Desculpa se te amo - Parte 5.

No sábado Ronaldo e Jéssica bateram na porta de Paulo. Jéssica estava toda feliz, enquanto Ronaldo se sentia inquieto, como se não quisesse estar ali. Paulo abriu a porta usando um avental. Sorriu para os dois e depois dos cumprimentos deixou eles entrarem.

- Podem entrar, o Leandro acabou de sair do trabalho, já deve estar chegando.

- Trouxemos um presente para ele, será que ele gosta de ganhar roupas? - Disse Jéssica com uma sacola na mão.

- Claro, eu dei duas camisetas para ele de presente.

Os dois se sentaram no sofá e Paulo abriu uma garrafa de vinho. Enquanto conversavam, Leandro chegou todo afobado.

- Desculpem o atraso, teve um acidente na BR e acabei demorando um pouco.

Ele beijou Paulo e depois cumprimentou os outros. Por último Ronaldo para quem ele sorriu feliz.

- E um prazer finalmente conhecer o melhor amigo do Paulo. Ele fala muito bem de você.

- E um prazer conhecê-lo também.

Ronaldo se sentou com Leandro e começaram a conversar, Paulo olhou para Jéssica e os dois foram para a cozinha.

- O que você está fazendo para o jantar?

- Strogonoff, e o prato preferido do Leandro.

- Olha, ganhando o boy pelo estômago. Como está indo o namoro?

- Nossa, muito bem. Ele me faz feliz demais. E tem me ajudado a esquecer alguns problemas.

- Queria eu ajudar o Ronaldo a esquecer os problemas dele.

- Como assim? Ele ainda tem tido pesadelos?

- Não. Antes fosse isso. Ele está frio, não me procura mais. Não quer me contar o que está acontecendo. Várias vezes eu encontrei ele perdido em pensamentos. Estou começando a achar que ele não gosta mais de mim.

- Não. Duvido que seja isso.

- Você podia conversar com ele né? Ver o que está acontecendo, são melhores amigos.

- Claro, eu converso sim. Pode deixar.

Paulo serviu o jantar e começou a prestar atenção em Ronaldo, ele realmente estava diferente. Não sorria mais como antes, pegava as conversas no meio e divagava muito. E o que mais chamou a atenção era o olhar dele para Leandro. Conhecia muito bem o amigo. Sabia que era um olhar de rejeição. Ele não gostava de seu namorado. E Paulo não tinha ideia do porquê.

Quando terminaram o jantar, Jéssica se ofereceu para ajudar na limpeza da cozinha, mas Paulo a cortou com um piscar de olhos.

- Não, Jéssica, o Ronaldo me ajuda né?

Sem prestar atenção, Ronaldo o seguiu para a cozinha, Jéssica pegou Leandro pelo braço e foram para os jardim nos fundos da casa. Colocando os pratos na pia, Paulo olhou para o amigo, que já percebendo o tom da futura conversa foi dizendo:

- Nem vem Paulo, não estou afim. Sabia que a Jéssica ia falar com você. Não quero falar sobre isso.

- Então sabe que ela está certa. Eu estou vendo como você anda ultimamente. Independente de qualquer coisa. Ele não tem culpa disso. Ela está sentindo sua indiferença. Ela não precisa passar por isso.

Ronaldo colocou a bebida que tinha na mão em cima da mesa.

- O que quer que eu faça?

- Não sei, pode começar me contando porque está assim. E o porquê você não gostou do Leandro, vi no seu olhar o modo como olha para ele.

- Como eu queria que eu estivesse? Um dia você diz que me ama, no outro está de beijos e abraços com outro cara. E namorando com ele.

Paulo ficou surpreso com as palavras. Era algo que não esperava ouvir.

- Pera, o problema sou eu? Meu namoro com o Leandro?

- Não é nada ok? Eu estou bem. Pode deixar que vou conversar com a Jéssica, pedir desculpas. Eu estava doente esse dias, mas já estou melhor. Satisfeito agora?

