Desculpa se te amo - Parte 4.

Era quase 14:00 quando Paulo acordou. Assim que levantou a cabeça na cama, sentiu ela doer como se tivesse levado um monte de socos. Olhou ao seu redor e percebeu que estava no quarto, apesar de não lembrar como tinha chego ali. Se levantou bocejando e foi tomar banho. A água gelada levou todo peso do corpo. Quando saiu se olhou no espelho do guarda-roupa. Estava acabado. Em duas semanas havia emagrecido muito. Havia olheiras em seu rosto, parecia um vampiro.

Mas não havia nada que ele pudesse fazer, o corpo era apenas um reflexo do seu interior. Havia perdido as razões de viver. E não se importava mais com nada. Só queria ficar ali, dentro de casa, vivendo na solidão. Não sentia vontade de fazer mais nada, a não ser beber e chorar.

Depois de vestir uma bermuda, ele desceu descalço até a cozinha. A geladeira estava vazia. Pegou um pacote de bolacha já aberto na mesa e foi para a sala. Se jogou no sofá e ligou a televisão. Estava sendo assim todos os dias.

Alguns minutos depois, ouviu a campainha tocar. Se assustou, porque não esperava ninguém. Sua amiga Angela estava viajando. Com o corpo mole ele foi até a porta e abriu. Quando viu Ronaldo na porta ele se assustou e deixou a bolacha cair no chão. Ele estava sério, todo de social e óculos escuros.

- Ronaldo, o que faz aqui?

- Estou em horário de almoço, podemos conversar?

- Claro. Claro, pode entrar.

Deixou ele passar e fechou a porta. Então correu e jogou algumas bagunças de cima do sofá no chão. Ronaldo se sentou e olhou ao redor, Paulo continuou em pé.

- Escuta, eu estive aqui hoje mais cedo. Você não viu porque estava caído de bêbado na cama.

- Como entrou aqui?

- A chave extra que você me deu.

- Pensei que tivesse jogado ela fora.

- Não joguei. Mas nem lembrava que tinha.

- Não precisa fingir que se importa comigo.

Paulo andou em direção a cozinha. Ronaldo o seguiu e segurou seu braço.

- Você não bebe Paulo. Precisa parar. Só vai te fazer mau.

- Pelo menos faz eu esquecer o que sinto.

- Está funcionando?

- Temporariamente, sim.

Ronaldo respirou fundo.

- Olha, eu sinto muito tá? Eu sei que você não escolheu sentir isso. Entendo que você não me contou porque teve medo, e sinto muito pela minha reação. Eu só não sabia o que fazer. Veio como uma bomba para mim, e eu não consegui segurar.

Paulo sentia o aperto do braço dele e olhava para o teto com lágrimas nos olhos. Então se virou e se jogou em seu abraço, como uma criança no colo de um adulto. Ali ele chorou muito, como se todo o choro das últimas semanas fosse nada. Ronaldo o abraçou com força e o deixou ali sem dizer nada. Até que alguns minutos depois ele se soltou.

- Desculpa, me desculpa por tudo. Você tem razão. Eu fui um canalha por ter ido para cama como você. Desculpa por ter jogado essa bomba em seu colo.

- Tudo bem. Você tinha razão. Eu não impedi você. Então tenho culpa também.

Eles sorriram um para o outro e foram até a cozinha.

- Você disse que está em horário de almoço. Vou fazer algo para comermos.

Paulo abriu o armário, estava vazio. Apenas restos de comida. Ele se virou para o amigo e os dois riram juntos.

- Acho melhor você pedir um almoço.

Ronaldo sorriu e ligou para um restaurante. Os dois almoçaram e colocaram todo o papo em dia. Paulo estava feliz demais por tê-lo de volta, mesmo que tivesse voltado como amigo. Ele poderia seguir em frente agora sem medo. Com a esperança de que tudo voltaria a ser como antes. Ronaldo por sua vez ainda se sentia confuso quanto aos sentimentos que nutria por Paulo, sabia que ele agora era mais do que amigo. Mas não conseguia admitir, e tão pouco queria que eles ficassem mais separados. Tinham muita coisa a viver juntos. E isso era o que importava.

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Um mês depois...

- Sabe, já faz um mês que estamos ficando, o que acha de namorar comigo?

