LEMBRANÇAS DE UM INVERNO

Chove forte lá fora, o estrondo dos trovões ecoa pela casa vazia. Enquanto toco uma música no violão, encho-me de saudades e leio suas poesias. Olho pela janela e vejo as luzes da cidade se apagarem aos clarões dos relâmpagos. Penso em você, que veio a ser por muito tempo a razão de minha admiração, mas assim como a claridade seu brilho se afastou com o pôr do sol. Passei então um tempo, tentando me mostrar o teu modo de ver o céu, de ver o mar. Assim fiquei apenas na sua incompreensão por querer te ensinar, o poder devastador de um olhar (que me levou a lugares secretos de minha infância, me trouxe a linda canção da vida por um pouco mais que um segundo) e assim me tornei um pouco mais que eu, porém continuei na espera da fusão de nossas almas e isso nunca aconteceu, você se tornou um espaço de minha existência na eternidade de minhas lembranças.

As notas dessa melodia ainda reverberam em minha mente e me lembram sempre, que a luz do sol que se faz presente, após o abrir do céu depois da chuva, aquece e a leva de novo as alturas redistribuindo em pingos, que mais parecem estrelas cadentes. Esses pingos são como a paixão que caminha dos sentidos para o coração no compasso invertido do fluxo sangüíneo, alimentada por profundas emoções essa chuva de estrelas que rasgam o manto do céu em direção a terra firme, tornando-se poeira, formam em sua caminhada rios de lágrimas (um lamento pelas vidas dissipadas) , formam também a neblina que molha teus cabelos e teu rosto, que agora vejo apenas na lembrança do teu olhar, refletido pela linda canção de um amor, nas águas passadas do tempo. Separados por uma ilha que se lançou ao mar, um recife de coral isolado em sua solidão, prosseguimos paro o oceano de sentimentos no imo de nossos corações, na certeza de um dia achar algo além da ilusão.