Paulo olhou para ele desconfiado, sabia que estava mentindo. Mas achou melhor não insistir. Naquele momento, Jéssica entrou na cozinha sorrindo.

- Desculpa interromper, mas precisamos ir Ronaldo. Amanhã eu levanto cedo para o trabalho.

- Claro, precisamos mesmo. Até a próxima Paulo.

Sem dizer mais nada ele saiu da cozinha. Jéssica olhou se ele tinha saído e perguntou para Paulo:

- E ai, ele te disse alguma coisa?

- Nada, só que estava se sentindo mau. Mas fiz ele prometer que vai te tratar melhor.

- Obrigado mesmo, sabia que ele ia te ouvir.

Eles se abraçaram e ela saiu feliz, assim que a porta se fechou, Leandro entrou sorrindo.

- Muito legal essa Jéssica, gostei muito dela. Tentei conversar com o Ronaldo, mas acho que ele não gostou de mim.

- Bobagem, ele só não está bem esses dias.

Leandro se aproximou e deu um beijo em sua nuca.

- Deixa essa louça para mais tarde, vamos lá em cima comemorar meu aniversário.

- Olha, alguém está bem animado.

- Mais do que você imagina.

Sorrindo eles subiram de mãos dadas para o quarto.

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A recepcionista do prédio em que Erick trabalhava estava em pé e muito nervosa quando ele entrou.

- Dr. Graças a Deus você chegou.

- O que houve Patricia?

- Tem um homem na sua sala, disse que precisa falar muito com você, ele não quis esperar aqui fora.

- Quem é?

- O nome dele e Ronaldo, disse que o Sr. o conhecia.

- Tudo bem, eu sei quem é. Relaxa, vai beber alguma coisa, eu atendo ele.

Ela saiu nervosa em direção a copa e Erick entrou na sala atento. Ronaldo estava sentado no sofá em frente para a janela. Estava muito nervoso e agitado.

- Ronaldo, o que faz aqui tão cedo?

Ele se levantou e estendeu a mão que tremia.

- Desculpa a invasão. E que eu precisava muito falar com você e não aguentei esperar.

Erick vestiu o jaleco branco, pegou a prancheta em cima da mesa e se sentou de frente para Ronaldo.

- Você me parece muito nervoso. O que houve?

Do nada Ronaldo começou a chorar. Um choro de soluço, que ele parecia ter guardado por dias dentro de si. Erick esperou em silêncio, quando viu que ele estava parando, estendeu um pacote de lenços. Ele secou os olhos e respirou fundo.

- Quando eu era adolescente, lá para os 14 anos. Eu via os meus amigos com namoradas e tinha inveja deles. Porque eu também queria uma. Mas nunca conseguia. Tive pequenas paqueras, mas nada que ficasse marcado. Tudo isso mudou anos depois quando eu conheci a Jéssica na faculdade. Me apaixonei a primeira vista. E quando começamos a namorar. Percebi que ela tinha tudo que eu esperava, tudo que eu queria.

Erick escutava atento. Ronaldo deu uma pausa e continuou.

- No mesmo ano que conheci a Jéssica, eu conheci o Paulo. E também foi amor a primeira vista. Mas claro, um amor de amigo. Eu nunca tinha encontrado alguém tão parecido comigo. Mesmos defeitos, mesmas qualidades. Mesmos objetivos. Não tinha um dia que não nos falássemos, e dormíamos tarde todos os dias falando de tudo, ou jogando video-game. Quer dizer, eu ficava jogando enquanto ele ficava deitado do meu lado, ou até mesmo nas minhas pernas, enquanto eu passava todos os níveis.

Ronaldo sorriu. Como se lembrasse de algo bom.

- Quando ele me contou que era Gay, meses depois da nossa amizade começar. Nada mudou entre nós. Pelo contrário, eu comecei a me aproximar mais ainda dele. Porque ele sempre foi carente. Sempre precisava de um ombro amigo. De alguém que o abraçasse a todo momento. E ele tinha isso em mim. Ele se tornou um irmão meses mais novo do que eu. Alguém por quem eu estava disposto a fazer tudo.