Paulo estava deitado na cama quando ouviu Leandro falando do banheiro. Ele estava escovando os dentes. Surpreso não soube o que responder. Até que ele saiu do banheiro só de cueca e se deitou ao seu lado.

- Não vai me responder?

- Você quer mesmo namorar comigo?

- Porque não?

- Não sei. Pensei que você não quisesse nada sério. Foi o que disse quando nos conhecemos.

- Eu sempre digo isso. Porque a maioria dos caras não querem mesmo nada sério. Eu sempre espero conhecer melhor a pessoa que estou ficando, para sugerir algo. Então...o que me diz?

Paulo olhou para ele sorrindo. Como era lindo, e acima de tudo encantador. Aquele sorriso o deixava tão feliz, tão sem reação. Como não se sentia há tempos. Mesmo que ainda amasse Ronaldo, ele havia decidido dar uma chance a vida. E acabou conhecendo Leandro, o homem que fazia de tudo para agradá-lo. Para vê-lo feliz. Foi pensando nisso que ele o beijou com força.

- Isso é um sim?

- Sim. Eu aceito namorar com você.

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- Ele pediu você em namoro?

- Pediu.

- E o que você disse?

- Sim é claro.

Ronaldo parou com uma camiseta na mão, enquanto Paulo começou a pegar outras na arara mais próxima. Eles estavam no Shopping fazendo compras. Fazia algum tempo que Paulo não comprava roupas novas e precisava comprar algo para o aniversário do Leandro dali a cinco dias.

- Mas vocês estão ficando a um mês.

- Eu sei disso. Mas eu estou gostando dele. Ele gosta de mim, então vamos tentar.

Ronaldo ainda estava em transe com a notícia. Parecia assustado. Paulo se aproximou dele sorrindo e colocou uma camiseta em seu peito.

- Acho que essa fica linda em você. Vou te dar de presente, faz tempo que não te dou nada.

Vendo que ele continuava quieto e com os olhos desfocados. Paulo perguntou:

- Você tá bem? Não está tendo sonhos de novo né?

- Não. Desculpa, e que eu estava meio distraído. O que você disse?

- Nossa Ronaldo, as vezes você me assusta. Mas enfim. Eu quero fazer um jantar para comemorar o aniversário do Leandro, ele não gosta muito de baladas. Pensei em fazermos um encontro de casais lá em casa. Você podia levar a Jéssica.

- Claro. Por mim tudo bem. Que dia?

- Sábado. Ele folga no domingo, então podem ir para minha casa de noite. Vou fazer um bolo de chocolate, ele gosta muito. E você também né?

- Sim.

Ronaldo passou o resto das compras sem falar quase nada. Comprou poucas peças e quase não respondeu Paulo no caminho de volta. Depois de deixa-lo em casa ele foi em silêncio para casa. Encontrou Jéssica na sala mexendo no notebook.

- Amor, boa noite. Como foi o trabalho?

- Bem. Fui comprar roupas com o Paulo.

- Posso ver o que você comprou?

Ronaldo deixou as sacolas em cima da mesa e se sentou no sofá. Enquanto a mulher mexia nas sacolas ele estava com os braços cruzados pensando sobre a conversa que teve mais cedo com Paulo. Porque estava incomodado com o namoro do amigo? Não devia estar feliz por ele ter seguido em frente? Mas porque não estava? Mais uma vez a confusão estava tomando conta de seu intimo. Como se nunca tivesse saído dali.

- Caramba, qualquer dia eu vou chamar o Paulo para fazer compras comigo. Ninguém combina roupas como ele.

- Ele nos chamou para casa dele no sábado. Vai fazer um jantar para comemorar o aniversário do namorado.

- Que bom que ele arrumou alguém. Fico feliz por isso. O Leandro e muito legal.

- Como assim? Você conhece ele?

- Sim, o Paulo veio aqui com ele esses dias. Chamei eles para almoçar comigo.

Ficou com mais raiva, mas disfarçou. Parecia que todo mundo gostava desse tal de Leandro, menos ele. Ainda não tinham se conhecido porque Ronaldo havia viajado pelo trabalho duas semanas. Mas não estava com nenhum pouco de vontade. Só não conseguia entender porquê.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 14/02/2017
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