LORENNA

Numa pequena cidade do interior havia uma menina, que gostava de subir uma montanha nas proximidades de sua casa. Fazia essa tarefa todos os dias no final da tarde, adorava contemplar o pôr do sol pensando nas possibilidades da vida. Sentia-se jovem e bonita, o vento acariciava seus cabelos negros e compridos, seus olhos paralisavam marejados com o espetáculo que o céu dava a ela todos os dias gratuitamente. Mas não estava por esperar este momento e sim ansiava pela aparição da primeira estrela na abóbada celeste.

A estrela logo apareceu no céu iluminado, neste momento lembrou da noite passada, queria saber porque tantas perguntas vieram visitá-la impedindo seus sonhos. Costumava sonhar várias vezes por noite e nessa não havia sonhado, mas lembrado. Queria saber se isso se repetiria nas noites seguintes, se a insônia a libertaria. Olhou então para o céu nu, exposto a todos sem timidez e neste momento viu uma estrela mudando sem dizer porquê, apenas mudando.- As estrelas não precisam explicar nada – pensou – seu ato as explica.

Levantou-se e seus cabelos voaram com o vento, ela queria imitar a estrela, queria neste momento poder contemplar toda a terra. Observou tudo ao seu redor, e seus olhos se encheram com o céu rajado de cores vermelhas, uma lágrima caiu do seu rosto chegando ao chão, como uma bomba no silêncio, como uma supernova que se expande, lavando o plano que um dia fora pisado pela presença dele. Tudo em pouco tempo estaria em trevas. Ela agradeceu ao céu pelo dia antes de descer da montanha a caminho de casa.

Ao chegar à porta que dava acesso a sala, ela reparou que não mais a via como uma passagem, mas sim como um objeto que fecha um ambiente dentro de si mesmo, para que sua essência não transborde: - Prefiro a janela do quarto – pensou – de onde posso olhar o céu e pensar em você, dessa forma sinto inveja das estrelas lá em cima muitas delas nem existem e eu ainda vejo sua luz, desta forma elas também ainda vêem a tua presença neste plano.

Ela queria ser uma estrela, para vê-lo mais uma vez, andaria sobre os trovões da inexistência, ficaria ausente em um ambiente para ter uma conversa com ele, para poder abraçá-lo de novo e dizer que ainda sentia aquilo que tinha medo de não sentir por outra pessoa: o amor. Este sentimento que não conhece a morte. Ela queria poder olhar em seus olhos e dizer o quanto o amava, o tempo da vida havia sido curto para isso e por isso ela pinta suas estrelas no coração, para que quando o céu estiver nublado a noite e a porta dos sonhos estiver fechada, a linda lembrança de seus olhos se torne como a lua iluminando as trevas, assim ela caminha cada momento pelo deserto do fundo do mar das suas lembranças.