Naquele momento ele ficou em silêncio pelo maior tempo até então. Erick o olhou no fundo dos olhos e perguntou:

- E agora, você ainda sente o mesmo por ele?

- Faz uma semana que eu fui na casa dele. Ele está namorando agora. Um cara bonito, fiel, com todas as qualidades que ele sempre quis. Ele só fala nisso. Antes nós saiamos e ele falava de nós, da nossa amizade. De tudo um pouco. Agora ele só sabe falar em como ele aquele cara o faz feliz, dos planos para um futuro com ele.

Erick percebeu a expressão no rosto de Ronaldo mudar para raiva, percebeu seu punho fechado na poltrona. Mas não disse nada.

- Porque você não gosta dele? Ele faz seu amigo feliz, e segundo você mesmo me disse. E isso que você quer.

- Não quero que ele se arrependa. O Paulo não conhece as pessoas como eu. Ele se ilude, acredita fácil demais no que dizem para ele. E se ele se magoar? Não quero que ele sofra por causa dos outros.

- Mas isso e um risco que ele corre com qualquer homem hoje. Todos nós somos propensos a sofrer por amor. A sermos magoados.

Ronaldo não disse nada.

- Já parou para pensar Ronaldo, que essa raiva que sente não e pelo namorado do Paulo, e sim por ele?

- Não, eu não sinto raiva do Paulo. Não tenho motivos para isso.

- Ele disse que te amava, e um mês depois está com outro, dizendo que o ama. Sendo feliz. Isso é um bom motivo para sentir raiva dele.

- Não posso sentir raiva do Paulo por ele me amar se não posso corresponder. Eu não amo ele como ele me ama.

- Eu não estaria tão certo disso.

- Como assim?

Erick colocou a prancheta de lado e cruzou as mãos próximas ao rosto.

- A maneira como você falou do Paulo, como descreveu a sua relação com ele. Os momentos que passaram juntos. Parecia tudo, menos amizade.

Ronaldo se levantou e foi até a janela. Não respondeu.

- Sabe, não precisa ser um psicólogo formado para entender nas entrelinhas. Você ama o Paulo, sempre amou. E a única coisa que o impede de aceitar isso, e o seu bloqueio interno. A não aceitação do sentimento. Sim porque, que eu saiba, vocês já fizeram sexo. Sexo esse que eu acredito, só serviu para liberar o que você já sentia por ele. Porque se você comparar o que disse sobre a Jéssica, e o que disse sobre o Paulo. E ele que você ama, e não ela.

Ronaldo se virou, havia uma lágrima descendo em seu olhar. Erick se levantou e foi até ele.

- Você teve que ver seu melhor amigo nos braços de outro. Para aceitar que o ama. Para entender, que e com ele que você quer estar.

- Não doutor. Eu amo a Jéssica. Eu não sou Gay.

- Não disse que você é. Eu disse apenas que você ama o Paulo. Você não precisa se rotular Ronaldo, e apenas um homem, apaixonado por outro.

- Mas eu estou casado com a Jéssica, e com ela que eu quero ficar.

- Isso e o que você achava que queria. E o que eu duvido que ainda queira. Precisa pensar no que e melhor para você Ronaldo. Viver a história do que me parece ser um grande amor. Ou continuar casado com Jéssica, e viver o resto da vida confuso, preso a um sentimento que você insiste em não aceitar.

Ronaldo deixou os ombros caírem de lado, e desabou de novo. Erick se aproximou e o abraçou. Deixou ele ali alguns minutos sem dizerem nada. Quando Ronaldo parou e olhou para o médico. Ele sorriu.

- O que eu faço doutor?

- Converse com o Paulo, explique o que sente. Mas acima de tudo. Converse com a Jéssica, ela parece gostar muito de você. E que mais com isso. Precisa ser sincero com ela.

- Você tem razão. Obrigado, muito obrigado mesmo.

Ele saiu em disparada do escritório. Erick sorriu ao perceber que tinha ajudado. Nada melhor do que ver seu trabalho recompensado.

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CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 15/02/2017
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