LOVE

Zita sentiu o braço de Nuno sobre si e aos poucos foi acordando. Inicialmente, num estado de profunda letargia, quase não sabia onde estava. Aos poucos foi recordando a viagem que a trouxera com ele até Amesterdão, num fim-de-semana prolongado. A chegada ao aeroporto de Schiphol, a instalação no NH Grand Hotel Krasnapolsky, os passeios que dera com ele a pé, visitando os museus mais conhecidos, deambulando pelas ruas por onde a bicicleta era rainha, Nuno sempre lhe dando a mão, cuidando dela com carinho, abraçando-a e beijando-a ao de leve quando mudavam de direção na encruzilhada de ruas da cidade.

Os canais davam a Amesterdão um encanto típico. Já antes, fosse Aveiro ou Veneza, a água serpenteando por entre os blocos habitacionais sempre a havia seduzido.

Nuno… Conhecia-o há seis meses e tinha sido a melhor surpresa da sua vida. Trabalhavam em diferentes empresas, mas situadas no mesmo edifício, com dois andares de separação. Por isso, acabaram por se conhecer. De uma circunstância fortuita, travara contacto com ele e a aproximação, natural e muito diferente dos outros que haviam passado na sua vida, fizeram-lhe entender que aquele era especial. Desde logo a gentileza, a forma simples como efetuava os mais pequenos gestos, a preocupação que manifestava com ela, carinhosamente. E o seu olhar… Fora o seu olhar, aqueles olhos verdes repuxados que a haviam definitivamente prendido… Não lhe saíram do pensamento nos primeiros dias após o seu encontro inicial. Assim, naturalmente, a paixão, qual rastilho que acende de súbito levou-os a um hotel num fim de tarde. Louca paixão essa, que lhes tirou a fome de comer, em vez disso quase se devoraram numa louca vertigem de lascívia… Zita sentira-se adolescente, apesar de já ter um pouco mais de quarenta anos. Ele fez-lhe descobrir novas sensações, sem nunca terem inovado muito. Era o jeito de Nuno, a envolvência dele, tal como um polvo que a deixava, após algum tempo, tomada de forte adrenalina, a tremer como se tivesse malária.

Os dias foram passando e quando diariamente se despediam, tal como ele, Zita sentia uma mágoa imensa por essa curta separação. Eram livres, ele demonstrou-o com ampla sinceridade. Nesse aspeto Zita procedeu sempre com cautela pois já tinha vivido uma amarga experiência com o namorado anterior, que afinal tinha família, dois filhos e sogra em casa… Sorriu perante a situação… Agora podia fazê-lo mas na altura não achara graça nenhuma. Caíra em depressão e demorara a esquecer o assunto. E então, passados três meses, Nuno aparecera. Quando teve a absoluta certeza que ele não lhe traria certezas desagradáveis, baixou a guarda e entregou-se.

Agora estava ali, deitada com ele, sentindo o seu calor e o hálito quente do amado na nuca, seu suave respirar, não roncos que há algum tempo antes a haviam exasperado e espantado o sono.

Ele era o tal, tinha a certeza. E também estava certa que o amor, vivido na sua plenitude e a par dos filhos, é a melhor experiência que se pode ter.

Não, não o deixaria sumir. Ele era, sem dúvida, o amor da sua vida e essa felicidade queria tê-la para sempre. De forma egoísta. Merecia-o.

Ajeitou-se mais, sentindo na íntegra o corpo do amante e fechou os olhos, feliz. Ainda nem sequer tinha amanhecido…

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 23/01/2017
Reeditado em 23/01/2017
Código do texto: T5890638
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