Despedida.

- Saia já daqui! Foi aos berros que Pâmela desferiu um forte tapa na cara de Humberto.

Sem saber direito o que acontecia e sem querer detalhes de tamanha raiva, ele saiu lentamente do carro estacionado no 2º andar do Shopping. Não olhou para trás e nem fez sinal que poderia retornar ao carro. Era o adeus de Humberto. Depois de tantas palavras de carinho, tantos presentes, tantas noites em claro imaginando como seria o pedido de casamento, aquele tapa sinalizava o fim. Pâmela chorava copiosamente, não conseguia dar partida no carro. Parece que tinha esquecido que precisava voltar pra casa pra fazer o jantar para as crianças. Ela apenas chorava. Procurando nas lágrimas uma gota de arrependimento, mas não encontrou. Secou-as com a ponta da blusa, deixando marcas de batom em várias partes. É o fim! Lamentou em voz baixa.

Passado alguns minutos, Pâmela voltou para o lado e percebeu que era real a ida de Humberto. Ligou o carro e seguiu seu caminho, para casa, para onde a felicidade a esperava pacientemente. Seus filhos jogavam vídeo-game e nem notaram que a mãe voltara cabisbaixa.

Há dois anos, Pâmela ficara viúva. Se marido trabalhava em uma plataforma de exploração quando por um descuido caiu no mar e foi engolido, seu corpo foi encontrado horas depois preso a redes espalhadas em volta da estrutura. Foi um choque pra família. Foram meses de luto até que Humberto, um homem de aproximadamente 40 anos a conheceu pela internet. Ele parecia gentil, sorria a todo instantes, tinha uma voz serena, máscula e isso despertou em Pâmela a vontade de viver novamente um grande amor.

Marcou um encontro em um restaurante, o filme era o programa a seguir e terminaria numa despedida cordial, pois aquela era a primeira vez de muitas outras que viriam.

Humberto cumprimentou Pâmela com um forte aperto de mão, um beijo no rosto do lado direito e um leve afago nos longos cabelos, que estavam presos por um laço vermelho.

- Bonito laço! Era o primeiro de muitos elogios a Pâmela. Ela sorriu e mostrou encantamento com aquele elogio inesperado. Fazia tempo que ninguém a elogiava. Fazia tempo que ela não sorria pra ninguém. Ela estava realmente interessada naquele modelo de homem que ali se apresentava.

- Podemos bater um papo antes do filme começar? Você bebe?

- Não! Nunca bebi! Mas sempre há a primeira vez.

Assim, Pâmela e Humberto trocavam olhares e falavam de suas vidas, seus sonhos, suas decepções. Cada minuto passado parecia dias de convivência. Pâmela estava gostando de alguém depois de tanto tempo.

Humberto era um homem solteiro, por opção. Tinha conhecido tantas mulheres que chegou a conclusão que era melhor viver solteiro, pulando de galho em galho, vivendo um dia de cada vez. Não queria “amarrar o burro na sombra”. Aquilo seria um tédio. Às vezes mantinha um relacionamento conjugal com mais de uma mulher. Gostava de ser cobiçado, disputado. Aquilo lhe dava prazer.

Quando conheceu Pâmela, esperava apenas que fosse mais uma em sua interminável lista. Pensou em manter a relação por umas duas semanas ou mais, pois Pâmela era uma mulher prendada, independente, segura. Criava os dois filhos sozinhos desde a morte do marido. Quem sabe, não estaria ali a mulher que prenderia Humberto de uma vez por toda. As saídas ficaram mais freqüentes, os bate-papos “ on line” eram diários e assim começaram a namorar.

No dia das crianças, Humberto pediu a Pâmela que entregasse os presentes às crianças, seria uma forma de mostrar a Pâmela que a queria bem e a seus filhos. Inesperadamente, Pâmela o convidou a entregar os presentes pessoalmente e aproveitar para lhes apresentar como o novo namorado da mamãe. –Sério? Perguntou espantado, pois esperava por este momento há alguns dias.

Apresentado aos filhos, oficialmente eram namorados. E assim passaram os meses.

Pâmela estava tão feliz com o novo relacionamento que decidiu compartilhar a felicidade com as amigas e numa tarde, em casa, contou para os amigos presentes no chá que fizera em casa o motivo de tanta felicidade. Falava de Humberto com tanta euforia, descrevera este como o escolhido a ocupar o vazio deixado pelo marido a tanto tempo. Contava como ele era carioso, calmo e como tratava bem as crianças. Humberto era o sonho de toda mulher solteira, e algumas casadas também.

O que Pâmela não sabia é que Humberto, antes de firmar compromisso, saía com outras mulheres e algumas delas estavam justamente sentadas a mesa com Pâmela naquela tarde. Sabrina, uma morena magra, alta e de cabelos curtos era só raiva por dentro, pois era a antiga namorada de Humberto e que foi abandonado por causa de Pâmela.

Sabrina esperou que todas as amigas fossem embora para ficar a sós com Pâmela e confidenciou o segredo. Que conhecia Humberto e que ainda mantinha um relacionamento com ele. Não falou toda a verdade e deixou Pâmela chorando pelos cantos.

Desesperada, ligou para Humberto e marcou um encontro no Shopping perto do seu trabalho, esperaria assim que terminasse o expediente.

-O que meu amor está preparando pra mim? Sorriu ao telefone.

Ela silenciou-se, desligou o telefone e esperou pacientemente a hora do encontro.

Já dentro do carro, Pâmela chorava e não conseguia dizer para Humberto o que ouviu da amiga, não deu chance pra que ele explicasse, que contasse sua versão. Sabrina tinha sido uma namorada de Humberto até que ele conheceu Pâmela e resolveu parar com tudo.

Ela desferiu um tapa na cara de Humberto e o mandou embora, deixando sua felicidade partir sem ouvir o porquê.

Depois disso, Pâmela voltou pra casa, preparou o jantar, deitou na cama e chorou.

Henrique de Paula
Enviado por Henrique de Paula em 30/01/2017
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