

 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 04/01/2017
Reeditado em 26/02/2017
Código do texto: T5872331
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